Analista detalha disputas geopolíticas por trás do encontro entre Putin e Trump em Anchorage, com foco no Ártico, no BRICS e nas pressões tarifárias.
247 – No programa Pepe Café, publicado em seu canal no YouTube, o analista geopolítico Pepe Escobar analisa em profundidade a cúpula entre o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o presidente da Rússia, Vladimir Putin, marcada para Anchorage, no Alasca. Embora a Ucrânia seja o tema mais visível, Escobar sustenta que o encontro tem objetivos muito mais amplos, envolvendo interesses estratégicos, econômicos e energéticos de longo alcance.
Segundo ele, a escolha do Alasca — feita por iniciativa de Moscou — é altamente simbólica e estratégica. A região concentra reservas expressivas de petróleo e gás, além de ser um ponto-chave para a rota da seda do Ártico, projeto liderado pela Rússia com participação da China, que pode redefinir rotas comerciais globais ao criar um corredor marítimo mais rápido e seguro.
Trump, Putin e o cálculo estratégico
Escobar descreve Trump como um negociador focado em ganhos econômicos imediatos, interessado sobretudo em abrir espaço para empresas americanas explorarem recursos no Ártico e retomarem negócios com a Rússia. O “deep state” — que inclui setores como CIA, Pentágono e complexo industrial-militar — teria outra prioridade: usar um eventual cessar-fogo na Ucrânia apenas como pausa para rearmar Kiev, transferindo o custo da guerra para os europeus.
Putin, por sua vez, enfrenta pressões internas de setores que defendem ações militares mais duras. Ainda assim, o Kremlin vê na reunião uma oportunidade para discutir com Washington temas como reorganização de áreas de influência, revisão de acordos nucleares e limitação da expansão da OTAN, mantendo o controle sobre projetos estratégicos como a exploração do Ártico.
O fator Brics e a guerra das tarifas
O analista enfatiza que o encontro também interessa diretamente ao Brics. Brasil e Índia estão entre os principais alvos das tarifas impostas por Trump. Moscou poderá tentar arrancar do presidente americano uma promessa implícita de não aplicar sanções secundárias contra países que importam petróleo russo — passo que fortaleceria a coesão do bloco.
Nos dias que antecederam a cúpula, líderes do Brics intensificaram contatos, numa estratégia coordenada para reagir à ofensiva tarifária dos EUA. Escobar ressalta que Putin representará na mesa não apenas os interesses da Rússia, mas também os do grupo como um todo.
A questão da confiança
Um dos maiores entraves, segundo Escobar, é a confiabilidade de qualquer acordo com os EUA. Ele lembra que Washington já rompeu compromissos importantes, como o acordo nuclear com o Irã, assinado em 2015 e abandonado por Trump. Figuras como Dmitri Medvedev já afirmaram ser “praticamente impossível voltar a ter relações normais” com os americanos, dadas as últimas duas décadas de hostilidade.
O Alasca como ponto de partida
A cúpula de Anchorage pode marcar o início de um novo rearranjo geopolítico. Caso haja avanços, uma segunda reunião deverá ocorrer na Rússia, abrindo caminho para negociações mais amplas sobre segurança internacional. No entanto, forças poderosas — de think tanks a aliados europeus — trabalham para impedir qualquer aproximação entre Moscou e Washington.
Para Escobar, o Alasca é apenas o começo. O desfecho dependerá de como Putin e Trump vão equilibrar interesses estratégicos, econômicos e geopolíticos em um tabuleiro onde cada movimento pode alterar o equilíbrio de poder mundial. Assista:
Foto: Brasil247
FONTE: https://www.brasil247.com/mundo/pepe-escobar-explica-o-que-esta-em-jogo-na-cupula-do-alasca