É necessário tomar muito cuidado com a classificação de criminosos comuns como “narcoterroristas”.
Resposta rápida: a “Guerra ao Terror”, iniciada pelos EUA em 2001, com papel central de Dick Cheney, vice-presidente à época de Bush Filho, recentemente falecido.
Segundo dados da ONU, as vítimas da “Guerra ao Terror” incluem 940 mil vítimas letais diretas e cerca de 3,5 milhões de vítimas letais indiretas (ocorridas nas intervenções, como no Iraque e no Afeganistão), mortes essas ocasionadas pelos efeitos devastadores da guerra na infraestrutura básica dos países, na distribuição de alimentos e nos sistemas de saúde. Milhões também foram deslocados, e um número significativo de vítimas são crianças que sofrem de desnutrição, ferimentos e traumas.
Ao todo, desde 2001, a “Guerra ao Terror” teria provocado, então, cerca de 4,5 milhões de mortes. As recentes mortes em Gaza não estão incluídas no cômputo. O brasileiro Jean Charles, assassinado com 12 tiros na cabeça em Londres, foi uma dessas vítimas.
Em contrapartida, dados de fontes como o Banco de Dados Global sobre Terrorismo (GTD) indicam que dezenas de milhares de pessoas morreram em ataques terroristas desde 2000, com um relatório estimando pelo menos 140 mil mortes entre 2000 e 2014.
Em anos mais recentes, teriam morrido outras 180 mil, perfazendo um número total de 320 mil. Tal cifra representa somente 7% das mortes ocasionadas pela “Guerra ao Terror”.
A maior parte dessas vítimas de terrorismo proveio de cinco países: Iraque, Afeganistão, Paquistão, Nigéria e Síria. Tais países contribuíram com 80% de todas as mortes por terrorismo.
De forma significativa, quatro desses países (Iraque, Afeganistão, Síria e Paquistão) foram desestabilizados pela “Guerra ao Terror”. Iraque e Síria, por exemplo, entraram em profundos conflitos internos devido às intervenções militares desastradas dos EUA. Assim, a “Guerra ao Terror” provocou, paradoxalmente, muito mais terrorismo no Grande Oriente Médio.
No Ocidente, o quadro é bem mais calmo. Nos EUA, entre 2001 e 2014, 3.066 americanos foram mortos em ataques terroristas, a grande maioria tendo ocorrido nos ataques de 11 de setembro de 2001, antes, portanto, da Guerra ao Terror.
Na Europa, calcula-se que o total de vítimas fatais tenha sido de cerca de 3.600, a maioria tendo ocorrido nos anos 2000, logo após a deflagração da Guerra ao Terror, principalmente em Londres e Madri.
Nos dias de hoje, o epicentro geográfico dos ataques terroristas deslocou-se do Oriente Médio para a região do Sahel, na África. Em 2024, ocorreram 8.352 mortes relacionadas ao terrorismo, metade delas no Sahel, principalmente no Sudão (um país em guerra civil), em Burkina Faso, no Níger, no Mali e no norte da Nigéria.
No Ocidente, as mortes por terrorismo caíram muito significativamente.
No cômputo mundial, as mortes por terrorismo também se reduziram em 59% nos últimos 10 anos, devido principalmente aos decréscimos ocorridos em países como Iraque, Síria e Afeganistão.
No Brasil, não há registros oficiais de mortes por terrorismo desde o atentado do Riocentro, em 30 de abril de 1981, um ataque promovido pelo Estado.
Por isso, é necessário tomar muito cuidado com a classificação de criminosos comuns como “narcoterroristas”. Além de permitir intervenções geopolíticas e militares em nossa região, a lógica macabra e tortuosa dessa luta contra o terror, que eliminou direitos e prerrogativas e permitiu a tortura e as execuções extrajudiciais, poderá ter efeitos contrários aos pretendidos, como aconteceu na “Guerra ao Terror”.
Os massacres e as mortes poderão se multiplicar.
O que aconteceu recentemente no Rio de Janeiro é apenas uma pequena amostra do que poderia acontecer.
Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil
FONTE: https://www.brasil247.com/blog/o-que-mata-mais-o-terror-ou-a-guerra-ao-terror