Em entrevista à TV 247, ex-deputado alerta para ofensiva dos Estados Unidos na América do Sul e defende integração regional como prioridade estratégica.
247 – O ex-deputado José Genoino afirmou que o Brasil deve reagir ao avanço da política externa dos Estados Unidos sobre a América do Sul e manifestar solidariedade inequívoca à Venezuela. As declarações foram dadas em entrevista à TV 247, em que o dirigente histórico do PT analisou o cenário geopolítico e os riscos à soberania dos países latino-americanos.
Ao comentar a chamada “Operação Lança do Sul”, anunciada pelo chefe do Departamento de Guerra dos Estados Unidos, Genoino alertou para uma escalada de ações militares e políticas destinadas a desestabilizar governos progressistas na região. “O imperialismo americano busca fazer uma guerra de comandos”, afirmou. “Ele vai procurar exercer comandos de ações dissuasórias de ataque à Venezuela.”
Imperialismo, instabilidade e o cerco à integração latino-americana
Segundo Genoino, o objetivo central de Washington é impedir qualquer consolidação de mecanismos de integração e cooperação na América do Sul – agenda historicamente defendida pelo presidente Lula desde seu primeiro governo. A crise política em países como Bolívia, Equador e Argentina, ele avalia, não é desconectada deste movimento.
“Ele tenta inviabilizar a integração latino-americana, que deveria ser o ponto central da nossa política externa”, afirmou. Para o ex-deputado, a região é estratégica por seu conjunto de riquezas – petróleo, minérios raros, proteínas e água doce – e por não possuir conflitos interestatais internos relevantes. “O conflito é exercido pelo imperialismo americano.”
Genoino defendeu que o Brasil não pode aceitar “qualquer tentativa de enquadramento geopolítico” e citou o economista Paulo Nogueira Batista Júnior: “O Brasil não cabe no quintal de nenhuma potência”.
Situação da Argentina: “submissão e humilhação”
O dirigente petista dedicou parte da entrevista à avaliação da crise argentina e da submissão de Javier Milei à política dos Estados Unidos. Para ele, o alinhamento automático de Buenos Aires aprofundará a instabilidade social e política no país.
“A Argentina abriu as portas para a submissão, para a humilhação”, afirmou. “Isso vai aprofundar a crise na Argentina.”
Genoino prevê a ascensão de grandes movimentos populares e nacionalistas em reação ao empobrecimento crescente. A manutenção da política externa argentina como “quintal” dos Estados Unidos, disse, significa “crise permanente”.
Declínio dos Estados Unidos e escalada global de violência
Mesmo reconhecendo o poder militar, financeiro e tecnológico dos Estados Unidos, Genoino avalia que o país vive um processo acelerado de desgaste.
Ele lembrou as divergências internas evidenciadas nas eleições recentes, a deterioração da relação com a Rússia em função da guerra na Ucrânia e o apoio irrestrito de Washington ao massacre contra o povo palestino. Ainda assim, advertiu: “O imperialismo tem dentes afiados, tem dinheiro e tem armas.”
Para o ex-deputado, a América Latina deve responder com um movimento internacional pela paz, pela democracia e contra o imperialismo.
Chacina no Rio de Janeiro e uso político do narcoterrorismo
Genoino destacou que a operação policial no Rio de Janeiro — que resultou em uma chacina — está sendo instrumentalizada por setores da extrema direita e pela mídia internacional para apresentar o Brasil como país incapaz de combater o narcoterrorismo.
Segundo ele, essa narrativa serve a dois propósitos: desgastar o governo Lula e justificar ações externas, incluindo as operações de comando anunciadas pelos EUA. “Eles querem se articular com a bandeira do narcoterrorismo para justificar operações militares e a articulação da extrema direita mundial”, afirmou.
Educação, cultura e crise social: “a pauta do povo tem que voltar ao centro”
A entrevista também abordou a precarização das condições de vida da população, especialmente no campo do trabalho, da cultura e da educação.
Genoino citou dados recentes: “Mais de 70% da população assalariada no Brasil ganha em média dois salários mínimos”. Ele associou o empobrecimento ao adoecimento social, agravado por jornadas como a escala 6×1, à expansão do setor privado de ensino e à falta de políticas públicas robustas.
Ele destacou a importância dos Pontos de Cultura criados no primeiro governo Lula e lamentou a ausência, no atual Congresso, de um ambiente favorável para reconstruir políticas educacionais democráticas. “A extrema direita e o Centrão convalidaram o modelo de destruição da educação”, disse.
Segurança pública: crítica à PEC das Facções e ao secretário Derrite
Ao comentar a crise na segurança pública, Genoino classificou como “retrocesso grave” a tentativa do governo Tarcísio de Freitas, articulada pelo secretário Derrite, de enfraquecer a competência federal e de ampliar a autonomia policial.
“O que o Derrite está fazendo é atender ao corporativismo policial da pior espécie”, afirmou. Ele criticou a fragmentação do sistema de segurança e defendeu a criação imediata de um Ministério da Segurança Pública, com integração entre União, estados e municípios.
Genoino enfatizou:
– “Segurança pública é força, é inteligência, é prevenção e dissuasão dirigida”;
– “O modelo atual faliu”.
Reformas estruturais para 2026 e defesa da soberania brasileira
O ex-deputado argumentou que a eleição de 2026 deve ser encarada como oportunidade para um grande programa de transformações estruturais no Brasil. Entre as prioridades, ele listou:
- reconstrução da educação pública;
- fortalecimento do SUS;
- nova política de segurança pública;
- reforma ampla do sistema político e eleitoral;
- reindustrialização e autonomia tecnológica;
- justiça tributária;
- políticas de ciência e tecnologia associadas à soberania nacional.
“Nós temos que avançar para realizar mudanças estruturais que melhorem a vida do povo”, afirmou.
O desafio colocado: resistir ao imperialismo e reconstruir o país
A entrevista de José Genoino termina com um alerta sobre a articulação da extrema direita mundial, a ação do imperialismo dos Estados Unidos na América Latina e a necessidade de o Brasil defender um projeto democrático, soberano e civilizatório.
“Temos que despertar a esperança e trabalhar pelo futuro para melhorar a vida das pessoas”, concluiu. Assista:
Foto: ABR
FONTE: https://www.brasil247.com/entrevistas/o-brasil-precisa-se-solidarizar-a-venezuela-afirma-jose-genoino