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Mais de 30 países se reúnem na Colômbia para exigir medidas concretas contra Israel

Conferência internacional em Bogotá, convocada pelo Grupo de Haia, busca ações jurídicas e diplomáticas contra crimes cometidos em Gaza.

247 – Representantes de mais de trinta países se reúnem nesta terça-feira (15), em Bogotá, na Colômbia, para debater e anunciar medidas concretas contra Israel, diante da devastação humanitária na Faixa de Gaza. A reunião de emergência foi convocada pelo Grupo de Haia, iniciativa fundada em janeiro de 2025 por países do Sul Global, informa a RFI.

O encontro marca um esforço sem precedentes para coordenar respostas diplomáticas e jurídicas diante do impasse nas negociações por um cessar-fogo e da omissão das grandes potências ocidentais frente às contínuas violações do direito internacional por parte de Israel. Segundo dados atualizados, o número de mortos em Gaza ultrapassa 58 mil — a maioria mulheres e crianças — desde o início da ofensiva israelense em outubro de 2023.

Grupo quer pressionar por ações reais contra o genocídio – “A ideia não é criar um novo direito internacional, que já existe, mas sim aplicar esse direito por meio de medidas concretas, políticas reais, coletivas e coordenadas para pôr fim ao massacre, para pôr fim ao genocídio”, explicou Guillaume Long, conselheiro diplomático do Grupo de Haia. “Quando os Estados se unem e levantam suas vozes em torno de questões específicas, eles têm mais peso e influência do que quando agem isoladamente”, completou.

As declarações de Long refletem o sentimento de frustração com a paralisia das instâncias multilaterais. A proposta do grupo é transformar essa frustração em ações efetivas que incluam sanções, rompimento de relações diplomáticas, bloqueio ao comércio de armas e apoio aos processos judiciais internacionais em curso.

Governo Petro lidera iniciativa com apoio de outros países do Sul Global – Um dos principais líderes do movimento, o presidente da Colômbia, Gustavo Petro, defendeu a urgência de agir. “Não podemos aceitar o retorno de épocas de genocídio diante dos nossos olhos e da nossa passividade. Se a Palestina morre, a humanidade morre”, afirmou o mandatário, que rompeu relações diplomáticas com Tel Aviv em maio de 2024. A Colômbia, assim como o Brasil, apoia a ação da África do Sul na Corte Internacional de Justiça (CIJ), que acusa Israel de violar a Convenção sobre o Genocídio.

Além da África do Sul e da Colômbia, integram o Grupo de Haia países como Malásia, Bolívia, Cuba, Honduras, Namíbia e Senegal. Esses Estados se inspiram na mobilização internacional contra o apartheid na África do Sul, buscando repetir uma estratégia multilateral para isolar Israel política e economicamente.

Presença internacional amplia legitimidade do encontro – Apesar de ser liderada por países do Sul Global, a conferência de Bogotá atraiu também representantes da Europa, do mundo árabe e de organismos internacionais. Confirmaram presença delegações da Irlanda, Noruega, Eslovênia, Espanha, Portugal, Líbano, Omã, Iraque, Catar, Argélia, Chile e Botsuana. A França foi convidada, mas ainda não respondeu.

A ONU será representada por Philippe Lazzarini, diretor da agência de ajuda aos refugiados palestinos (UNRWA), e por Francesca Albanese, relatora especial para a Palestina — que recentemente foi alvo de sanções do governo dos Estados Unidos.

Propostas incluem sanções e apoio ao Tribunal Penal Internacional – Entre as principais medidas em debate estão:

  • Bloqueio ao fornecimento e trânsito de armas com destino a Israel;
  • Apoio aos mandados de prisão emitidos pelo Tribunal Penal Internacional (TPI) contra o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e o ex-ministro da Defesa Yoav Gallant;
  • Implementação da resolução da ONU de 18 de setembro de 2024, que exige o fim da ocupação israelense até setembro de 2025;
  • Fortalecimento do caso movido pela África do Sul na CIJ por genocídio.

Segundo Guillaume Long, “não se trata de uma reunião formal do Grupo de Haia, mas de uma convocação feita por Colômbia e África do Sul, como co-presidentes, para reunir um grande número de países em torno de medidas urgentes e concretas”. Ele reiterou que o objetivo é “aplicar o direito internacional já existente”.

Crise humanitária se agrava em Gaza com mais de 600 dias de cerco – Enquanto o número de mortos cresce diariamente, cerca de 2,3 milhões de palestinos enfrentam há mais de 600 dias fome, destruição e colapso sanitário. As negociações indiretas entre Israel e Hamas seguem travadas, e a Conferência Internacional para a Paz na Palestina — proposta pela ONU e co-presidida por França e Arábia Saudita — permanece sem data para ocorrer.

Em meio à paralisia das grandes potências e à morosidade institucional, a iniciativa liderada por países como a Colômbia e a África do Sul busca restaurar a eficácia do multilateralismo. Em Bogotá, dezenas de Estados tentam transformar a indignação global em ações concretas — e resgatar o que ainda resta da credibilidade do direito internacional.

FOTO: Wikimedia Commons

FONTE: https://www.brasil247.com/mundo/mais-de-30-paises-se-reunem-na-colombia-para-exigir-medidas-concretas-contra-israel