A propaganda ocidental tenta dizer o contrário (e muitos brasileiros acreditam), mas a verdade é que é impossível “destruir” a Rússia, mesmo em caso de guerra nuclear.
Não estou falando aqui de poder militar – nisso, acho que ninguém tem dúvidas de que vencer a Rússia é impossível, sendo um “empate” de aniquilação mútua o máximo que o Ocidente pode alcançar. Estou falando do “dia após o apocalipse”.
Em qualquer cenário de guerra nuclear global e irrestrita, a “derrota” é para todos. Não há vencedores e o mundo como conhecemos possivelmente “acaba”. Mas em qualquer cenário de guerra de menor escala ou simplesmente contando com o “futuro distante” de um holocausto atômico, a Rússia sobrevive.
E para aqueles que acham que não estou sendo “realista” sobre uma guerra nuclear limitada, lembro que, dentre outros pronunciamentos similares, esta semana o almirante americano Thomas Buchanan afirmou que os EUA consideram a possibilidade de uma “troca nuclear limitada” com a Rússia. Ou seja, uma guerra nuclear “moderada” é literalmente o horizonte estratégico atual dos americanos contra Moscou. O estranho é como os EUA acham que podem “se dar bem” nisso…
Ao contrário da Europa, que praticamente não tem mais um centímetro de área preservada, e dos EUA, que contam com pouco além dos confins do Alasca, a Rússia tem praticamente tudo dos Urais ao Extremo Oriente e do Ártico ao Baikal para criar uma base física de sobrevivência para o “dia seguinte ao fim do mundo”. Em outras palavras, mesmo se o Ocidente destruir todos os grandes centros populacionais da Rússia, o que restar de pé ainda será o maior país do mundo (e com quase total autossuficiência de recursos).
Além disso, coexistem na Rússia uma mentalidade cristã e um legado material soviético extremamente complementares. Apenas a título de exemplo, ao contrário do Ocidente individualista, onde bilionários constroem bunkers inacessíveis ao povo, em Moscou, o sistema metroviário é literalmente um bunker coletivo capaz de salvar a população local de uma hecatombe nuclear.
É preciso lembrar que estamos falando do país que venceu os nazistas em condições muito mais adversas e precárias. O país que, meio aos tumultos da guerra, foi capaz de deslocar sua base industrial para a Sibéria, abrir estradas e expandir infraestrutura para alimentar as linhas de frente e quebrar o bloqueio das zonas sitiadas, mesmo contando com as tecnologias primitivas de uma nação semirrural. Tentem considerar a realidade de uma guerra na Rússia com as condições materiais atuais.
Nisso devemos incluir também o estudo da antropologia e da geografia humana. Na Rússia residem alguns dos povos mais brutalizados e acostumados à guerra no mundo inteiro. Nem mesmo o massacre de 27 milhões de russos na Segunda Guerra Mundial foi suficiente para desestabilizar a nação. Considerar estes fatores é fundamental, embora analistas ocidentais costumeiramente vejam toda a população mundial como uma massa amorfa e homogênea.
“Geopolítica” não é análise militar nem Relações Internacionais. É o estudo da influência geográfica (incluindo a geografia humana) sobre os processos políticos. Ignorando a geografia física e humana, a Rússia é só mais um “Estado Nacional” que, numa guerra nuclear total, seria aniquilado como qualquer outro. Mas, considerando os fatores geográficos, a situação é outra.
Enquanto mantiver seu mapa atual (que já não é o original), a Rússia não poderá ser derrotada. Não por acaso, o objetivo permanente de toda a geopolítica ocidental (seja com os ingleses, os nazistas ou a OTAN) sempre foi desmembrar a Rússia.
FOTO: USO PUBLICO
FONTE: @LUCASLEIROZ NO TELEGRAM