Especialista em segurança pública detona chacina no Rio e alerta para riscos de equiparar crime organizado ao terrorismo.
247 – A chacina durante operação policial ocorrida recentemente no Rio de Janeiro foi duramente criticada pelo antropólogo e especialista em segurança pública Luiz Eduardo Soares. Em entrevista à TV 247, o pesquisador classificou a operação como um “fracasso retumbante” e afirmou que ela não teve qualquer relação com segurança pública, mas sim com objetivos políticos.
Soares explicou que é ilusório tratar a incursão como uma simples ação policial. “De fato, ninguém que não seja absolutamente ingênuo ou distante da problemática da segurança pública poderia supor que uma incursão daquele tipo pudesse contemplar algum propósito efetivo na provisão de segurança”, afirmou. Ele ressaltou que operações desse tipo resultam em mortes de suspeitos, policiais e inocentes, sem qualquer mudança estrutural no combate ao crime. “No dia seguinte tudo retorna à rotina e as dinâmicas se reproduzem. Portanto, isso não produz nenhum resultado”.
Segundo Soares, a ação foi trágica e “absolutamente inaceitável sob qualquer parâmetro”. O especialista destacou ainda o contexto político da operação: “Isso foi feito há uma semana do julgamento do governador no TSE, com grandes chances de condenação – pelo menos até a véspera da intervenção”.
O estudioso alertou para um movimento preocupante dentro do discurso da ultradireita brasileira, que passou a adotar o termo “narcoterrorismo” para associar o crime organizado ao terrorismo internacional. “Agora há a introdução no discurso da ultradireita brasileira da expressão ‘narcoterrorismo’, de modo a inscrever seu código no discurso transnacional da ultradireita e em sintonia com o discurso de Trump”, observou Soares, referindo-se ao atual presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
De acordo com ele, essa reclassificação – que avança dentro da Câmara dos Deputados por meio de projetos patrocinados pela direita – pode ter consequências graves para a soberania brasileira. “O governador já enviou documento para Washington solicitando a classificação da facção criminosa como ‘narcoterrorista’, e isso teria sido intermediado por Eduardo Bolsonaro. Então há toda uma intervenção bastante objetiva nesse sentido, com intenções políticas indiscutíveis”.
Para o especialista, essa manobra tem o potencial de abrir um perigoso precedente para ingerências estrangeiras. “Essa reclassificação funcionaria como uma espécie de passaporte ou senha conferidos aos Estados Unidos para que se considerasse a eventualidade de alguma ação no interior do Brasil ou fora do Brasil, mas voltada contra brasileiros”, alertou.
Foto: ABR
FONTE: https://www.brasil247.com/entrevistas/narcoterrorismo-e-passaporte-para-intervencao-dos-eua-no-brasil-diz-luiz-eduardo-soares