A assinatura brasileira da Convenção da ONU transforma o ciberespaço em arena diplomática — onde dados são soberania e ética é a última linha de defesa.
O Brasil atravessou, neste sábado, 25 de outubro de 2025, uma fronteira simbólica — e invisível. Em Hanói, cidade onde a resistência se tornou parte do ar, o país firmou sua entrada num pacto global que busca preservar as democracias diante de uma guerra que não explode em bombas, mas em códigos. Ao tornar-se signatário da Convenção das Nações Unidas contra o Crime Cibernético, o Brasil abandona a retórica e assume a prática da ciberdefesa diplomática.
A cerimônia, conduzida pelo diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, integrou a viagem oficial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Sudeste Asiático — uma região estratégica onde comércio e tecnologia já se entrelaçam. Em 2024, o intercâmbio entre o Brasil e os países da Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN) movimentou US$ 22 bilhões. Agora, a diplomacia brasileira busca também garantir que essa prosperidade digital venha acompanhada de segurança e soberania de dados.
O tratado, aprovado pela Assembleia Geral da ONU em 29 de dezembro de 2023, foi apelidado de “Tratado de Hanói”. Ele estabelece as bases para a cooperação internacional contra crimes digitais que, segundo a consultoria Cybersecurity Ventures, custam ao planeta cerca de US$ 10,5 trilhões por ano — mais que o PIB combinado da Alemanha e do Japão.
No Brasil, a Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD) registrou cerca de 110 mil incidentes de vazamento de dados em 2024, um salto de 32% em relação ao ano anterior.
Hackers, fraudes eletrônicas e desinformação são hoje armas de destruição silenciosa.
O país ocupa a 5ª posição global em ataques cibernéticos, conforme o Global Threat Intelligence Report 2025 da Fortinet — ranking que mede, paradoxalmente, tanto vulnerabilidade quanto capacidade de resposta.
A escolha de Hanói não foi casual.
A capital vietnamita carrega aura de resistência quase mítica. Resistiu ao colonialismo francês, à invasão americana e à pobreza. De suas ruínas nasceu uma nação digital, que hoje exporta semicondutores e software com o mesmo orgulho com que um dia defendeu sua soberania.
Hanói lembra ao mundo que dignidade e reconstrução podem coexistir.
Ao assinar neste cenário, o Brasil reforça sua aproximação com as potências emergentes do Sul Global — Vietnã, Indonésia, Malásia — e envia um recado às grandes corporações tecnológicas: soberania digital também é soberania nacional.
Proteger o futuro exige mais do que firewalls e senhas. Exige consciência ética, educação tecnológica e políticas públicas firmes.
Ao lado das Nações Unidas, o Brasil finalmente compreende que o inimigo do século XXI não veste uniforme nem hasteia bandeira: ele se disfarça nas sombras da tela, onde a verdade e a confiança tornaram-se as últimas linhas de defesa da humanidade.
Foto: Ricardo Stuckert/PR
FONTE: https://www.brasil247.com/blog/o-tratado-de-hanoi-e-a-nova-geopolitica-da-nuvem