Economista revela como os Estados Unidos construíram sua hegemonia sobre dívidas impagáveis e enfrentam agora a perda de confiança global.
247 – Em entrevista publicada no canal do professor Glenn Diesen no YouTube, no vídeo intitulado “Michael Hudson: The Collapse of America’s Economic Empire”, o economista norte-americano Michael Hudson traça um diagnóstico rigoroso sobre a decadência do poder imperial dos Estados Unidos, que segundo ele está sendo corroído pelo declínio do dólar como moeda global e pela crescente articulação dos BRICS. Autor do livro Superimperialismo: A Estratégia Econômica do Império Americano, Hudson afirma que a supremacia dos EUA se assentou não em colônias militares diretas, mas num sistema de dominação financeira internacional que se tornou insustentável.
A gênese do império: da dívida à dominação
Hudson relembra que, ao final da Primeira Guerra Mundial, os Estados Unidos se recusaram a perdoar as dívidas de guerra dos aliados europeus, como era o costume histórico. “Uma dívida é uma dívida”, era a justificativa. Para cumprir essas obrigações, Reino Unido e França passaram a cobrar reparações da Alemanha, o que precipitou o colapso econômico do país, a hiperinflação e, mais tarde, a ascensão do nazismo.
Após a Segunda Guerra Mundial, os EUA consolidaram sua hegemonia ao deter a maior parte do ouro mundial e impor a criação de instituições como o FMI e o Banco Mundial, moldadas para sustentar os seus interesses. “Essas instituições nunca financiaram o desenvolvimento autossuficiente dos países, apenas a sua dependência das exportações para os Estados Unidos”, denuncia Hudson.
O padrão dólar: hegemonia sem lastro
A ruptura decisiva aconteceu em 1971, quando o presidente Richard Nixon suspendeu a conversibilidade do dólar em ouro. A partir de então, explica Hudson, o mundo ficou sem alternativas: “Os países passaram a reciclar seus dólares em títulos do Tesouro dos EUA, financiando não só os déficits norte-americanos, mas também seus gastos militares”.
Esse mecanismo criou o chamado “padrão título do Tesouro”, no qual os próprios credores estrangeiros passaram a bancar o complexo militar-industrial dos EUA. “Era um sistema que se retroalimentava e impedia que outras economias se desenvolvessem de forma autônoma”, analisa.
Trump, o colapso da confiança e o impulso dos BRICS
O cenário se agravou sob o governo do presidente Donald Trump, em seu segundo mandato iniciado em 2025. Hudson denuncia que o confisco das reservas da Rússia e da Venezuela, além das ameaças contra países que tentam sair da órbita do dólar, acabaram por destruir a confiança no sistema. “Trump deixou claro que qualquer tentativa de desdolarização será considerada um ato de guerra”, afirma o economista.
Essa política agressiva está empurrando países como China, Índia, Rússia, Irã e os demais membros dos BRICS a buscar novas formas de pagamento e reserva de valor — como o ouro ou moedas alternativas. “A desconfiança é geral. A diferença agora é que há uma articulação concreta para fugir do sistema”, diz Hudson.
Fim do império e alternativas reais
Hudson argumenta que os EUA só conseguiriam manter sua relevância global se abandonassem o modelo imperial e investissem numa reindustrialização verdadeira. “Impérios não se sustentam. Eles afundam seus próprios centros de poder, como aconteceu com a Grã-Bretanha e a França”, afirma.
No entanto, o economista aponta que o sistema financeiro estadunidense vive do curto prazo, focado em especulação e recompra de ações, o que torna impossível um planejamento produtivo de longo prazo. “A elite de Wall Street está destruindo a capacidade industrial dos EUA. Sem indústria, não há império viável”, conclui.
O embate global: financeirização versus produção
A crise atual, segundo Hudson, vai além da disputa geopolítica. Trata-se de um embate entre dois modelos de civilização econômica. De um lado, o neoliberalismo centrado em dívidas, monopólios e rentismo; do outro, a proposta de soberania produtiva defendida por países como China e Rússia. “O Sul Global enfrenta hoje uma batalha semelhante à da Europa contra o feudalismo: livrar-se das elites rentistas que controlam suas infraestruturas e recursos”, compara.
Hudson conclui que o império americano está diante de um beco sem saída. “A única saída é reconhecer que não há mais espaço para impérios. O mundo está caminhando para uma nova ordem econômica, e essa ordem será decidida pela produção real, não por dívidas impagáveis ou poder militar”.
O vídeo completo da entrevista pode ser acessado em https://www.youtube.com/watch?v=DY5L0GEkQw, e o livro Superimperialismo, de Michael Hudson, está disponível nas principais livrarias internacionais. Assista:
Foto: Reprodução Youtube
FONTE: https://www.brasil247.com/ideias/michael-hudson-explica-como-o-imperio-americano-esta-colapsando-com-o-declinio-do-dolar-e-a-ascensao-dos-brics