Analista geopolítico descreve contrastes entre a estratégia chinesa de soberania tecnológica e a atuação agressiva de Washington.
247 – Em vídeo publicado no Pepe Café, o jornalista e analista geopolítico Pepe Escobar analisa o avanço das tensões geopolíticas em torno da Rússia, China e Estados Unidos. Logo no início, Escobar relata que encerra uma temporada de trabalho no Sudeste Asiático, baseando-se no estúdio “Rotas da Seda”, que utiliza como interconector de viagens entre Rússia e China.
Segundo o analista, o momento global é marcado pela combinação de “ressentimento e demência imperial” de Washington, que opera simultaneamente tentativas de guerra híbrida contra países do Sul Global e iniciativas de sedução diplomática de aliados estratégicos.
Estratégia de Trump na Ásia Central e o jogo duplo dos “stan”
Pepe Escobar relata o recente jantar do presidente Donald Trump, atual presidente dos Estados Unidos, com os líderes de cinco países da Ásia Central — Cazaquistão, Uzbequistão, Turcomenistão, Tadjiquistão e Quirguistão. O jornalista destaca o comportamento calculado desses chefes de Estado:
“Eles jogaram o jogo à perfeição, alisaram a cabeça, as costas, os ombros do rei da selva”, descreve Escobar.
Os presentes “virtuais” incluíram promessas de investimentos e abertura para negócios envolvendo recursos naturais e terras raras. Uma das declarações mais emblemáticas, segundo Escobar, veio do presidente cazaque Kassym-Jomart Tokayev, que afirmou que Trump poderia ser visto como “presidente do mundo”.
Mas o movimento decisivo veio dois dias depois, quando Tokayev foi a Moscou encontrar-se com Vladimir Putin, onde anunciou uma parceria estratégica Rússia–Cazaquistão. Para Escobar, isso demonstra que:
“Não estamos no terreno das narrativas, isso é vida real. Geopolítica na prática.”
Peso geoeconômico do Cazaquistão e as amarras com Rússia e China
O Cazaquistão tem papel central na integração euroasiática. O país é:
- Produtor relevante de petróleo;
- Parceiro dos BRICS, ao lado do Uzbequistão;
- Membro pleno da Organização de Cooperação de Xangai (OCX), que reúne Rússia, China, Índia, Paquistão, Irã e países da Ásia Central;
- Integrante da União Econômica Euroasiática;
- Elo fundamental das Novas Rotas da Seda (BRI).
Escobar enfatiza que todos os trens chineses que cruzam a Eurásia rumo à Europa passam pelo porto seco de Khorgos. Por isso, afirma categoricamente:
“O Cazaquistão não vai comprar uma briga barata com Rússia ou China por causa de promessas miríficas do rei da selva na Casa Branca.”
Venezuela, Síria e Irã: pontos de tensão no tabuleiro de guerra híbrida
Escobar afirma que o “império do caos” segue avançando com estratégias para fragmentar Estados nacionais, apontando que a Síria permanece sob disputa envolvendo Estados Unidos, Turquia, Israel e Rússia.
No caso venezuelano, descreve um cenário incerto:
“Ninguém sabe o que vai acontecer na Venezuela, mas todos sabem o que pode acontecer, e todas as opções são as mais horrendas possíveis.”
Ele cita precedentes de ações militares americanas e golpes violentos que podem ser replicados contra Caracas. Sobre o Irã, sustenta que qualquer ofensiva enfrentará uma reação dura e sem precedentes.
América Latina e a resistência política
O analista elogia o discurso do presidente colombiano Gustavo Petro durante a cúpula UE–CELAC, realizada em Santa Marta, quando o líder advertiu os europeus sobre ataques e riscos sobre o Caribe. Para Escobar:
“Pelo menos tem vozes no Sul Global que se elevam.”
O colapso das narrativas ocidentais
Escobar critica a imprensa ocidental, especialmente a BBC, acusando-a de fabricar narrativas falsas sobre Trump. Ele afirma:
“Está provado para quem ainda precisava de provas de que a BBC mente.”
Relata ainda uma operação fracassada atribuída ao MI6 para capturar um avião russo MIG-31 equipado com míssil Kinzhal.
Rússia e China enxergam “imaturidade estratégica” nos EUA
Segundo Escobar, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov, tem repetido que Moscou enviou a Washington propostas com base em entendimentos prévios, mas:
“Ele não sabe se eles receberam ou mesmo se leram, porque não dá a impressão de nada.”
Sobre a China, o analista afirma que o país simplesmente ignora provocações e segue seu roteiro interno:
“A gente está no nosso projeto de desenvolvimento nacional.”
Huawei rompe bloqueio tecnológico e ameaça hegemonia dos EUA
A parte mais impactante da análise refere-se ao avanço tecnológico da Huawei, que desenvolve um sistema próprio de litografia capaz de produzir chips de 3 nanômetros — etapa fundamental para autonomia em inteligência artificial.
Os testes já ocorrem no centro de pesquisas da empresa em Dongguan, Guandong, e podem entrar em produção em 2026.
Escobar afirma que, se isso acontecer:
“A China vira de ponta-cabeça o mercado mundial de semicondutores.”
Além disso, destaca uma diretriz recente:
“Qualquer banco de dados afiliado ao Estado na China está proibido de usar chips estrangeiros.”
Para ele, isso acelera um ecossistema tecnológico totalmente soberano, baseado em pesquisa e desenvolvimento massivos.
Conclusão: o choque entre narrativas e realidade
Pepe Escobar descreve um cenário global onde Washington mantém métodos agressivos, mas perde capacidade de ditar rumos. Já China e Rússia aprofundam soberania e integração no eixo euroasiático.
O analista encerra com uma mensagem de resistência:
“A luta continua sempre. A luta vai ser cada vez mais ferrenha.”
Assista:
Foto: Reprodução Youtube
FONTE: https://www.brasil247.com/ideias/pepe-escobar-china-prioriza-desenvolvimento-enquanto-eua-reforcam-logica-de-espoliacao-geopolitica