Analista geopolítico produz documentário sobre como a região chinesa combina tradição milenar, conectividade moderna e papel estratégico no cenário global.
247 – O analista geopolítico Pepe Escobar divulgou seu novo Pepe Café diretamente do Xinjiang, no vídeo “Xinjiang exclusivo: na Rota da Seda no Oeste da China” (assista aqui). O material traz um relato em primeira pessoa sobre a viagem realizada pelo deserto de Taclamacã, na região de Xinjiang, destacando tanto o valor histórico da antiga Rota da Seda quanto as implicações geopolíticas e econômicas das novas rotas da conectividade chinesa.
Logo no início, Escobar define a experiência como “a viagem de todas as viagens”, ao cruzar de norte a sul o Taclamacã, um dos desertos mais inóspitos do planeta. “Você pode entrar, mas não consegue sair”, lembrou ele sobre o significado da palavra em uigur.
Do cânion de Aksu à travessia do deserto
O jornalista descreve o ponto de partida: a cidade-oásis de Kucha, próxima a Aksu, local historicamente central na Rota da Seda. Ele explica que a travessia pelo Taclamacã hoje é possível graças às modernas autoestradas construídas pela China, protegidas por um sistema engenhoso de irrigação e plantio de vegetação nas laterais para conter o avanço das dunas.
“Essa estrada tem mais ou menos 450 km através do deserto, com um sistema absolutamente extraordinário para impedir o avanço da areia”, destacou Escobar.
Além da paisagem desértica, a viagem incluiu visitas a sítios arqueológicos e culturais como as grutas budistas de Turfan e Dunhuang, bem como conversas com estudiosos chineses sobre a herança milenar da região.
A importância geopolítica de Xinjiang
Pepe Escobar contextualiza a jornada dentro de um cenário maior: o papel estratégico de Xinjiang como elo entre a China e a Ásia Central, especialmente após a cúpula da Organização de Cooperação de Xangai. Segundo ele, o momento é simbólico, pois coincide com os 70 anos da integração da região à República Popular da China.
“Essa é uma viagem fundamental que está entrecruzada com os 70 anos de Xinjiang como parte integrante da República Popular da China”, afirmou.
Ele também ressaltou o peso econômico da região, mencionando a produção de algodão e as sanções impostas pelos Estados Unidos e Europa, que impactam diretamente as exportações locais. Apesar das restrições, os produtos seguem abastecendo países do Sul Global.
As novas rotas da seda e a conectividade
Outro ponto central do documentário é a conexão entre as antigas e as novas rotas da seda. Escobar sublinha que o comércio atual, realizado por trens de carga de Urumqi até a Europa, repete em essência a lógica de intercâmbio da época das dinastias Han e Tang.
“O documentário vai falar dos corredores de conectividade, das novas rotas da seda, da qualidade das estradas, dos trens, dos hotéis. Tudo é eficiente, moderno, e funciona”, destacou.
Ele afirma ainda que não há diferença no tratamento entre estrangeiros e chineses nos controles de viagem, classificando a atmosfera local como tranquila e distante de qualquer visão “opressiva” divulgada no Ocidente.
Um mergulho cultural e histórico
O documentário também explora aspectos culturais da região, incluindo a forte presença da tradição uigur na arquitetura, na culinária e na vida cotidiana. Para Escobar, a experiência oferece uma rara oportunidade de observar Xinjiang “por dentro”, em contraste com a imagem fragmentada transmitida fora da China.
“É mostrar a China real por dentro, que o Ocidente praticamente não conhece. E vocês, no Brasil, poderão ter uma ideia com as imagens, as palavras e as conversas que vamos apresentar”, concluiu o jornalista.
Foto: Reprodução Youtube
FONTE: https://www.brasil247.com/sul-global/on-the-road-pepe-escobar-faz-a-travessia-pelo-deserto-de-taclamaca-num-encontro-entre-historia-e-geopolitica