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Le Monde avalia que Ocidente perdeu a batalha global da informação para Rússia e China

Veículos internacionais russos e chineses ampliam sua influência e desafiam a hegemonia midiática tradicional.

247 – Reportagem publicada pelo jornal francês Le Monde revela um cenário de declínio do Ocidente na disputa pela narrativa global. Segundo a matéria, os Estados Unidos interromperam de forma abrupta as transmissões da Voice of America e cortaram o financiamento de veículos como Radio Free Europe (RFE) e Radio Free Asia, mergulhando a mídia pública internacional do país numa crise sem precedentes. Em contraste, China e Rússia seguem investindo fortemente em suas redes de comunicação global, colhendo frutos em termos de audiência e influência geopolítica.

A reportagem destaca o impacto das decisões tomadas pelo presidente Donald Trump, que classificou os meios de comunicação internacionais dos EUA como “atividades inúteis da burocracia”. No dia seguinte, sua aliada Kari Lake, recém-nomeada chefe da USAGM (Agência dos Estados Unidos para Mídias Globais), anunciou a dissolução das estruturas que coordenavam esses veículos. “Essa agência não pode ser salva”, declarou Lake, decretando o fim de uma era para o soft power midiático estadunidense.

Com isso, transmissões em mais de 50 idiomas foram encerradas. Profissionais da Voice of America foram colocados em licença forçada, enquanto outras redes, como a Middle East Broadcasting Networks, passaram a executar planos de demissão em massa. A Radio Free Asia, antes ativa em nove idiomas além do inglês, praticamente deixou de operar. A própria sede da Radio Free Europe, localizada em Praga, já opera com salas semi-esvaziadas e parte da equipe em regime de suspensão contratual.

A jornalista Alsu Kurmasheva, de origem tártara e nacionalidade americana, que passou nove meses em prisões russas entre 2023 e 2024, comentou à reportagem sobre o “momento depressivo” vivido pela redação. Curiosamente, sua maior preocupação não era sua detenção, nem mesmo os colegas ainda presos, mas sim a “crise existencial” enfrentada pelo veículo diante da falta de apoio institucional.

Esse vácuo na comunicação internacional, antes ocupado majoritariamente pelos Estados Unidos, abre espaço para que países como Rússia e China avancem com suas propostas informativas. Ambos vêm consolidando redes robustas de mídia global, como RT (Russia Today) e CGTN (China Global Television Network), com presença crescente em múltiplos idiomas, cobrindo diversas regiões do mundo e oferecendo leituras alternativas aos modelos ocidentais tradicionais.

Essas redes, amplamente estruturadas e com investimentos sólidos, têm promovido narrativas mais alinhadas com os interesses de um mundo multipolar. Em vez da hegemonia de um discurso único, propõem pluralidade de visões, contribuindo para um debate internacional mais equilibrado e menos centrado em valores exclusivos do Ocidente.

O que a matéria do Le Monde retrata, em última instância, é a perda de protagonismo informativo por parte dos Estados Unidos, enquanto Rússia e China demonstram competência estratégica na construção de uma mídia internacional que reflete suas visões de mundo — hoje cada vez mais reconhecidas e respeitadas em regiões como América Latina, África e Ásia.

A batalha da informação, que outrora teve como palco principal as emissoras ocidentais, agora é travada em múltiplos tabuleiros, onde Rússia e China mostram força, coerência e visão de futuro.

Foto: Xinhua/Ju Peng

FONTE: https://www.brasil247.com/midia/le-monde-avalia-que-ocidente-perdeu-a-batalha-global-da-informacao-para-russia-e-china-mm600e8y