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“O Irã é hoje um ator estratégico para Rússia e China”, diz Marco Fernandes

Analista geopolítico afirma que o ataque israelense atinge o coração das rotas comerciais do BRICS.

247 – O analista geopolítico Marco Fernandes, do Brasil de Fato, afirmou nesta sexta-feira (20), em participação no programa Bom Dia 247, que os ataques de Israel contra o Irã devem ser compreendidos como uma ofensiva estratégica contra o bloco dos BRICS e o projeto de integração eurasiático liderado por China e Rússia. “O Irã é hoje um ator estratégico para Rússia e China”, declarou, enfatizando que o país persa se tornou peça-chave na disputa global por rotas comerciais, influência política e alternativas ao sistema hegemonizado pelo dólar.

“O mundo inteiro está atento ao conflito entre Irã e Israel”, disse Fernandes, alertando para os riscos de uma escalada militar de proporções globais. Segundo ele, além de envolver os dois países diretamente, o confronto toca em interesses centrais de potências como China e Rússia, e pode comprometer projetos de infraestrutura considerados essenciais para a consolidação de uma nova ordem multipolar. “É também uma guerra contra os BRICS”, resumiu.

O Irã, segundo Fernandes, ocupa uma posição central em duas grandes rotas comerciais: a ferrovia China-Irã e o Corredor Internacional de Transporte Norte-Sul, que liga a Rússia à Índia, passando pelo território iraniano. “Para a China, o Irã é um parceiro essencial, porque permite escapar das rotas marítimas dominadas por forças navais dos Estados Unidos”, explicou. Teerã se consolidou, portanto, como um “hub” de conectividade euroasiática e um elo vital no esforço dos BRICS de reconfigurar os fluxos comerciais globais.

Fernandes destacou que, na visão geopolítica dominante em Washington, esse avanço representa uma ameaça. “Tem gente na Casa Branca que não quer permitir que isso aconteça”, afirmou. O analista lembrou que o ex-conselheiro de segurança nacional Zbigniew Brzezinski já havia advertido, em O Grande Tabuleiro, que o pior cenário para os Estados Unidos seria uma aliança entre Rússia, China e Irã. “O que está acontecendo é sim um ataque contra os BRICS”, reforçou.

Os mísseis hipersônicos do Irã

O fortalecimento tecnológico do Irã também foi abordado. Fernandes avaliou que o desenvolvimento de armamentos de ponta, como mísseis hipersônicos, dificilmente teria ocorrido sem o apoio direto da Rússia. “Míssil hipersônico não cai do céu. É impossível que o Irã tenha chegado a isso sem apoio da Rússia”, pontuou.

Ao falar sobre os rumos do bloco, Fernandes criticou a postura da Índia, que, segundo ele, se afasta do “núcleo duro” do grupo formado por Rússia e China. Por outro lado, defendeu uma atuação mais ativa do Brasil no sentido de preservar a estabilidade internacional. “É importante que Brasil e BRICS evitem uma guerra”, afirmou.

Ele antecipou que a próxima cúpula do BRICS, marcada para acontecer no Rio de Janeiro em julho, será particularmente delicada, mesmo numa cúpula em que os dois protagonistas dos BRICS, Vladimir Putin e Xi Jinping, não estarão no Rio de Janeiro. Ainda assim, temas estruturantes estarão em pauta, como a criação de sistemas de pagamento alternativos que reduzam a dependência do dólar.

Por fim, Fernandes defendeu a entrada da Venezuela no bloco. “A Venezuela tem 19% das reservas mundiais de petróleo. E os países do BRICS já têm 50%”, disse. Segundo ele, a adesão venezuelana ampliaria a força energética do grupo e aprofundaria sua influência sobre os fluxos de energia globais.

A análise de Marco Fernandes reforça que a ofensiva contra o Irã ultrapassa os limites de um conflito regional: trata-se de uma tentativa de minar a consolidação de um novo eixo de poder global, centrado na Eurásia e nos BRICS ampliados. Nesse cenário, o Brasil pode desempenhar um papel crucial como articulador da paz e defensor de uma ordem mundial mais justa e multipolar. Assista:

FONTE: https://www.brasil247.com/entrevistas/o-ira-e-hoje-um-ator-estrategico-para-russia-e-china-diz-marco-fernandes