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Novas vozes, nova ordem: a ascensão do Sul Global

Aspiramos a uma transição para um mundo multipolar, no qual as nações formem parcerias baseadas em seus interesses e complementaridades.

Imaginamos um mundo de paz, cooperação e integração.

No entanto, essa visão enfrenta ameaças crescentes, à medida que movimentos de extrema direita em várias partes do planeta fomentam a discriminação, promovem a divisão e enxergam o mundo sob o prisma da desigualdade profunda.

A concentração de riqueza e o desafio da soberania econômica

No campo econômico, a riqueza está cada vez mais concentrada. Em alguns casos, essa concentração não ocorre dentro dos próprios Estados, mas em corporações multinacionais cujo poder supera o de muitos governos nacionais. Isso representa um grande desafio para o Sul Global: democratizar não apenas a governança política, mas também a econômica. Sem soberania econômica, não há independência política verdadeira.

Além disso, a divisão digital continua evidente. As novas tecnologias da informação, comunicação e digitalização ampliaram o abismo entre o Norte e o Sul Globais, aprofundando também as desigualdades dentro dos próprios países.

Um novo ordenamento internacional justo e solidário

O que o Sul Global realmente aspira é uma nova ordem internacional — mais justa e equitativa. O objetivo é fortalecer a cooperação e a integração, utilizando as novas tecnologias para que aqueles que ainda sofrem com a desigualdade e a pobreza passem a ser parte real da narrativa do desenvolvimento.

A Argentina é uma grande produtora agrícola e pecuária, e a China é um de seus principais mercados. Juntas, formamos uma parceria poderosa.

Também assinamos acordos em outras áreas, incluindo biotecnologia — especialmente genômica aplicada à agricultura e à pecuária — e o uso de tecnologias digitais nesses setores para ajudar mais pessoas a superar a pobreza.

A China oferece um exemplo inspirador, tendo retirado mais de 770 milhões de pessoas da pobreza extrema ao longo de mais de 40 anos, até o final de 2020.

Assinamos ainda acordos de cooperação no setor espacial, com a realização de projetos conjuntos de pesquisa. Estamos estudando com atenção a experiência de desenvolvimento chinesa, que é de grande importância para nós.

A Iniciativa de Governança Global e o papel do Sul Global

O Sul Global deposita grandes expectativas na Iniciativa de Governança Global (GGI), proposta pelo presidente chinês Xi Jinping durante a reunião “Organização de Cooperação de Xangai Plus”, realizada em Tianjin, no norte da China, em 1º de setembro. (A GGI conclama os países a trabalharem em conjunto por um sistema de governança global mais justo e equitativo.)

Xi destacou cinco princípios fundamentais da GGI: respeito à igualdade soberana, obediência ao direito internacional, prática do multilateralismo, adoção de uma abordagem centrada nas pessoas e foco em resultados concretos. Acredito que todos esses princípios são altamente relevantes.

Soberania, multilateralismo e cooperação centrada nas pessoas

Precisamos de um mundo que respeite a igualdade soberana. Na Assembleia Geral das Nações Unidas, o princípio fundamental é “um país, um voto”. Independentemente do tamanho, riqueza ou população, cada nação tem sua própria identidade e o direito de existir com respeito ao seu povo. Nesse sentido, o respeito à soberania nacional é essencial — sem ele, nada mais se sustenta.

A situação em que alguns países do Sul Global são obrigados a obedecer regras injustas por falta de poder ou armamentos, enquanto outros agem livremente por possuí-los, não deve mais existir. Por isso, é essencial o respeito ao direito internacional.

Além disso, aspiramos a uma transição para um mundo multipolar, no qual as nações formem parcerias baseadas em seus interesses e complementaridades. Concordamos plenamente com o chamado de Xi para praticar o verdadeiro multilateralismo.

Outro conceito central proposto por Xi é o da cooperação centrada nas pessoas. Qualquer forma de parceria entre nações deve ter como objetivo melhorar a vida das pessoas — caso contrário, não tem sentido. Se nossas ações não melhoram as condições de vida, de que servem?

O Sul Global será, sem dúvida, a força mais dinâmica no avanço desses objetivos, ao concentrar-se em resultados concretos. Em muitas áreas, podemos contribuir mutuamente — e isso deve ser o motor da nossa cooperação.

O autor é ex-ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação da Argentina.

Este artigo foi originalmente publicado pela Beijing Review e cedido ao Brasil 247

Foto: Xinhua

FONTE: https://www.brasil247.com/blog/novas-vozes-nova-ordem-a-ascensao-do-sul-global