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Parlamentares e acadêmicos articulam frente popular em defesa da soberania digital

Soberania digital é urgente, defenderam os participantes.

247 – Brasília sediou um encontro inédito entre parlamentares, ativistas, professores, hackers, artistas e representantes de comunidades tradicionais para debater a soberania digital brasileira. A aula pública “Soberania Já!”, realizada no auditório Nereu Ramos da Câmara dos Deputados, foi transmitida pelo canal Software Livre Brasil e marcou o lançamento de uma proposta ousada: a criação de uma rede parlamentar pela soberania digital, articulando deputados federais, estaduais, vereadores e lideranças de todo o país.

O deputado Orlando Silva (PCdoB-SP), um dos articuladores da iniciativa, explicou por que desistiu de criar uma frente parlamentar tradicional. “Precisamos de capilaridade, não só de uma articulação institucional. A rede que propomos é para conectar representantes em todas as esferas, das capitais aos municípios menores, das universidades federais aos centros culturais periféricos. Isso é soberania de verdade”.

A proposta foi bem recebida por figuras históricas do ativismo digital, como o professor Sérgio Amadeu, que alertou sobre o domínio computacional das big techs. “A inteligência artificial que nos vendem como mágica é, na verdade, uma máquina de capturar dados e modelar comportamentos. O que está em jogo é a autonomia das nossas instituições e a saúde da democracia.” Ele citou estudos da Universidade de Stanford mostrando que 90% dos modelos de IA de ponta hoje são produzidos exclusivamente dentro das big techs.

A socióloga Letícia Cesarino (UFSC) reforçou o caráter estratégico da disputa: “Não estamos mais no campo da política convencional, mas numa guerra por soberania. A indústria da tecnologia quer substituir a política por códigos. O que está em jogo é a própria imaginação democrática. Ou construímos alternativas agora ou seremos engolidos.”

A deputada Natália Bonavides (PT-RN) alertou para o cerco silencioso ao direito à privacidade: “O capitalismo de vigilância destrói a possibilidade de futuro. Os dados viraram a nova commodity. E o que está em risco é o santuário da pessoa humana.”

O evento também destacou experiências concretas de resistência, como o data center comunitário da Casa de Cultura Tainã, a rede Mocambos, o projeto Baobáxia e o trabalho da Rede Saci, que enfrentam bloqueios técnicos da Câmara para transmitir por redes livres.

Em mensagem gravada, os jornalistas Sara Goes e Reynaldo Aragon chamaram atenção para a vida “plataformizada” e a modulação invisível do desejo nas sociedades contemporâneas. “Os algoritmos antecipam nossas escolhas, nos condicionam a desejar o que já foi decidido por outros. A tecnologia virou a engrenagem da dominação. O que queremos é que as regras do jogo sejam conhecidas por todos.”

A aula pública terminou com a convocação para elaborar um Plano Nacional de Soberania Digital, articulando comunidades, universidades, mandatos e organizações sociais. A proposta é transformar experiências já existentes em políticas públicas estruturantes, em diálogo com saberes ancestrais, tecnologias sociais e infraestruturas sustentáveis.

“Não queremos apenas reagir. Queremos planejar. Construir soberania de baixo para cima. Fazer da tecnologia uma aliada do comum”, resumiu Uirá Porã, um dos organizadores do encontro.

O próximo passo da mobilização será a consolidação da rede parlamentar e a definição de eixos prioritários para o plano nacional, com novos encontros previstos até o fim de 2025.

Foto: Reprodução/Instagram

FONTE: https://www.brasil247.com/regionais/brasilia/parlamentares-e-academicos-articulam-frente-popular-em-defesa-da-soberania-digital