O fundamental, como destacou o ministro Marinho, é reduzir a taxa de juros, para fortalecer a produção interna e elevar os investimentos.
O ministro Luís Marinho, do Trabalho, está certo: o juro elevado praticado pelo Banco Central impede aumento da produção e pressiona, consequentemente, a inflação, no novo cenário internacional ameaçado pelo protecionismo trumpista.
Essa possibilidade se desenha diante da previsão de esfriamento das atividades em 2025, com recuo previsto do PIB depois do crescimento de 3,4% em 2024, o que afetaria popularidade do presidente Lula, se recuar nível de emprego e aumentar expectativa inflacionária, caso crédito fique mais caro, prejudicando investimentos.
É preciso, segundo Marinho, aumentar a produção, principalmente, de alimentos, para que os preços, diante de um choque de oferta, caiam.
Por isso, a decisão, defendida pelo vice-presidente, Geraldo Alckmin, de isentar importação e taxar exportação de alimentos básicos contribui para dar esse choque necessário, como fundamental para conter a onda inflacionária.
Sobretudo, é preciso atenção ao movimento do presidente Trump de usar o protecionismo para tentar fortalecer a indústria americana.
O aumento das tarifas para conter importações, tornarão os produtos americanos mais caros, nos Estados Unidos, o que levará Trump a pressionar o BC a frear juros.
Isso favorece exportações de alimentos para os Estados Unidos que enfrentam aumento de custos de insumos.
Não é à toa que Trump está sendo obrigado a dar marcha a ré na promessa de taxar a importação de potássio do Canadá, fundamental para a oferta de adubos nos Estados Unidos.
Se, também, ocorre um aumento das exportações de alimentos brasileiros para a China, por conta do protecionismo americano contra os chineses, aumentam os preços internamente no Brasil.
A demanda cresceria em relação à oferta e os preços ao consumidor aumentariam, pressionando os índices de inflação.
JOGO DURO CONTRA NEOLIBERAIS DO AGRO
Os neoliberais, no tempo do fascismo bolsonarista, descuidaram dos estoques reguladores e essa deficiência se estendeu até agora; mas com o crescimento da taxa de emprego, no governo Lula, embora os salários tenham sido prejudicados pela reforma trabalhista, a massa salarial cresceu por conta da redução dos custos de contratação de mão de obra; isso elevou consumo e os preços.
Como registram os dados de crescimento de 3,4% do PIB em 2024, o consumo das famílias, acima de 4%,é a novidade econômica, em decorrência do aumento da massa salarial.
Nesse cenário, o fundamental, como destacou o ministro Marinho, é reduzir a taxa de juros, para fortalecer a produção interna e elevar os investimentos – que também recuaram por conta da alta da Selic – em relação ao PIB.
NOVO CENÁRIO INTERNACIONAL
A valorização do real, por conta do protecionismo trumpista, que desvaloriza o dólar, é o novo cenário internacional, porque a economia americana não tem mais gás para sustentar o déficit comercial, antes coberto pelo superávit financeiro, graças à moeda valorizada, na financeirização especulativa.
Especialmente, se Trump busca reduzir gastos em guerra, para alcançar a paz na Ucrânia, em acordo com a Rússia, é porque se recusa, diante do protecionismo, a trabalhar com dólar valorizado; primeiro, para não elevar a dívida pública, que já está na casa dos 36,2 trilhões de dólares; segundo, porque, diante do protecionismo, se continuar optando por déficit comercial, corre risco de colapso cambial.
Dólar mais desvalorizado, portanto, é a expectativa americana, que traz inflação para os Estados Unidos, forçando aumento de juro americano, contra o qual Trump, para não ter que enfrentar a ira do consumidor, reage, pedindo moderação ao BC.
Conseguirá?
EFEITO TRUMPISTA SOBRE O REAL
As condições objetivas da economia americana, na fase trumpista, contribuem, estruturalmente, para valorizar, ocasionalmente, o real, o que favorece, nesse caso, circunstancialmente, importação de alimentos, para alcançar o que Alkcmin está propondo: redução dos preços internos e combate mais eficaz à inflação, salvo se o BC, sob Galípolo, continuar fazendo jogo neoliberal da Faria Lima.
O agronegócio brasileiro, que, num primeiro momento, está reagindo negativamente às manobras de política econômica antiinflacionária, necessárias, não apenas para isentar importações, mas, igualmente, taxar exportações de alimentos, buscando o equilíbrio dos preços, tem que se enquadrar no objetivo maior de proteger os consumidores.
O mesmo, igualmente, deve acontecer relativamente ao Banco Central e sua política monetária.
NOVAS CIRCUNSTÂNCIAS, NOVA REALIDADE
As novas circunstâncias internacionais, com reflexo direto, internamente, recomendam, como reivindica o ministro Luís Marinho, flexibilidade monetária do BC, bem como induz o governo a decisões populares de reduzir o custo de eletricidade para o consumidor,diminuindo seus gastos, para serem cobertos por gastos governamentais, criando ambiente de tensão com a política fiscal neoliberal da Fazenda.
O que estava projetado para acontecer, conforme o último Copom, antes da emergência de Trump, deve ser acomodado ao novo quadro externo que reflete no ambiente interno, para as próximas decisões do BC.
Caso contrário, as vozes dos trabalhadores, por intermédio das reações do ministro do Trabalho, elevam radicalização política.
O protecionismo trumpista está mostrando a interação econômica global de forma mais intensa, como mostram declarações do presidente Lula de que Brasil e México, da presidente Cláudia Sheimbaun, devem se aproximar para uma união mais efetiva contra o perigo inflacionário decorrente de um dólar desvalorizado pela estratégia americana.
Tal recado vale para toda a América Latina, ameaçada pelo império norte-americano.
Foto: Reprodução
FONTE: https://www.brasil247.com/blog/pib-cadente-em-2025-exige-juro-mais-baixo-para-aumentar-producao-e-combater-inflacao-no-cenario-protecionista