Enquanto o PL insiste na negação da realidade, o Brasil retoma o rumo — com emprego, diálogo e respeito internacional.
A afirmação do líder do Partido Liberal (PL) na Câmara, Sóstenes Cavalcante, feita em (09/10) no programa Estúdio I da Globo News, de que o governo Lula é um “fracasso”, soa como uma tentativa de inverter a realidade. Fracasso foi o governo que Lula herdou — um país devastado pela irresponsabilidade fiscal, pelo desmonte das políticas públicas, pela diplomacia do isolamento e por uma tragédia sanitária que custou mais de 700 mil vidas. O Brasil que Bolsonaro deixou em 2022 era o retrato do caos: inflação de dois dígitos, fome em alta, universidades sem orçamento, desmatamento recorde e uma imagem internacional arruinada.
Lula recebeu esse entulho e, em pouco mais de dois anos, reconstruiu pilares básicos da vida nacional. A inflação foi controlada, o desemprego caiu para os menores níveis desde 2015 e o Brasil voltou a crescer acima da média mundial. O país retornou à mesa do G20 e da ONU, reassumiu protagonismo no BRICS e sediará, em Belém, a COP-30 — reconhecimento global de uma liderança ambiental que renasce depois de quatro anos de negacionismo e devastação.
Juros altos e os entraves do rentismo
Mas o caminho de reconstrução não é simples. Lula governa com um Banco Central independente que mantém uma das taxas de juros reais mais altas do mundo — um presente envenenado do governo anterior. Essa política favorece o capital financeiro e trava o investimento produtivo, funcionando como escudo para os rentistas que lucram com a paralisia do Estado.
Mesmo com essas amarras, o governo tem avançado. O Novo PAC recolocou obras paradas em movimento, o Minha Casa, Minha Vida voltou a beneficiar famílias de baixa renda e a política de valorização do salário mínimo recuperou parte do poder de compra do trabalhador. A isenção do imposto de renda para famílias que ganham até cinco salários mínimos é um passo na direção de maior justiça tributária.
No campo internacional, o Brasil voltou a ser ouvido — e respeitado — num mundo em transição.
Um Congresso a serviço do andar de cima
Toda tentativa de corrigir a desigualdade estrutural brasileira, porém, encontra o bloqueio de um Congresso que legisla para o “andar de cima”. Propostas que envolvem taxar bilionários, revisar isenções ou regular fundos exclusivos são travadas por uma elite política que teme perder privilégios. É o mesmo grupo que, nas redes e nas tribunas, tenta desqualificar o governo para preservar os próprios benefícios.
A ferida aberta da desigualdade
O Brasil segue sendo um dos países de pior distribuição de renda e riqueza do mundo, herança direta da escravidão, da concentração fundiária e de um sistema tributário que pune os pobres e protege os mais ricos. Apenas 1% da população detém quase 30% de toda a renda nacional, enquanto milhões ainda vivem sem acesso digno à moradia, saneamento e educação de qualidade.
Sempre que o governo tenta mexer nessa ferida — seja propondo tributação sobre lucros e dividendos, taxação de fundos exclusivos ou revisão dos benefícios fiscais a grandes fortunas — a reação é imediata. Ontem mesmo vimos mais um exemplo: a pressão do mercado e de grupos empresariais para impedir avanços que toquem nos privilégios do topo da pirâmide. O poder econômico age com rapidez, e parte do Congresso se dobra, mantendo o país refém de um modelo injusto que perpetua desigualdade e exclusão.
A reconstrução democrática
Antes de reconstruir a economia, Lula teve que reconstruir o próprio Estado Democrático de Direito. Seu governo começou sob o trauma de uma tentativa de golpe de Estado, quando grupos bolsonaristas invadiram e depredaram as sedes dos Três Poderes em 8 de janeiro de 2023. O episódio expôs as entranhas de uma extrema-direita organizada, financiada e disposta a rasgar a Constituição.
Foi preciso firmeza institucional para que o Brasil voltasse à normalidade democrática. A independência do Judiciário e a atuação de parcela das Forças Armadas dentro da legalidade permitiram que o país retomasse a estabilidade e levasse à Justiça os responsáveis, incluindo o ex-presidente Jair Bolsonaro, hoje condenado a mais de 27 anos de prisão e inelegível por tentativa de subversão do regime democrático.
Essa vitória da institucionalidade é jurídica, moral e histórica. O país mostrou que aprendeu com o passado e não tolerará aventuras autoritárias.
Por que Lula cresce nas pesquisas
Apesar das dificuldades, Lula cresce nas pesquisas porque o povo sente as mudanças. O desemprego caiu, os programas sociais foram retomados e o discurso do ódio perdeu força. Segundo o último levantamento do Instituto Quaest, divulgado no início de outubro, 62% dos brasileiros aprovam o governo Lula, o maior índice desde o início do mandato.
A população percebe o contraste entre o caos deixado por Bolsonaro e a reconstrução em curso. Lula governa com serenidade e diálogo, enquanto a oposição, a extrema direita “defensora da farsa dos bons costumes”, grita sem projeto, sem proposta e sem rumo.
O Brasil reencontrou o equilíbrio possível depois da tempestade. O governo Lula pode não ser perfeito — e ele próprio reconhece os limites —, mas está longe, muito longe, de ser um fracasso. Fracasso é negar o que o país conquistou: a volta da esperança, do respeito e da política como instrumento de transformação social.
Diplomacia e jogo de cintura
Num cenário internacional turbulento, Lula tem demonstrado habilidade rara de articulação e equilíbrio. O presidente brasileiro mantém diálogo com potências de diferentes espectros — da China aos Estados Unidos, da Rússia à União Europeia — sem subordinação e com foco no interesse nacional. Essa postura devolveu ao Brasil o respeito perdido e o colocou novamente como mediador de conflitos e articulador de consensos.
O contraste com o passado é nítido: enquanto Bolsonaro isolava o país em nome de ideologias toscas, Lula reconstruiu pontes. Mesmo diante do retorno de Donald Trump à Casa Branca, o governo brasileiro tem mantido uma relação de pragmatismo e prudência. Lula foi um dos poucos líderes globais a lutar pela causa Palestina e denunciar mundo a fora o genocídio do povo em Gaza, sob o comando do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanhyaru, sem abdicar da defesa dos direitos humanos e da autodeterminação do povo palestino.
Essa capacidade de dialogar com adversários e extrair resultados concretos — sem submissão nem confronto gratuito — é o que distingue estadistas de agitadores.
O que esperar do futuro
Com as eleições majoritárias se aproximando, a esquerda tem diante de si uma oportunidade rara: transformar o apoio popular em enraizamento político. A vitória em 2026 será decisiva para consolidar o projeto de reconstrução nacional iniciado por Lula em 2022. Mas para isso é preciso ousar — voltar a falar com o povo sobre temas que incomodam os poderosos: a taxação dos super-ricos, a democratização da mídia, a reforma tributária progressiva e a transição ecológica justa.
A esquerda não deve temer o debate econômico — deve liderá-lo. O Brasil só será plenamente democrático quando a riqueza produzida for compartilhada e quando o Estado voltar a ser instrumento de igualdade, e não de privilégio.
O governo Lula pode não ser perfeito — e ele próprio reconhece os limites —, mas está longe, muito longe, de ser um fracasso. Fracasso é negar o que o país conquistou: a interrupção de um golpe de Estado, a volta da esperança, do respeito e da política como instrumento de transformação social.
Foto: Ricardo Stuckert / PR
FONTE: https://www.brasil247.com/blog/lula-cresce-porque-governa-o-mito-do-fracasso-cai-por-terra