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Lula defende soberania em minerais críticos e alerta para risco de “colonialismo digital” no G20

Durante sessão “Um futuro justo para todos”, presidente destaca papel da transição energética, governança da inteligência artificial e trabalho decente.

247 – O presidente Lula defendeu, durante a sessão “Um Futuro Justo para Todos” da Cúpula do G20, realizada em Joanesburgo, na África do Sul, uma nova abordagem global para minerais críticos, inteligência artificial e direitos trabalhistas.

Lula chamou atenção para a centralidade dos minerais críticos — considerados essenciais para tecnologias de ponta — na transição energética mundial. Ele citou que, apenas em 2024, “o setor de energia foi responsável por 85% do crescimento total da demanda por esses minerais”. Para o presidente, não há como cumprir metas globais de combate à crise climática sem enfrentar o debate sobre esses insumos estratégicos.

Segundo Lula, a transição energética “abre oportunidades para ampliar as fronteiras tecnológicas a serviço da humanidade”, mas também exige rever o papel dos países que concentram as maiores reservas. “Os países com grande concentração de reservas de minerais não podem ser vistos como meros fornecedores enquanto seguem à margem da inovação tecnológica”, afirmou.

O presidente ressaltou que a disputa não envolve apenas recursos naturais, mas também controle de conhecimento, tecnologia e valor agregado. “Falar sobre minerais críticos também é falar sobre soberania”, declarou. Ele destacou a criação do Conselho Nacional de Minerais Críticos e Estratégicos e reforçou que o Brasil “não será apenas exportador, e sim parceiro na cadeia global de valor”.

IA, desigualdade e risco de “colonialismo digital”

Ao abordar inteligência artificial, Lula afirmou que a tecnologia é “um caminho sem volta” e possui potencial único para impulsionar o desenvolvimento sustentável e reduzir desigualdades. Mas alertou para o desafio central: garantir acesso equitativo à ferramenta.

Vinte anos após as primeiras cúpulas sobre sociedade da informação, lembrou o presidente, “2 bilhões e 600 milhões de pessoas não têm sequer acesso ao mundo digital”. A desigualdade global é gritante: enquanto 93% da população de países de alta renda está conectada, entre os países de baixa renda esse percentual cai para 27%.

O presidente fez um alerta duro: “Quando poucos controlam os algoritmos, os dados e as infraestruturas atreladas aos processos econômicos, a inovação passa a gerar exclusão”. Para ele, é essencial evitar “uma nova forma de colonialismo digital”.

Lula defendeu que as Nações Unidas liderem o debate internacional sobre governança da IA e parabenizou a África do Sul pela iniciativa Inteligência Artificial para a África, indicando que o Brasil “está pronto a colaborar”.

Trabalho decente

Em outro ponto central do discurso, Lula afirmou que não existe futuro justo sem oportunidades de trabalho e proteção social. “Cada painel solar, cada chip, cada linha de código deve carregar consigo a marca da inclusão social”, defendeu.

O presidente citou dados preocupantes: “40% dos trabalhadores do mundo estão em funções altamente expostas à inteligência artificial, sob risco de automação ou complementação tecnológica”. Diante desse cenário, ele apelou por políticas que aproximem setores tradicionais de novas tecnologias, sempre com foco na preservação de direitos humanos e trabalhistas.

Para Lula, o progresso só será real “se for compartilhado, sustentável, justo e inclusivo”. Ele reforçou que o trabalho decente deve orientar ações multilaterais, reafirmando o compromisso com as normas da Organização Internacional do Trabalho (OIT).

O encontro de líderes em Joanesburgo marca a primeira vez que o G20 apresenta um documento específico sobre minerais críticos, reconhecendo a importância de que o beneficiamento seja realizado nos países de origem — tema que o Brasil tem buscado destacar no debate geopolítico contemporâneo.

Foto: Ricardo Stuckert / PR

FONTE: https://www.brasil247.com/brasil/lula-defende-soberania-em-minerais-criticos-e-alerta-para-risco-de-colonialismo-digital-no-g20