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Os três pilares da sustentação imperialista na atualidade

Indignado com a ascensão dos BRICS, Trump reage à ameaça ao dólar e ao poder global dos EUA.

Após a conclusão do mais recente encontro de cúpula dos países dos BRICS, o presidente estadunidense, Donald Trump, se mostrou indignado em relação com as tendências predominantes entre os integrantes deste bloco de aliança econômica e vituperou várias ameaças aos que persistam trilhando a pauta traçada por essa nova força emergente.

Por sua maneira histriônica e nada diplomática de se expressar, muita gente tende a considerar que Trump não passa de um fanfarrão, que nem sequer sabe do que fala. No entanto, em profunda discrepância com aqueles que assim pensam, creio que ele conhece muitíssimo bem a realidade que o circunda, e tem plena consciência das reais dificuldades enfrentadas pelos Estados Unidos nos dias de hoje, em seus intentos de manter-se como a potência hegemônica a nível global.

O que já está evidente é que os Estados Unidos estão em franca decadência no cenário mundial. Em termos estritamente econômicos, ingressaram em uma fase de intenso parasitismo, sem possibilidades de disputar espaços em condições satisfatórias com seus principais concorrentes. Em contraposição com o dinamismo e pujança da economia chinesa, por exemplo, eles não têm a mínima chance de competir em pé de igualdade.

Em vista do anteriormente exposto, para aferrar-se à posição de liderança mundial, a despeito do enorme parasitismo de suas estruturas econômicas stricto sensu, os Estados Unidos se ancoram, agora, nos únicos três pilares que ainda lhes dão certa sustentação a sua pretensão de hegemonia. Estes pontos são os seguintes:

a) seu incomparável aparato militar;

b) seu imenso predomínio nas redes de difusão informativa;

c) o papel do dólar estadunidense como moeda de referência para as transações internacionais.

Logicamente, há forte inter-relação de dependência entre estes três pilares, ou seja, cada um, simultaneamente, possibilita e depende da existência dos demais. Contudo, como procurarei ilustrar mais adiante, a faculdade de ter sua moeda nacional exercendo a função de meio de pagamento de aceitação geral nas relações comerciais entre as diferentes nações acaba sendo o item de maior peso, aquele que funcionará como condição indispensável para a existência dos outros, assim como para o sistema como um todo.

No plano militar, não podemos deixar de ter em conta que os Estados Unidos dispõem de em torno de 900 bases operacionais espalhadas pelo planeta nos pontos de maior relevância estratégica. É a única nação a contar com um aparato desta magnitude para a intervenção exterior na base da força. É a partir deste poderio armado que os Estados Unidos intimidam aos demais países com vistas a impor suas pretensões por cima das de seus contrincantes. Para a criação e a manutenção de um dispositivo bélico tão gigantesco, é preciso recorrer a vultosas somas de recursos. De onde extraí-los se, como já mencionado, as estruturas econômicas estadunidenses são essencialmente parasitárias? Mais adiante, trataremos de responder a esta importante indagação.

No tocante à questão comunicacional, convém ressaltar que com a passagem para a era da prevalência dos meios digitais, os Estados Unidos aumentaram em muito sua capacidade de fazer valer suas posições geopolíticas pelo mundo afora, devido ao fato de que a esmagadora maioria dos conglomerados deste ramo de atividades pertence a grupos ali sediados, que estão sob seu comando. Portanto, este amplo domínio no campo digital lhes dá uma significativa vantagem com respeito às disputas narrativas. Assim, podem travar a disputa ideológica contra seus concorrentes com muito mais efetividade. Fica-lhes mais fácil embelezar seus posicionamentos, por mais nefastos que sejam, e demonizar os dos outros, mesmo quando inteiramente dignos.

Porém, o instrumento que leva o monstruoso parasitismo da economia estadunidense a ser absorvido e transferido para o restante do mundo é ter sua moeda (o dólar) aceito como meio generalizado de pagamento em transações comerciais efetuadas entre todas as nações, sem estar necessariamente lastreada em riquezas reais. E isto se aplica ainda que nada seja vendido ou comprado dos Estados Unidos. Por exemplo, quando o Brasil vende café para a China, e compra dos chineses chips para celulares, os gringos querem que as operações de exportação e importação sejam concretizadas em dólares estadunidenses. Parece loucura? Mas, não é. É isto mesmo o que ocorre.

Qual seria a razão que motiva aos Estados Unidos a insistir que a coisa funcione assim? Bem, para quem deseja ter uma visão um pouquinho mais aprofundada quanto a isto, gostaria de sugerir a leitura de um artigo (https://www.brasil247.com/blog/o-encontro-dos-brics-e-a-armadilha-do-dolar) que publiquei há algum tempo a este respeito, no qual trato de explicar como funciona este mecanismo que gerou as condições de o país com a maior economia do planeta viver em função do parasitismo. No presente texto, vou procurar fazer uma ilustração a partir de uma situação metafórica e hipotética para tentar transmitir a ideia do que está por trás do sistema. Vai ser tão somente um exercício de imaginação, mas, em essência, expressará grande semelhança com a realidade vivenciada em termos práticos.

Imagine que 1000 pessoas têm uma conta conjunta num banco qualquer. Os valores positivos ou negativos dessa conta são de responsabilidade solidária de todas elas. Para 999 desses correntistas, vale a seguinte regra: cada um só pode emitir cheques, para fazer retiradas ou efetuar pagamentos, em conformidade com o volume dos depósitos que tenha feito à conta comum. Entretanto, um desses correntistas recebe seu talão de cheques sem nenhuma condição limitativa. Em outras palavras, ele pode emitir cheques a seu bel-prazer, sem nenhuma preocupação com o valor de seus depósitos. Caso seus cheques ultrapassem o montante de sua contribuição, a diferença deverá ser coberta pelos outros 999.

Agora, responda com sinceridade, se surgisse uma oportunidade para você participar de um esquema semelhante, você gostaria de pertencer ao grupo dos 999, ou ser aquele um diferenciado?

A fúria de Donald Trump deriva de sua preocupação com uma situação análoga ao de nosso exemplo hipotético. Ele não aceita que os Estados Unidos deixem de ser o maior beneficiado no campo dos negócios internacionais, independentemente de sua escassa contribuição efetiva para os mesmos. Se não puderem mais contar com o fabuloso mecanismo que lhes dá a possibilidade de repassar aos outros os exorbitantes gastos incorridos para bancar sua superioridade bélica e, ao mesmo tempo, continuar ostentando o status de a sociedade mais consumista do mundo, tudo pode vir por água abaixo.

Se o dólar não mais puder exercer a função que vem desempenhando desde o final da II Guerra Mundial, os Estados Unidos voltarão a ter de depender de seu trabalho e de sua produção economicamente útil para sobreviver como potência de primeira grandeza. Já não será o parasitismo atual o que lhes concederá este privilégio.

FOTO: The White House

FONTE: https://www.brasil247.com/blog/os-tres-pilares-da-sustentacao-imperialista-na-atualidade