A entrega do Prêmio Nobel da Paz de 2025 para María Corina Machado, opositora venezuelana, reacende o debate sobre um dos prêmios mais politizados do cenário internacional contemporâneo. Apresentada pelo Comitê Norueguês como símbolo da “luta democrática” na Venezuela, Machado se torna a “nova Guaidó” no tabuleiro geopolítico, numa evidente movimentação estratégica do Ocidente para legitimar figuras opositoras em países considerados hostis aos seus interesses econômicos e geopolíticos.
O Nobel e o teatro político sobre a Venezuela
A premiação de Machado acontece em um contexto de acirramento das pressões internacionais sobre Caracas, onde as reservas de petróleo venezuelanas continuam sendo alvo de cobiça explícita das grandes potências. Não é coincidência que nomes como Juan Guaidó e, agora, Corina Machado sejam guindados à condição de “heroicos democratas” justamente quando Washington redobra sua atenção sobre o controle energético na América do Sul. O Nobel, tido como símbolo da paz, nesta edição revela-se fortemente politizado e alinhado a interesses estratégicos — fato já apontado por críticos em edições anteriores que premiaram líderes ou ativistas envolvidos em campanhas claramente geopolíticas.
Entre “paz” e intervenção
Machado, impedida de concorrer nas eleições presidenciais e à frente do movimento opositor, é celebrada pelo comitê por sua resistência “pacífica” e por promover a democracia em um país estigmatizado como ditadura. Entretanto, para muitos analistas e setores críticos, esta narrativa encobre a real disputa em torno do verdadeiro interesse na Venezuela: as vastas reservas de petróleo, as maiores do mundo, permanentes no radar dos EUA e seus aliados, que buscam alternância política favorável aos seus negócios.
“A nova Guaidó”
O caso Machado ecoa o roteiro imposto a Juan Guaidó em 2019. Assim como seu antecessor no papel de “salvador democrático”, Corina surge com forte respaldo midiático, político e agora carimbada com o mais prestigiado reconhecimento internacional, o Nobel. No entanto, para a maioria da população venezuelana, a experiência com oposicionistas fabricados e apoiados externamente já demonstrou que o jogo é menos sobre direitos do povo e mais sobre interesses econômicos globais, com o destino da soberania nacional em segundo plano.
O recado do prêmio
Ao celebrar Corina, o Nobel da Paz escancara seu caráter político, servindo antes como instrumento de pressão do que como tributo neutro à paz e à democracia. Em um ano de crescentes tensões internacionais, torna-se difícil ignorar que, mais uma vez, o “prêmio da paz” dialoga diretamente com as estratégias energéticas e diplomáticas da maior potência global, visando abrir caminho à força para o acesso ao petróleo venezuelano, sob o pretexto já conhecido da defesa da democracia.
A líder opositora María Corina Machado durante manifestação contra o regime de Nicolás Maduro em Caracas, Venezuela (Foto: EFE/ Ronald Peña)
FONTE: Agência de Notícias ABJ – Associação Brasileira dos Jornalistas
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