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“O Brasil precisa transformar vantagens comparativas em competitivas”, diz José Kobori

Economista defende que país use acordos com a China para impulsionar industrialização com transferência tecnológica e distribuição de riqueza.

247 – Em entrevista ao programa Boa Noite 247, o economista José Kobori afirmou que o Brasil está diante de uma encruzilhada histórica em sua estratégia de desenvolvimento. Para ele, o país precisa superar a condição de exportador de commodities e aproveitar o novo cenário geopolítico — marcado pela ascensão da China e pelo declínio dos Estados Unidos — para industrializar sua economia com base em um plano nacional, priorizando acordos que resultem em transferência de tecnologia e, sobretudo, em distribuição de riqueza.

“A gente tem que fazer o que é interessante pro desenvolvimento do nosso país”, declarou. Segundo ele, o Brasil precisa ter um projeto claro de industrialização e se relacionar com as potências globais com base nesse plano. “Foi o que a China fez no passado, foi o que o Japão fez, foi o que a Alemanha, a Coreia do Sul fizeram.”

Kobori destacou que o Brasil deve evitar a armadilha de estreitar laços com grandes economias apenas como fornecedor de matérias-primas. “Nosso agronegócio gera muita riqueza, mas essa riqueza fica extremamente concentrada. Quem realmente extrai riqueza é quem nos vende tecnologia”, explicou, citando o caso de empresas internacionais que fornecem os principais insumos para o campo brasileiro. Para ele, “o Brasil deveria desenvolver a indústria do agronegócio, que está realmente na fronteira tecnológica”.

O economista vê na aproximação com a China uma oportunidade concreta para esse movimento. “O Brasil poderia aproveitar agora esse momento, talvez, para desenvolver a nossa indústria com transferência de tecnologia”, defendeu. Ele também ressaltou que os acordos devem incluir exigências para garantir contrapartidas, como acesso a tecnologias avançadas, o que não ocorreu em ciclos anteriores, como após a adoção das diretrizes do Consenso de Washington.

Kobori fez críticas diretas ao papel histórico dos Estados Unidos na região e à estratégia protecionista do presidente Donald Trump, reeleito em 2025. “O império americano está em declínio, e o que o Trump está fazendo é acelerar esse declínio”, afirmou. Para ele, a tentativa de reindustrialização norte-americana falha porque “não é possível produzir nos Estados Unidos sem triplicar o preço das mercadorias”, o que inviabiliza a competitividade.

Ao comentar a crescente dependência brasileira da China, o economista sugeriu que o Brasil assuma uma postura mais assertiva. “A China precisa de parceiros para enfrentar os Estados Unidos, precisa do nosso mercado consumidor, precisa do Brasil mais forte. Temos cartas para negociar dentro dos BRICS”, afirmou. “A gente tem que fazer valer a nossa força, até porque o Brasil é um país continental.”

Para Kobori, o modelo ideal seria inspirar-se nas experiências de industrialização asiáticas, mas com atenção à distribuição de renda. “A gente não pode cair na armadilha de caminhar para a fronteira tecnológica e não distribuir essa riqueza”, disse. Ele alertou que tanto o modelo capitalista dos EUA quanto o socialismo de mercado chinês enfrentam contradições relacionadas à concentração de renda. “Temos que aprender com o modelo chinês aquilo que se adeque ao nosso plano de desenvolvimento.”

Kobori também avaliou que o governo brasileiro atual dá sinais de que pode aproveitar essa nova conjuntura. “Eu confio que pelo menos uma equipe competente a gente tem no Ministério da Indústria e Comércio”, afirmou. “Agora a gente precisa de condições políticas para que isso seja feito.”

Ao final da conversa, o economista reafirmou a necessidade de o Brasil agir com independência estratégica: “Não sou a favor dos Estados Unidos nem da China. Sou a favor do Brasil. E quem é que vai nos ajudar a desenvolver a nossa economia é com quem a gente tem que fazer os melhores negócios.” Assista:

Foto: Ricardo Stuckert | Brasil247

FONTE: https://www.brasil247.com/entrevistas/o-brasil-precisa-transformar-vantagens-comparativas-em-competitivas-diz-jose-kobori