A Venezuela resiste e se prepara para o pior, mas mantém aberta a porta do diálogo, desde que não se imponham condicionantes humilhantes.
A tensão provocada pelo cerco militar da Venezuela pelos Estados Unidos, com ruidosas ameaças de guerra, alcança um ponto crítico que tem exigido do poder revolucionário venezuelano reflexão serena, firmeza política e defesa intransigente da soberania.
Por José Reinaldo Carvalho
As movimentações militares dos EUA revelam uma escalada que ameaça não apenas a Venezuela, mas todo o equilíbrio estratégico do continente. A paz de toda a região está ameaçada, o que antagoniza a proclamação da América Latina e Caribe como zona pacífica, adotada na 2ª Cúpula da Celac, realizada em Havana em 2014. Diante disso, torna-se indispensável denunciar o caráter agressivo, ilegal e profundamente desestabilizador da postura estadunidense.
A presença do USS Gerald Ford, o maior porta-aviões do mundo, acompanhado por uma frota de navios de guerra e aeronaves de última geração não se justifica por nenhum argumento plausível. A retórica de combate ao “narcoterrorismo”, utilizada pela propaganda imperialista para justificar mais uma ação belicista, cai por terra diante da ausência de provas e das 19 ações militares norte-americanas no Caribe, que já deixaram 76 mortos em embarcações supostamente envolvidas com o tráfico de drogas. Uma flagrante violação do Direito Internacional.
A realização de exercícios militares em Trinidad e Tobago, na semana passada, embora mascarada como iniciativa rotineira e normal, foi percebida com razão pelo governo venezuelano como um sinal evidente de provocação. Não há normalidade possível quando uma superpotência, em meio a ameaças reiteradas de intervenção, mobiliza forças colossais a poucos quilômetros da costa de um país soberano. Trata-se de pressão calculada, destinada a alimentar incerteza e fragilizar politicamente o Estado venezuelano, sua autodeterminação, estabilidade e segurança.
No discurso belicista de Trump, a ameaça de derrubar o presidente Nicolás Maduro é tratada com a naturalidade de quem se julga autorizado a decidir o destino de outras nações. Suas declarações de que “os dias de Maduro estão contados” escancaram a intenção de destruir o processo político bolivariano e impor, pela força, uma reorganização interna compatível com os interesses estratégicos de Washington. É uma política de agressão disfarçada de cruzada democrática.
Esse discurso intervencionista é imediatamente reproduzido pela oposição venezuelana mais extremista. Maria Corina Machado, ecoando a Casa Branca, projeta um suposto cenário “pós-Maduro” como se o país estivesse à beira de uma tomada de poder iminente. Sua afirmação de que “o chavismo acabou” sintetiza a ilusão de que a pressão externa criará um vácuo político a ser preenchido por forças alinhadas aos Estados Unidos. É uma estratégia que despreza o sentimento nacional e ignora a base social que sustenta o projeto bolivariano.
A resposta de Caracas, no entanto, tem sido coerente com o princípio da autodeterminação. O governo venezuelano rejeita qualquer intervenção e reforça a preparação militar como instrumento legítimo de defesa nacional. A prontidão das Forças Armadas Bolivarianas e das milícias populares demonstra que o país não aceitará que sua soberania seja violada. Ao mesmo tempo, mantém aberta a porta do diálogo, desde que não se imponham condicionantes humilhantes ou ameaças.
Diante desse quadro, dois caminhos se apresentam. O primeiro, impulsionado pelos Estados Unidos, aposta no desgaste interno e na asfixia econômica, combinados a uma presença militar ostensiva destinada a intimidar. O segundo, embora frágil, preserva a possibilidade de uma solução negociada, que exigiria o abandono das pré-condições estabelecidas conforme o método da pressão máxima que inviabilizam qualquer avanço no sentido de uma convivência pacífica entre os Estados Unidos e a Venezuela.
A crise, portanto, avança para um momento decisivo. A região só encontrará estabilidade quando cessarem as ameaças e prevalecer o respeito aos povos, suas instituições e seu direito inalienável de decidir os próprios rumos.
A hipótese de uma guerra aberta permanece como último recurso para Washington, não por prudência moral, mas pelos riscos incalculáveis que representaria para os próprios Estados Unidos. Assim, prossegue a guerra híbrida: sanções, cerco diplomático, operações psicológicas e apoio à oposição extremada. Seu êxito, porém, depende de fraturas internas que não se materializaram.
A paz, hoje, depende mais do compromisso com a soberania venezuelana do que das bravatas militaristas vindas do imperialismo estadunidense.
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FONTE: https://www.brasil247.com/blog/os-eua-elevam-ameacas-mas-a-venezuela-resiste