Entidade do setor siderúrgico acionou a Casa Branca para questionar acordo com a chinesa MMG.
247 – O Instituto Americano do Ferro e do Aço (AISI, na sigla em inglês) pediu ao governo de Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, que intervenha junto ao Brasil para questionar a venda dos negócios de níquel da Anglo American para a chinesa MMG.
A movimentação ocorre no contexto da disputa global por minerais críticos e durante consulta pública aberta pelo USTR, agência de comércio dos EUA, sobre práticas brasileiras que poderiam levar à ampliação de sanções econômicas ao país, segundo a coluna de Assis Moreira, do Valor.
Na mensagem enviada ao USTR, a AISI — que representa um setor com produção anual superior a US$ 520 bilhões — afirma que, se a operação avançar, a China ampliará sua influência sobre reservas brasileiras de níquel e, somada ao domínio chinês na Indonésia, aumentará “as vulnerabilidades existentes na cadeia de suprimentos desse mineral crítico”. A entidade defende que “é essencial que o governo do Brasil explore alternativas que preservem a propriedade orientada para o mercado desses ativos estratégicos de níquel e garantam que o acesso futuro a esse mineral crítico permaneça aberto e justo”, escreveu Kevin M. Dempsey, presidente da AISI, no documento obtido pelo Valor.
O acordo anunciado em fevereiro prevê a transferência de dois ativos operacionais de ferroníquel em Goiás — Barro Alto e Codemin (Niquelândia) — e dois projetos de desenvolvimento futuro. O pacote pode alcançar US$ 500 milhões (cerca de R$ 2,7 bilhões). A compradora, MMG Limited, é descrita como companhia australiana controlada pela estatal chinesa China Minmetals Corporation e planeja concluir a transação no terceiro trimestre deste ano.
Para a indústria siderúrgica dos EUA, o níquel é insumo central do aço inoxidável, responsável por aproximadamente 65% da demanda global do metal. A AISI sustenta que as reservas se concentram em poucos países — com Indonésia, Austrália e Brasil entre os principais — e argumenta que investimentos chineses tornaram Pequim um ator dominante na produção indonésia. No Brasil, a Anglo American produziu cerca de 40 mil toneladas de níquel em 2023 e os ativos à venda reúnem mineração e refino integrados.
A pressão do lobby do aço acontece enquanto o USTR investiga “atos, políticas e práticas” no Brasil que, na visão de Washington, afetariam interesses americanos. No documento, a AISI afirma que os EUA já enfrentam “as consequências das políticas e práticas distorcidas do mercado por parte da China e da sua economia dominada pelo Estado, incluindo, em particular, na área dos minerais críticos”, citando “subsídios estatais, financiamento não mercadológico e restrições à exportação”. Para o setor, a compra no Brasil seria mais um passo para “fortalecer ainda mais” o controle chinês sobre o fornecimento global de níquel.
O impasse não se restringe aos EUA. Conforme registrou o Valor, acordos comerciais também foram utilizados por europeus para ampliar o acesso a minerais críticos no Mercosul. E, segundo reportagem da Folha de S.Paulo assinada por André Borges, a transação entre Anglo e MMG deve ser analisada pelo Cade e pela Comissão Europeia após a holandesa Corex Holding alegar ter apresentado oferta mais alta e apontar concentração de mercado e supostas negociações irregulares. O contencioso adiciona incerteza regulatória a um negócio que, por si só, já está inserido na disputa geopolítica por cadeias de suprimento de metais estratégicos.
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