O Brasil está sentado em cima de uma combinação única de ativos estratégicos. Somos uma potência energética limpa, donos da maior biodiversidade do planeta, líderes globais em agricultura tropical avançada e um celeiro de talentos criativos e tecnológicos. É um conjunto que qualquer país desenvolvido invejaria.
Mas potencial, sozinho, é só promessa — e promessa não move PIB.
O ativo que falta não está no pré-sal, na Amazônia, nos campos agrícolas ou nos laboratórios. O que falta é um arranjo institucional sólido, capaz de transformar vantagens naturais em valor agregado industrial, de converter conhecimento em inovação e de transformar nossa posição estratégica em liderança global real.
Hoje, o Estado brasileiro falha exatamente onde deveria ser forte: na capacidade de organizar, coordenar e direcionar. Não é um problema de “Estado grande” ou “Estado pequeno”. É um problema de Estado desarrumado.
Nosso Legislativo opera movido pelo pragmatismo imediato, costurando agendas que raramente convergem para um projeto nacional; o Judiciário navega com lógica própria, desconectado das urgências produtivas; e o Executivo é fragmentado em ilhas de poder sem coordenação, sem bússola, sem uma missão explícita de desenvolvimento que alinhe seus órgãos, estatais, bancos públicos e agências de inovação.
O paradoxo é cruel:
o Estado é pesado, mas fraco.
É um paquiderme — volumoso, lento, dividido, incapaz de empurrar o país para frente, mas grande o suficiente para atrapalhar quando se move de forma errática.
Ao contrário do que pregam os ultra liberais, o problema do Brasil não é excesso de Estado — é falta de Estado capaz. Faltam estratégia, coesão, governança orientada por missões e clareza sobre como transformar energia limpa em indústria verde, biodiversidade em biotecnologia, agricultura avançada em máquinas e tecnologias agrícolas, talentos em inovação exportável.
O século XXI está aberto para países que combinam ativos naturais com um Estado inteligente e um setor privado dinâmico. O Brasil já tem quase tudo.
Só falta o ativo mais raro: instituições que transformem potencial em potência.
E essa é a escolha que está sobre a mesa agora.
FONTE: https://www.paulogala.com.br/o-brasil-tem-os-ativos-do-seculo-xxi-falta-o-ativo-que-organiza-todos-os-outros/