“Extremistas fabricam inverdades para obter ganhos eleitorais e aprisionar as gerações futuras”, discursou o presidente Lula.
247 – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez um duro alerta sobre os riscos do avanço do extremismo político e da desigualdade global durante seu discurso na abertura da Plenária Geral da COP30, nesta quinta-feira (6), em Belém (PA). Diante de líderes internacionais e representantes de quase 200 países, Lula afirmou que “forças extremistas fabricam inverdades para obter ganhos eleitorais e aprisionar as gerações futuras a um modelo ultrapassado que perpetua disparidades sociais e econômicas e degradação ambiental”.
O presidente destacou que a realização da conferência na capital paraense — a primeira no coração da Amazônia — simboliza um chamado à responsabilidade coletiva. “Os olhos do mundo se voltam a Belém com imensa expectativa. Pela primeira vez uma COP terá lugar no coração da Amazônia”, afirmou, ressaltando a importância do bioma que abriga “milhares de espécies de plantas e animais” e “milhões de pessoas e centenas de povos indígenas” que conciliam, em suas vidas, “a busca legítima por uma existência digna com a missão vital de proteger um dos maiores patrimônios naturais da humanidade”.
Lula defendeu que é chegada a hora de o mundo escutar os povos amazônicos. “É justo que seja a vez dos amazônidas de indagar o que está sendo feito pelo resto do mundo para evitar o colapso da sua casa”, disse. O presidente classificou o ano de 2025 como “um marco para o multilateralismo” e ressaltou que o Acordo de Paris, firmado há uma década, representa tanto “as maiores qualidades quanto as limitações da ação multilateral”.
O presidente lembrou que, graças ao pacto climático, o mundo conseguiu se afastar das previsões mais sombrias de aumento de temperatura, mas advertiu que os compromissos internacionais estão ameaçados. “O regime climático não está imune à lógica da soma zero que tem prevalecido na ordem internacional. Em um cenário de insegurança e desconfiança mútua, interesses egoístas imediatos preponderam sobre o bem comum a longo prazo”, afirmou.
Lula destacou ainda o agravamento da crise ambiental. “O ano de 2024 foi o primeiro em que a temperatura média da Terra ultrapassou 1,5 grau acima dos níveis pré-industriais”, alertou. Segundo ele, o planeta caminha para ser 2,5 °C mais quente até o fim do século, o que, conforme o relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), poderá causar perdas humanas e econômicas drásticas — com mais de 250 mil mortes anuais e a redução de até 30% do PIB global. “Por isso, a COP30 será a COP da verdade”, afirmou o presidente.
Lula disse que o Brasil chega a Belém após consolidar sua liderança internacional por meio das presidências do G20 e dos BRICS. “No G20, colocamos na mesma mesa os ministérios do Meio Ambiente e de Finanças das 20 economias que respondem por 80% das emissões globais. Nos BRICS, reafirmamos a centralidade do financiamento climático, da capacitação e transferência de tecnologia”, destacou.
Ao tratar dos desafios para o futuro, o presidente apontou dois “descompassos” que precisam ser superados. O primeiro, segundo ele, é “a desconexão entre os salões diplomáticos e o mundo real”, e o segundo é o “descasamento entre o contexto geopolítico e a urgência climática”. Lula criticou o uso político da desinformação e os retrocessos na agenda ambiental: “Enquanto forças extremistas fabricam inverdades, a janela de oportunidades está se fechando rapidamente”.
Encerrando seu discurso, o presidente ressaltou que o combate à crise climática está intrinsecamente ligado à luta contra as desigualdades. “A mudança do clima é resultado das mesmas dinâmicas que, ao longo de séculos, fraturaram nossa sociedade entre ricos e pobres e dividiram o mundo entre países desenvolvidos e em desenvolvimento. Será impossível contê-la sem superar as desigualdades dentro das nações e entre elas”, afirmou.
Lula concluiu afirmando que a “justiça climática” deve ser vista como uma aliada no enfrentamento da fome, da pobreza e das discriminações. “A justiça climática é aliada no combate à fome e à pobreza e na luta contra o racismo e a desigualdade de gênero, além de promover uma governança global mais representativa e inclusiva”, declarou.
A COP30, sediada em Belém, marca um momento histórico para o Brasil e para a Amazônia, reunindo líderes de todo o mundo para discutir a transição energética, o financiamento climático e os caminhos para conter o aquecimento global antes que seus impactos se tornem irreversíveis.
Foto: Ricardo Stuckert / PR
FONTE: https://www.brasil247.com/cop30/lula-na-cop-geracoes-futuras-sao-refens-de-forcas-extremistas-e-modelo-ultrapassado