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“O desenvolvimento deve ter como meta a superação da desigualdade”, diz Dilma

Presidenta do Banco do BRICS defende cooperação tecnológica, sustentabilidade e foco nas pessoas como pilares do crescimento no Sul Global.

247 – A presidenta do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), Dilma Rousseff, afirmou nesta quinta-feira (19), durante a cerimônia de abertura do Fórum Econômico Internacional de São Petersburgo, que o desenvolvimento econômico brasileiro precisa ter como objetivo central a superação da desigualdade. A declaração foi feita um dia após sua reunião com o presidente da Rússia, Vladimir Putin, segundo informa a agência Sputnik.

Reconduzida à presidência do NDB por sugestão da própria Rússia — que assumiria o comando do banco neste ciclo rotativo —, Dilma recebeu o reconhecimento de Putin pelo trabalho à frente da instituição. “Estou muito feliz de vê-la aqui. Em primeiro lugar, queria parabenizá-la pela sua reeleição para o cargo de chefe do Novo Banco de Desenvolvimento”, declarou o presidente russo. “Isso significa que todos os membros do banco avaliam muito bem o seu trabalho.”

Um banco voltado para as pessoas e o meio ambiente

Com sede em Xangai, o NDB — conhecido como Banco do BRICS — é responsável pelo financiamento de projetos em países do Sul Global, com foco em responsabilidade ambiental e soberania. Desde 2023, o banco já aprovou 120 projetos, totalizando cerca de US$ 39 bilhões (R$ 214 bilhões), entre eles iniciativas no Brasil como a reconstrução do Rio Grande do Sul após as enchentes de 2024, além de projetos em logística e energia renovável.

Dilma ressaltou a diferença entre o NDB e instituições financeiras tradicionais. “Nós não impomos condicionalidade. No passado, alguns bancos chegavam para o Brasil, por exemplo, e diziam: ‘Se vocês não privatizarem todo o setor elétrico, não terão investimento’. Nós não. O banco é proibido de criar quaisquer condições para financiar, a não ser técnicas e ambientais”, explicou.

Durante o encontro com Putin, Dilma anunciou a incorporação de dois novos membros ao NDB — Uzbequistão e Colômbia — e afirmou que outras adesões estão em avaliação. Sob sua liderança, o banco já havia expandido para integrar a Argélia.

Rumo à quarta revolução tecnológica

Dilma afirmou que o Brasil precisa se posicionar com firmeza diante da Quarta Revolução Industrial. Para isso, segundo ela, é essencial ir além da dependência de commodities e inserir o país em áreas estratégicas como inteligência artificial e biotecnologia. “Nós precisamos ter acesso à inteligência artificial, à biotecnologia. Não devemos ser só consumidores de plataformas [digitais]. E isso temos que trocar dentro do BRICS”, afirmou. “A Rússia, a China e o Brasil têm tecnologia […], e isso permite que se crie um ecossistema de cooperação.”

Ela argumentou que todos os países que alcançaram altos níveis de desenvolvimento o fizeram por meio da transferência de tecnologia: “Para isso, a cooperação entre os países será fundamental. A troca do que […] um país sabe fazer melhor que o outro.”

Apesar de reconhecer a importância da agricultura e das exportações de matérias-primas, Dilma alertou: “O Brasil não pode ser só isso”.

Planejamento de longo prazo e continuidade

Dilma defendeu que o país adote planos de desenvolvimento de longo prazo, inspirando-se em modelos adotados na Ásia Central e no Oriente Médio. “Temos de garantir que não haja descontinuidade. É muito desagradável quando um programa que está crescendo é interrompido por qualquer outra razão que não técnica”, afirmou. “Veja os países da Ásia Central, do Oriente Médio: quase todos têm programas de crescimento no horizonte de 2030, 2040 ou até 2050.”

A presidenta do NDB reiterou que o foco do desenvolvimento deve ser o bem-estar da população. “O banco deve pensar em desenvolvimento concentrado nas pessoas. Ou seja, tem que ser um desenvolvimento para melhorar a vida das pessoas”, disse. “É impossível um desenvolvimento […] que não tenha como objetivo a superação da desigualdade.”

Esse princípio explica também o foco do banco em sustentabilidade. “Um desenvolvimento ambientalmente correto, mas que visa diminuir a desigualdade dentro dos países. Esta é uma questão crucial – que a prosperidade seja algo compartilhada”, afirmou Dilma.

O Sul Global como protagonista

Encerrando sua participação, Dilma reforçou a importância de iniciativas como o Fórum Econômico Internacional de São Petersburgo para a construção de uma nova ordem econômica mais justa. Apontando para o salão onde estavam reunidos representantes de dezenas de países do Sul Global, ela resumiu: “Você está vendo isso aqui? O encontro é fundamental”.

Dilma Rousseff defende que o futuro do desenvolvimento passa pela cooperação multilateral, transferência tecnológica e justiça social — um caminho no qual o Brasil deve ser protagonista.

Foto: Sputnik

FONTE: https://www.brasil247.com/economia/o-desenvolvimento-deve-ter-como-meta-a-superacao-da-desigualdade-diz-dilma