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O grampo ilegal de Moro e o silêncio cúmplice da “grande mídia”

Revelação dos grampos ilegais expõe a cumplicidade histórica da imprensa com os abusos da Lava Jato e aprofunda o desgaste da mídia corporativa diante dos fatos.

Finalmente chegou o grande dia para todos aqueles que, nos últimos 11 anos, denunciaram de maneira combativa e corajosa os abusos persecutórios de Sérgio Moro e da chamada “República de Curitiba”. A Polícia Federal encontrou um despacho em que Moro determina o grampo de autoridades com foro por prerrogativa de função, obrigando o uso de escutas em investigados e delatores. Fica confirmado, assim, que a denúncia feita com exclusividade ao Brasil 247 pelo empresário e ex-deputado estadual Tony Garcia era verdadeira.

Se a mídia corporativa questionou a validade da “Vaza Jato” por ter se baseado em um suposto ato criminoso do hacker de Araraquara, Walter Delgatti Neto, o que Veja, Globo, Estadão, Jovem Pan e O Antagonista irão dizer agora? O que a operação de busca e apreensão da Polícia Federal na 13ª Vara Federal de Curitiba revela é que boa parte das investigações da Lava Jato pode ter sido fruto de uma ação criminosa praticada por aquele que tinha por dever de função zelar pela legalidade: o então juiz Sérgio Moro.

Resta saber se o Jornal Nacional desta noite apresentará a notícia da escuta criminosa conduzida por Moro com a mesma estética e estardalhaço que marcaram as matérias da Lava Jato: a vinheta dos dutos de esgoto de dinheiro ao fundo do estúdio. A Rede Globo, ao lado da revista Veja, foi um dos principais pilares de sustentação de uma verdadeira organização que levou um ex-presidente da República e inúmeros inocentes à prisão. Em 2015, no auge da fabricação de um “mito”, de um falso “herói” justiceiro, a empresa dos Marinho chegou ao cúmulo de conceder a Moro o prêmio de Personalidade do Ano.

O grampo ilegal determinado por Sérgio Moro, revelado em reportagem da jornalista Daniela Lima, estampou a manchete do UOL nas primeiras horas da manhã desta quarta-feira (17/12). O destaque teve ampla repercussão no Brasil 247 e nas mídias progressistas. Já a mídia tradicional, instrumentalizada pelos interesses da elite econômica, agora se cala. Enfia a cabeça no buraco como um avestruz. Não cumpre seu papel primordial: informar com honestidade e responsabilidade o seu leitor. Pior ainda, não faz sequer o que sempre exigiu dos petistas: a autocrítica, o mea-culpa.

Quanto tempo será necessário para que a Globo peça desculpas por ter apoiado, de forma indecente, a Operação Lava Jato? Se tomarmos como referência o tardio arrependimento pelo apoio ao golpe militar de 1964, talvez sejam necessários mais 49 anos. Mas, diante do avanço das big techs e do colapso do monopólio da informação, é possível que não haja tempo suficiente para que a emissora faça sua autocrítica. A história, no entanto, já começou a cobrar a conta. E, desta vez, os fatos falam mais alto do que o silêncio editorial.

Foto: Reprodução/Globo

FONTE: https://www.brasil247.com/blog/o-grampo-ilegal-de-moro-e-o-silencio-cumplice-da-grande-midia