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Na véspera do BRICS, Trump aprova orçamento de guerra e afunda neoliberalismo

Com isso, o titular da Casa Branca aumenta a dívida pública americana para perto de US$ 140 trilhões.

Em tempo de guerra, não é preciso dizer que a financeirização econômica global, altamente especulativa, intensifica os riscos globais, a cada dia que passa, sinalizando temores crescentes no capitalismo cêntrico, que se espraia para o capitalismo periférico, nas economias emergentes, como a latino-americana e brasileira, em particular, no momento em que antecede a reunião dos BRICS, marcada para a próxima semana, no Rio de Janeiro, sob presidência do presidente Lula.

A situação ficou ainda mais instável, agora, que o presidente Donald Trump, adversário radical dos BRICS, conseguiu aprovação orçamentária, no Congresso, de mais 3,5 trilhões de dólares, para financiar a economia de guerra.

O pacote Trump impacta a economia global: aumenta gastos com Forças Armadas; controle de imigaração; cortes em programas sociais, isenções fiscais e revogação de incentivos à energia limpa.

Com isso, o titular da Casa Branca aumenta a dívida pública americana para perto de US$ 140 trilhões, a exigir pagamento de juros de mais de US$ 1 trilhão/ano.

Não é à toa que Trump pressiona o presidente do BC americano, Jerome Powell, a reduzir para 1% a taxa de juro anual nos Estados Unidos, para tentar diminuir o custo da dívida.

O presidente gira a guitarra, violentamente, jogando por terra o neoliberalismo que pretendia implementar com guerra tarifária, depois que entrou na guerra contra o Irã, para salvar Israel do perigo de derrota para os Aiatolás iranianos, apoiados por Rússia e China.

Simplesmente, o presidente americano demonstra que o capitalismo é totalmente incompatível com equilíbrio orçamentário, na linha proposta por Washington para a periferia capitalista por intermédio de tripés neoliberais, como o vigente no Brasil, desde a Era FHC.

Mais uma vez, Trump vai na linha de John Maynard Keynes, para quem a única variável econômica verdadeiramente independente sob o capitalismo é o aumento da oferta de moeda na circulação capitalista.

Quando isso ocorre, com elevação de capital liberado pela autoridade monetária (estatal), no meio circulante, diz o economista inglês, autor de “Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda”, quatro fatores simultâneos e convergentes se interagem para:

1 – elevar relativamente os preços;

2 – diminuir, relativamente, os salários;

3 – reduzir a taxa de juros e;

4 – perdoar dívida contratada a prazo pelos capitalistas.

Resultado, diz Keynes: aumento da eficiência marginal do capital (lucro), o que leva os empresários aos investimentos, enquanto aumenta a dívida como forma de enxugar a liquidez; caso contrário, ocorreria hiperinflação, se a instabilidade provocada pelo endividamento produzir corrida bancária.

BIS alerta para perigo – Comentarista-chefe de economia do Financial Times, Martin Wolf, em meio ao frenesi trumpist, gerado pela decisão expansionista de Trump, em contraste com a guerra tarifária que pretendia implementar como saída para o capitalismo americano, lança alerta dado pelo Banco de Compensações Internacionais (BIS), considerado o Banco Central dos bancos centrais, sediado em Basiléia, na Suíça.

O futuro imediato das finanças internacionais, em meio ao clima de guerra, diz Wolf, depois de entrevistar o economista Hyun Song Shin, do Banco de Compensações Internacionais (BIS), pode ser considerado alarmante.

É o seguinte, alerta Shin: fundos especulativos, vanguarda da financeirização econômica global, realizaram empréstimos transfronteiriços (centro para periferia), colateralizados (que exigem ativos reais como garantia), alcançaram US$ 111 trilhões, ao final de 2024.

Trata-se, segundo ele, de soma significativamente superior aos US$ 40 trilhões em créditos bancários transfronteiriços e aos US$ 29 trilhões em títulos internacionais, especialmente, títulos do tesouro americano.

90% dessa montanha de dinheiro, manipulada pelos fundos, realizados em forma de swaps de câmbio (troca de moedas), representam empréstimos com menos de 1 ano de prazo para liquidação.

Em tempo de guerra e de instabilidade geral, escreve Martin Wolf, o risco cresce, notadamente, para tomadores dos países emergentes, por meio de bancos oficias de investimentos (BNDES, no caso brasileiro, etc), bem como empresas fortes, que atuam em oligopólios, no cenário da crise imperialista, que sinaliza queda tendencial da taxa de lucro em meio à sobreacumulação de capital.

As possibilidades de ajustes violentos de preços desses ativos colateralizados são enormes, sujeitos, na crise, a chuvas e trovoadas.

A previsão do BIS, diz Hyun Song Shin, é de que, em momentos emergenciais, o Banco Central dos Estados Unidos tende a interferir, para evitar corridas bancárias, como fez na crise de 2007/2008, cujas consequências se fazem sentir ainda hoje.

A incógnita, acrescenta o economista do BIS, é o que acontecerá quando vencer – no próximo ano – o mandato de Jerome Powell, no Banco Central americano, cujo substituto será indicado por Trump.

O aumento da oferta de moeda na economia, como acaba de acontecer, com aprovação do orçamento americano, jogará a taxa de juros no chão, para puxar a economia de guerra trumpista.

O BIS sente o cheiro de pólvora: a instabilidade geral aumentará com elevação da dívida pública americana, provavelmente, a juro negativo, o que deixará o mercado financeiro às portas de stress, diante do perigo antevisto pelos investidores, como alerta Hyun Song Shin, do BIS.

Chegaria, então, a hora de correção de preços dos ativos colateralizados, que representam a garantia real que os credores reclamam para si, nas periferias capitalistas endividadas.

Sai de baixo.

FOTO: Daniel Torok

FONTE: https://www.brasil247.com/blog/na-vespera-do-brics-trump-aprova-orcamento-de-guerra-e-afunda-neoliberalismo