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O capítulo mais vergonhoso da nossa história

Trump não quer aliados; quer vassalos, sabujos, gente que esteja disposta a trair e vender o Brasil.

Dante Alighieri, em sua Divina Comédia, coloca os traidores no último e mais profundo círculo do inferno, o que fica no rio de gelo Cócito, onde reside o próprio Lúcifer, o mais asqueroso dos traidores. Na Esfera da Antenora, a pouca distância de Lúcifer, são punidos os traidores de sua pátria. Suas almas ficam submersas ao nível do pescoço, com apenas suas cabeças fora do gelo.

Pois bem, todos aqueles que apoiam Trump e estimularam sua ação contra o Brasil estarão lá, imersos no gelo do Cócito por toda a eternidade, tendo como companhia o Príncipe das Trevas, aquele traidor maior, que traiu o próprio Deus.

Esses traidores do Brasil, gente canalha e mafiosa, como ressalta o próprio Estadão, merecem o castigo e, sobretudo, a companhia constante e próxima de Lúcifer, que tanto os inspira.

Com efeito, não há canalhice maior que a do traidor da pátria, que visa prejudicar seu próprio país, seu povo e sua democracia.

Mas, evidentemente, Trump, em todo esse imbróglio, tem interesses maiores que a simples defesa de Bolsonaro, um anão político, que ele mesmo despreza, apesar dos elogios da inacreditável carta a Lula.

Há, de fato, interesses maiores em jogo. Interesses geopolíticos.

A liderança regional do Brasil, embora justamente centrada na relativa autonomia da América Latina, na recusa a alinhamentos automáticos com quaisquer potências extrarregionais, e avessa à adesão descabida à nova “Guerra Fria” é, do nosso ponto de vista, o obstáculo mais significativo à efetivação da nova e crua Doutrina Monroe, que Trump sonha implementar em nossa região. Como Pete Hegseth, o Secretário de Defesa de Trump, afirmou: “precisamos recuperar nosso quintal”.

E Lula, sabem eles, é uma formidável barreira a essa pretensão imperialista crua e vergonhosa.

O Brasil de Lula é, na América Latina, a vanguarda da aliança do Sul Global com o BRICS e da construção de uma ordem global “anti-imperialista”, fundada na multipolaridade e na reconstrução do multilateralismo. O Brasil, gostem ou não os “vira-latas” de sempre, é uma peça estratégica no tabuleiro mundial do xadrez geopolítico.

Estamos “na mira”, por certo, como ficou evidenciado ontem, com essa absurda taxação de 50%, a maior até agora.

Não é à toa que essa decisão de Trump vem logo após a reunião do BRICS, no Rio de Janeiro.

Destacamos que tal medida, brutal e absurda, não possui quaisquer justificativas técnicas, pois o Brasil, desde 2009, apresenta, sistematicamente, déficit comercial com os EUA, tanto em comércio de bens quanto em comércio de serviços, o que ocasionou um prejuízo acumulado ao Brasil de cerca de US$ 88, 8 bilhões, apenas no comércio de bens.

Salientamos, ademais, que tal medida, violenta e unilateral, contraria frontalmente os princípios da Organização Mundial do Comércio (OMC), entre os quais destacamos os da “não discriminação”, o da “previsibilidade”, e o da “concorrência leal”.

Tal medida, se mantida, poderá afetar os interesses de cerca de 10 mil empresas brasileiras que exportam para os EUA e o emprego de milhões de brasileiros, principalmente nos setores que produzem aviões, peças de carros, suco de laranja, carnes, aços e outros produtos estratégicos.

Trump sabe para onde atira.

Para os interesses de Trump e do MAGA, o ideal, é óbvio, seria substituir o governo Lula por um governo de extrema-direita e submisso, ainda que com algum verniz de “civilização”.

O governo Trump está se transformando rapidamente num sistema fortemente autoritário, que deverá comprometer a democracia dos EUA e procurará comprometer as democracias no mundo inteiro, especialmente em suas áreas de influência próximas e decisivas.

Trump não quer aliados; quer vassalos. Quer sabujos. Gente que esteja disposta a trair e vender o Brasil. Ele sabe quem são. Sabe que pode encontrá-los no rio Cócito. Estão lá, com a cabeça de fora do gelo, usando o boné do MAGA.

Com o apoio de Trump, vão querer transformar “o Brasil inteiro num puteiro,” como diria o finado Cazuza. Imaginem as negociatas que poderiam vir!

Trump declarou guerra ao Brasil, ao seu povo e à sua democracia. E os companheiros de Lúcifer salivam, latem e abanam os rabos malcheirosos.

É, talvez, o capítulo mais vergonhoso da nossa História.

Foto: Joyce N. Boghosian/White House

FONTE: https://www.brasil247.com/blog/o-capitulo-mais-vergonhoso-da-nossa-historia