5 Lições do Desenvolvimento Chinês.
Como um país consegue sair da pobreza para se tornar uma potência tecnológica em apenas algumas décadas?
A história do desenvolvimento chinês desafia tudo que pensávamos saber sobre crescimento econômico.
Enquanto muitos países seguiram à risca as recomendações do Consenso de Washington – privatizando empresas estatais, abrindo mercados e cortando gastos públicos – a China escolheu seu próprio caminho. E os resultados são impressionantes.
De Shenzhen produzindo 70% dos tablets do mundo a trens que viajam a 400 km/h, a China não só aprendeu a tecnologia ocidental – ela a está superando.
Bônus: Muita gente não sabe, mas a China já domina a robótica mundial!
Como isso foi possível?
Vamos explorar as 5 lições cruciais do “milagre chinês” que desafiam a sabedoria econômica convencional.
1/ O Poder do “Não”: Como Desobedecer Trouxe Prosperidade
A primeira grande lição do caso chinês é que seguir recomendações econômicas ortodoxas nem sempre é o melhor caminho. A China foi o “pior aluno” do Consenso de Washington – e justamente por isso teve sucesso.
2/ O Grande Jogo da Transferência Tecnológica
A estratégia chinesa de desenvolvimento envolveu uma combinação inteligente de:
- Uso do mercado interno como moeda de troca
- Empresas ocidentais queriam acesso aos consumidores chineses
- China exigia transferência de tecnologia como contrapartida
- Parcerias estratégicas forçadas
- Joint ventures obrigatórias com empresas locais
- Aprendizado tecnológico como prioridade
- Engenharia reversa e “empréstimo” de propriedade intelectual
- Foco em dominar tecnologias-chave
- Investimento massivo em capacitação local
- Escala como vantagem competitiva
- Mão de obra abundante e qualificada
- Infraestrutura de produção massiva
3/ O Boomerang do Ocidente
Ironicamente, foram as próprias empresas ocidentais que, na busca por custos menores, acabaram capacitando seu maior competidor:
- Terceirização da produção para a China
- Transferência de conhecimento industrial
- Treinamento de mão de obra local
- Desenvolvimento de fornecedores
Quando o Ocidente percebeu o que havia criado, era tarde demais – o “filhote de dragão” já tinha crescido.
4/ Estatais Podem Ser Eficientes
Contrariando o mantra neoliberal de que empresas estatais são necessariamente ineficientes, a China mostrou que:
- Estatais podem ser competitivas globalmente
- Investimento público é crucial para inovação
- Estado e mercado podem trabalhar juntos
- Planejamento de longo prazo importa
5/ A Verdadeira Face do Desenvolvimento
A experiência chinesa nos ensina que desenvolvimento econômico é:
- Mais sobre capacidades produtivas que livre mercado
- Mais sobre aprendizado tecnológico que privatizações
- Mais sobre estratégia industrial que austeridade fiscal
- Mais sobre ação estatal que desregulamentação
Quem Ri Por Último, Ri na China
Como diz o velho ditado: “Se você não pode vencê-los, junte-se a eles”.
A China reescreveu isso para: “Se eles se juntarem a você, aprenda com eles até poder vencê-los”.
O caso chinês mostra que o verdadeiro desenvolvimento não vem de seguir cartilhas prontas, mas de construir capacidades produtivas e tecnológicas próprias.
Enquanto o Brasil seguia obedientemente as recomendações de Washington, a China construía seu próprio caminho – e hoje colhe os frutos dessa ousadia.
Em um mundo onde a fronteira tecnológica se move cada vez mais rápido, a lição mais importante da China é que não existe desenvolvimento sem aprendizado.
E às vezes, para aprender, é preciso desobedecer.
AUTOR: Paulo Gala / Graduado em Economia pela FEA-USP | Mestre e Doutor em Economia pela Fundação Getúlio Vargas em São Paulo | Foi pesquisador visitante nas Universidades de Cambridge UK e Columbia NY | Autor com +10,000 cópias de livros vendidas | Geriu carteiras de +R$ 3,000,000,000 | Professor na FGV/SP há 20 anos.
FONTE: paulogala.com.br