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Para onde estão indo os jornalistas que estavam no X?

O Twitter, agora X, foi suspenso e sem previsão de data de retorno no Brasil e isso foi um alerta. E agora? Quais as alternativas?

A plataforma de Elon Musk saiu do ar no Brasil em 31 de agosto de 2024, por determinação do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Enquanto os motivos da suspensão são discutidos, os jornalistas precisam não só avaliar quais caminhos seguir, mas também se prevenir de outros problemas.

Por Cristina Dissat no IJNET

“O primeiro ponto que precisa ficar claro é que é impossível prever e que não depende de ninguém. Todas essas mídias surgiram por causa de necessidade do público de querer ler, ou ouvir, ou acessar notícias. Se existe uma lição, mas que não é uma solução, é estar presente em outra rede, cuja escolha vai ser determinada pelo público-alvo”, diz Bruno Rodrigues, especialista em conteúdo e autor da Cartilha de Redação Web do Governo Brasileiro e do livro Webwriting e UX Writing.

Viuvez do X

O X foi uma das redes mais usada durante a cobertura das Olimpíadas 2024, para aproximar o público dos Jogos em Paris. Helena Rebello, coordenadora de comunicação do COB (Comitê Olímpico do Brasil), lamenta o que aconteceu já que o X foi a rede onde o COB cresceu muito, usando uma estratégia de linguagem informal para se aproximar do torcedor brasileiro. “Tivemos um crescimento expressivo, com uma base de fãs de cerca de 700 mil seguidores”, diz Rebello.

E agora? Qual foi a alternativa do COB? “A opção até o momento foi a migração foi para o Threads porque já havia uma conta do COB nessa rede com conteúdo mais ou menos espelhado ao do Twitter”, explica a coordenadora. Ela comenta que apesar do Threads não ter exatamente as mesmas ferramentas, tem pelo menos uma linguagem bem similar ao X. “Além disso, o COB tem uma parceria com a Meta e já havia uma intenção de investir no Threads antes da suspensão”.

Numa análise inicial, o Comitê observou um aumento imediato de 40 mil seguidores. “A interação ainda é baixa comparada ao X. Não sabemos para onde vamos e estamos analisando as possibilidades, inclusive o Bluesky, mas temos que avaliar o quanto vale a pena abrir o leque”, avalia Rebello. “Atualmente com a estrutura do COB já existe uma presença em oito redes sociais. Será que abrimos mais uma?  Estamos esperando um pouco para tomar uma decisão acertada”.

Análise de estratégia

A movimentação sobre o que fazer também tomou conta de grupos de estudo de comunicação e marketing digital. Guga Alves, pós-graduado em Gestão Estratégica de Marketing Digital, explica que o movimento natural seria o Bluesky, por ser uma rede criada pelos mesmos idealizadores do Twiter (antes de Elon Musk).

“Mas pensando estrategicamente o ideal é observar o mercado e entender para onde o seu público está migrando”, considera Alves. Para ele, o jornalista não pode descartar a possibilidade de ter seu próprio website e um e-mail, para contato direto com o seu público.

José Telmo, que é professor e especialista em marketing digital da ESPM, FGV, Universidade Estácio de Sá e FACHA, explica que o vácuo que o Twitter deixa é por conta do seu modelo de microblog. “O público acaba buscando o que for mais prático para reproduzir a mesma sensação”.

Já para Cristiano Santos, webdesigner e organizador do World Camp (evento na área de tecnologia e conteúdo  em 2014, 2015 e 2016), é preciso pensar em outras possibilidades para não ser surpreendido. “E se fosse Whatsapp ou Instagram? Como marcas dariam continuidade a comunicação dos negócios online? Redes sociais são proprietárias, nós pessoas e marcas somos inquilinos. Qualquer mudança, por motivos políticos ou econômicos, nós sofremos o impacto.”

A migração começou antes de fechar

Graciele Oliveira, presidente da RedeComciência (Rede Brasileira de Jornalistas e Comunicadores de Ciência), diz que a resposta para onde ir não é simples porque tudo “depende”. “É importante ter em mente o público que se quer dialogar. Se o seu público é mais jovem é preciso levar em conta pesquisas como a do TICs Kids de 2023, mostrando que 88% das crianças e adolescentes têm perfil em redes sociais e as preferidas deles são Instagram, YouTube e TikTok”.

Oliveira menciona também outros pesquisas como a análise sobre a percepção pública de ciência e tecnologia no Brasil, de 2023,  mostrando que a maioria das pessoas que se informam sobre o assunto usam quatro principais plataformas: Instagram, Facebook, YouTube e WhatsApp.

“Minha percepção é que no X havia uma forma de organização da divulgação científica, com as listas e marcações”. Mas ela comenta que quando começaram os problemas com o Twitter, a comunidade já havia iniciado uma discussão para tentar imaginar para qual plataforma migrar. “Parte foi para o Koo, que fechou”. Ela explica que ao avaliar os profissionais atuando no jornalismo científico, observa-se uma migração para o Bluesky e o Threads.

As apostas

Fica claro que observar de que forma o seu público interage e para onde está caminhando é decisivo para escolher novos caminhos, no caso da suspensão do X se prolongar por muito tempo.

O TikTok está na corrida. Em 2023, o Reuters Institute Digital News mostrou que 1 em cada 5 jovens com idade entre 18 e 24 anos se informa sobre o que está acontecendo no mundo única e exclusivamente pelo TikTok.

E a disputa entre o Threads e o Bluesky está grande. Enquanto os dados sobre o número de usuários do Threads não são divulgados, o Bluesky publicou, no dia 4 de setembro, que “nos últimos dias mais de 2.6 milhões de usuários se registraram na plataforma, sendo que mais de 85% são Brasileiros”. A batalha vai longe.

Foto: montagem Canva

FONTE: https://ijnet.org/pt-br/story/para-onde-est%C3%A3o-indo-os-jornalistas-que-estavam-no-x