O Brasil deveria valer-se da situação para se reaproximar e apoiar o governo do presidente Nicolás Maduro.
Mais do que surpreendente, é escandalosa a concessão do Prêmio Nobel da Paz à golpista venezuelana de extrema-direita María Corina Machado.
A premiação deve fazer soar um alarme. Com o Nobel de estandarte, Corina, a política mais odiada, segundo recente pesquisa entre os venezuelanos, vai se sentir autorizada a escalar sua campanha para sabotar a Revolução Bolivariana. Articulada ao império estadunidense, ela estará qualificada a acusar o Nobel da Paz de semear guerra em outros países, a começar pela Colômbia e o Brasil.
Que o governo brasileiro não se deixe iludir nem intimidar. Diante do que significa essa premiação, Lula e o Itamaraty precisam ter uma atitude consequente e sábia, para ajudar a impedir qualquer ingerência na política e na soberania do país vizinho, o que teria consequências danosas também ao Brasil.
Igualmente, o Brasil deveria valer-se da situação para se reaproximar e apoiar o governo do presidente Nicolás Maduro.
O presidente Lula já abordou o assunto com seu colega Donald Trump em recente teleconferência. Ficaram de voltar ao assunto.
O caminho do diálogo que Lula defende para aliviar as ameaças de Trump sobre o país vizinho é elogiável, desde que reafirme o respeito à soberania e às instituições democráticas revolucionárias do país vizinho, a começar pela vontade do povo venezuelano expressa nas urnas.
Corina é associada ao que há de pior na política venezuelana e mundial. Integra o eixo internacional da extrema-direita. É apoiadora do genocida Benjamin Netanyahu. Colabora com o partido Vox, na Espanha. Foi indicada ao Nobel pelo então senador Marco Rubio, hoje secretário de Estado, o mais poderoso aliado do bolsonarismo no governo estadunidense.
Na Venezuela, Corina participou de diversas tentativas de golpe. Apoiou intentos de magnicídio. Solicitou e apoiou as mais de 1.142 sanções econômicas aplicadas contra seu país. Delas resultaram perdas de 226 bilhões de dólares apenas em receitas petrolíferas. Corina apoiou o sequestro de 1,1 tonelada de ouro venezuelano no Banco da Inglaterra. Incentivou a expropriação acintosa da Citgo, empresa distribuidora de combustíveis e dona de refinarias venezuelanas nos Estados Unidos.
Em outras edições, o comitê norueguês do Nobel já tinha premiado Henry Kissinger, que prolongou o morticínio na Guerra do Vietnã, mesmo quando já tinha ciência da derrota, o que foi ocultado da opinião pública.
Agora, como expressão da decadência dos valores que assolam a antes considerada civilizada Europa, o Nobel norueguês é usado para engrossar a campanha do império estadunidense contra a Venezuela. As ameaças ao país não são inéditas. Já houve outras tentativas, todas derrotadas pela bem armada e organizada resistência bolivariana.
Desta vez, o assédio ao país se materializa num bombardeio de falsas informações travestido de operação de combate às drogas e a um certo “Cartel de Soles”, facção simplesmente inexistente. Sob essa narrativa, os Estados Unidos têm sumariamente bombardeado, ao acaso, lanchas no Caribe. Ademais, navios de guerra de Washington rondam o mar venezuelano. Há relatos da existência de planos alucinados de desembarque e invasão por terra.
Tudo obedeceria a uma nova doutrina, ainda não anunciada, segundo a qual a prioridade geopolítica da Casa Branca deixaria de ser o combate à China e à Rússia. A opção passaria a ser impor, ou recuperar, o domínio sobre o chamado Ocidente. Alvo natural e prioritário seria recuperar, a qualquer custo, a hegemonia sobre a América Latina, onde a China conquista posições por sua atitude de colaboração vantajosa e amistosa com as economias da região.
Chama a atenção, porém, a reação crítica da própria Casa Branca ao Nobel de Corina. Segundo a porta-voz de Trump, o comitê norueguês colocou a política (o apoio à oposição ao governo venezuelano) à frente da paz. Assim, a frustração egoica por não ter sido ele, Donald Trump, o escolhido para o Nobel, provocou uma revelação insuspeita sobre as reais intenções da premiação: o Nobel quer a guerra.
FOTO: Bel Pedrosa/World Economic Forum
FONTE: https://www.brasil247.com/editoriais247/nobel-da-paz-para-corina-e-prenuncio-de-guerra-na-america-do-sul-e-golpe-na-venezuela