Mercator vs. Gall-Peters: Distorsão, Proporção e a Geopolítica dos Mapas
As projeções de mapas são representações da superfície esférica da Terra em um plano, e diferentes projeções enfatizam distintos aspectos do globo. Duas das projeções mais conhecidas e frequentemente comparadas são a projeção de Gall-Peters e a projeção de Mercator.
Projeção de Mercator (1569)
Criada pelo cartógrafo flamengo Gerardus Mercator, essa projeção cilíndrica preserva os ângulos e as formas dos continentes e países, sendo uma projeção conforme. Isso significa que ela é ideal para navegação marítima, pois mantém as linhas de rumo constante (loxodrómicas) como retas.
No entanto, a projeção de Mercator deforma as proporções das áreas terrestres, especialmente nas latitudes mais altas. Isso faz com que regiões como a Europa e a América do Norte pareçam muito maiores do que realmente são, enquanto África e América do Sul parecem menores em comparação.
Problemas com a projeção de Mercator:
• A Groenlândia parece ter um tamanho semelhante ao da África, quando na realidade a África é cerca de 14 vezes maior.
• A Europa e os Estados Unidos parecem muito maiores em relação a países do hemisfério sul, criando um viés eurocêntrico na percepção do mundo.
• Países do Equador, como o Brasil, a Índia e a Indonésia, parecem menores do que realmente são.
Projeção de Gall-Peters (1855/1967)
A projeção de Gall-Peters busca corrigir as distorções da Mercator, sendo uma projeção equivalente. Isso significa que ela preserva as áreas reais dos continentes, garantindo uma representação mais proporcional.
A ideia de James Gall foi retomada por Arno Peters na década de 1970, que promoveu a projeção como uma alternativa mais justa, principalmente para países do hemisfério sul. A projeção de Gall-Peters enfatiza a área real dos continentes, reduzindo a desproporção vista na Mercator.
Vantagens da Gall-Peters:
• Representa os países com suas áreas reais proporcionais.
• Destaca a grandeza territorial da África e da América do Sul, que são frequentemente minimizadas na projeção de Mercator.
• É utilizada por organizações como a ONU e ONGs que defendem uma representação geográfica mais igualitária.
Desvantagens da Gall-Peters:
• As formas dos continentes são distorcidas, tornando-os alongados verticalmente perto do Equador e achatados nas latitudes altas.
• Para a navegação e para algumas análises geográficas, a projeção pode ser menos prática.
Comparação Final
Característica
Mercator
Gall-Peters
Tipo
Conforme (preserva ângulos)
Equivalente (preserva áreas)
Distorção
Aumenta áreas em altas latitudes
Distorce formas, mas mantém áreas reais
Uso principal
Navegação e mapas políticos tradicionais
Mapas educacionais e geopolíticos
Problema
Exagero de países do Norte e minimização do Sul
Deformação das formas
Conclusão
A escolha entre Mercator e Gall-Peters depende do propósito do mapa. Se o objetivo for navegação ou representação fiel de formas, a Mercator é mais útil. Se a intenção for uma visão mais proporcional das áreas dos continentes, destacando o tamanho real das nações, a Gall-Peters é preferível. A crítica à Mercator vem da percepção de que sua distorção favoreceu um viés eurocêntrico na cartografia mundial, enquanto a Gall-Peters é promovida como uma alternativa mais equitativa.
FONTE: https://www.paulogala.com.br/o-verdadeiro-tamanho-do-sul-global/