No Brasil, o telefone tradicional praticamente deixou de existir. Quase ninguém mais atende chamadas de números desconhecidos. A razão? Uma combinação explosiva de golpes, spam, telemarketing agressivo e a falta de ação eficaz das autoridades para conter esses problemas. O resultado é que a população migrou em massa para o WhatsApp, aplicativo de mensagens do bilionário Mark Zuckerberg, que se tornou a principal ferramenta de comunicação do país. No entanto, essa dependência quase absoluta de uma única plataforma controlada por uma Big Tech representa um risco enorme para a sociedade brasileira, especialmente em um cenário global onde o poder das grandes empresas de tecnologia é cada vez mais questionado.
A Ascensão do WhatsApp no Brasil
O WhatsApp chegou ao Brasil em 2009 e rapidamente se tornou o aplicativo de mensagens preferido dos brasileiros. Sua simplicidade, gratuidade e eficiência conquistaram usuários de todas as idades e classes sociais. Hoje, o Brasil é o segundo maior mercado do aplicativo, com mais de 160 milhões de usuários ativos. Para muitos, o WhatsApp não é apenas uma ferramenta de comunicação, mas uma extensão do cotidiano: é usado para trabalho, estudos, relacionamentos, negócios e até para serviços públicos.
No entanto, essa dependência extrema de uma única plataforma trouxe consigo uma série de problemas. O primeiro deles é a centralização do poder nas mãos de uma empresa estrangeira, a Meta (antigo Facebook), controlada por Mark Zuckerberg. Se o WhatsApp sair do ar por algum motivo técnico, político ou estratégico, o Brasil praticamente para. Empresas deixam de funcionar, serviços públicos são interrompidos, e a comunicação entre milhões de pessoas é cortada.
O Risco da Dependência de uma Única Plataforma
A centralização das comunicações em uma única plataforma é um problema grave. Em outubro de 2021, o mundo inteiro viu o que acontece quando as plataformas da Meta sofrem uma falha global. Facebook, Instagram e WhatsApp ficaram fora do ar por horas, causando caos em diversos setores. No Brasil, o impacto foi sentido de forma ainda mais intensa, já que o WhatsApp é amplamente utilizado para negócios, transações financeiras e até para a prestação de serviços públicos.
Além disso, a Meta tem o poder de decidir quem pode ou não usar o WhatsApp. Em casos extremos, a empresa pode bloquear contas ou até mesmo restringir o acesso ao aplicativo em determinadas regiões. Isso coloca o Brasil em uma posição vulnerável, já que não há um plano B eficaz para substituir o WhatsApp em caso de uma eventual interrupção.
A Falta de Alternativas e a Inércia das Autoridades
Um dos maiores problemas é a falta de alternativas viáveis ao WhatsApp. Apesar de existirem outros aplicativos de mensagens, como Telegram e Signal, nenhum deles conseguiu atingir a mesma penetração e popularidade. Além disso, a infraestrutura de telecomunicações no Brasil ainda é precária em muitas regiões, o que dificulta a adoção de soluções mais descentralizadas.
As autoridades brasileiras, por sua vez, parecem ignorar o risco que essa dependência representa. Não há políticas públicas eficazes para incentivar a concorrência no setor de mensagens instantâneas ou para garantir que os cidadãos tenham acesso a alternativas seguras e confiáveis. Enquanto isso, a Meta continua a expandir seu domínio, sem qualquer tipo de regulação ou controle por parte do governo brasileiro.
O Papel das Big Techs no Cenário Global
O problema não se limita ao Brasil. Em todo o mundo, as Big Techs têm acumulado um poder sem precedentes, controlando não apenas as comunicações, mas também o fluxo de informações, o comércio eletrônico e até a política. Empresas como Meta, Google, Amazon e Apple têm mais influência do que muitos governos, e suas decisões podem impactar diretamente a vida de bilhões de pessoas.
No caso do Brasil, a dependência do WhatsApp é um exemplo claro de como as Big Techs podem se infiltrar em aspectos fundamentais da sociedade. Se Mark Zuckerberg decidir, por qualquer motivo, desligar o WhatsApp no Brasil, o país ficaria completamente desestabilizado. Isso coloca em xeque a soberania nacional e a capacidade do governo de garantir serviços essenciais à população.
O Que Pode Ser Feito?
Para reduzir o risco de dependência de uma única plataforma, é necessário adotar uma série de medidas. Em primeiro lugar, o governo brasileiro precisa investir em infraestrutura de telecomunicações, garantindo que todas as regiões do país tenham acesso à internet de qualidade. Além disso, é fundamental incentivar a concorrência no setor de mensagens instantâneas, apoiando o desenvolvimento de aplicativos nacionais e seguros.
Outra medida importante é a regulamentação das Big Techs. O poder dessas empresas precisa ser controlado, e isso só pode ser feito por meio de leis e políticas públicas eficazes. O Brasil deve seguir o exemplo de outros países que já estão adotando medidas para limitar o domínio das grandes empresas de tecnologia.
Por fim, é essencial conscientizar a população sobre os riscos de depender de uma única plataforma. As pessoas precisam entender que, ao confiar todas as suas comunicações a uma única empresa, estão colocando em risco sua privacidade, segurança e até mesmo a estabilidade do país.
Conclusão
A dependência do WhatsApp no Brasil é um exemplo claro dos riscos associados ao domínio das Big Techs. Enquanto as autoridades brasileiras não agirem para reduzir essa dependência e garantir a soberania nacional nas comunicações, o país continuará refém de Mark Zuckerberg e de suas decisões. É hora de acordar para essa realidade e tomar medidas concretas para proteger o futuro das comunicações no Brasil.
FOTO: Wikimedia Commons
FONTE: Agência de Notícias ABJ – Associação Brasileira dos Jornalistas
( Reprodução autorizada mediante citação da fonte: Agência de Notícias ABJ – Associação Brasileira dos Jornalistas )