A metodologia de Paridade do Poder de Compra (PPP, na sigla em inglês) é uma forma alternativa de medir o tamanho das economias ao invés de usar apenas taxas de câmbio de mercado. Ela considera quanto uma mesma quantia de dinheiro compra em diferentes países, ajustando os valores do PIB de acordo com o custo de vida local. Por exemplo, um dólar pode comprar muito mais bens e serviços na Índia ou na China do que nos Estados Unidos, o que significa que, em termos reais, a economia desses países pode ser maior do que parece quando medimos apenas pelo câmbio oficial.
Na imagem apresentada, vemos que a China, com PIB PPP de US$ 37,07 trilhões, aparece como a maior economia do mundo em 2024 segundo o FMI, à frente dos EUA (US$ 29,17 trilhões). Isso se deve ao fato de que, dentro da China, o custo de vida é significativamente mais baixo que nos países desenvolvidos. Assim, mesmo que a China arrecade menos em dólares pelo câmbio de mercado, seu poder de compra interno é muito maior, elevando sua posição no ranking quando se aplica a metodologia PPP.
Um fator que influencia essa diferença é a política cambial adotada pela China. O país mantém sua moeda, o yuan, relativamente desvalorizada em relação ao dólar. Isso torna os produtos chineses mais baratos no exterior, aumentando sua competitividade e exportações. Contudo, essa desvalorização artificial do câmbio faz com que, ao se converter o PIB chinês para dólares pelo câmbio nominal, a economia pareça menor do que de fato é em termos de produção e consumo interno.
Por essa razão, o uso do PPP é considerado mais adequado quando o objetivo é comparar o bem-estar médio da população ou a real capacidade produtiva de um país. Isso porque ele elimina distorções provocadas por políticas cambiais ou flutuações de mercado, refletindo melhor o volume de bens e serviços produzidos e consumidos domesticamente. No caso da China, o PPP mostra que sua economia já ultrapassou a dos EUA em tamanho, apesar de ainda ter uma renda per capita bem menor.
Por fim, o ranking por PPP revela mudanças importantes na geoeconomia mundial. Economias emergentes como Índia, Rússia, Brasil e Indonésia sobem várias posições quando usamos esse critério. Isso sugere que o centro de gravidade da economia global está se deslocando do Ocidente para o Sul e o Leste, com países que produzem e consomem muito internamente, mesmo que ainda não sejam tão relevantes nos mercados financeiros internacionais ou no comércio exterior, em termos nominais.
O cálculo do PIB em Paridade de Poder de Compra (PPP) busca comparar o tamanho real das economias ajustando as diferenças de preços entre os países. Em vez de converter todos os PIBs para dólares com a taxa de câmbio de mercado, o PPP usa uma “taxa de câmbio artificial” que iguala o poder de compra de uma moeda entre países. Aqui está como funciona o processo:
1. Cesta de bens e serviços comparável
O primeiro passo é montar uma cesta de bens e serviços padrão que represente o consumo típico de uma população (como comida, aluguel, energia, transporte, serviços médicos etc.). Essa cesta deve ser equivalente em todos os países para permitir comparações justas.
2. Comparação dos preços da cesta
Depois, analisa-se quanto custa essa cesta em cada país. Por exemplo:
Nos EUA, a cesta pode custar 100 dólares. Na Índia, a mesma cesta pode custar 3.000 rúpias. Isso indica que 1 dólar compra o mesmo que 30 rúpias, o que define a taxa de câmbio PPP = 1 USD : 30 INR, mesmo que a taxa de câmbio de mercado seja, digamos, 1 USD : 80 INR.
3. Conversão do PIB pela taxa PPP
Com essa taxa de câmbio PPP (e não a do mercado), converte-se o PIB nominal de cada país para dólares PPP. Exemplo:
Se o PIB da Índia é 240 trilhões de rúpias, com taxa PPP de 30, então o PIB em PPP será US$ 8 trilhões (e não US$ 3 trilhões como pareceria pelo câmbio de mercado de 80).
4. Uso de índices agregados
Instituições como o Banco Mundial, FMI e a OCDE usam índices internacionais de preços como o ICP (International Comparison Program) para padronizar e refinar esses cálculos, garantindo que as comparações sejam robustas e feitas com base em milhares de itens monitorados globalmente.
5. Resultado: comparações reais de produção e bem-estar
O PIB em PPP revela a capacidade real de produção e consumo de uma economia, sem as distorções das flutuações cambiais. Ele é mais adequado para comparar níveis de vida e tamanho real da economia interna, enquanto o PIB nominal é mais útil para medir poder de mercado internacional e fluxos financeiros.
PPC e Complexidade: Medindo o Tamanho e a Qualidade das Economias
O Produto Interno Bruto (PIB) em Paridade de Poder de Compra (PPC) é uma métrica fundamental para comparar o tamanho das economias mundiais de forma mais precisa. Diferentemente do PIB nominal, que utiliza taxas de câmbio de mercado, o PIB em PPC ajusta os valores com base nos preços locais de bens e serviços. Isso permite corrigir distorções cambiais e mensurar com maior realismo o poder de compra dentro de cada país.
A partir dessa métrica a China já superou os Estados Unidos e se tornou a maior economia do mundo. Essa conclusão decorre do fato de que o custo de vida na China é muito mais baixo que nos EUA, e o volume físico de bens e serviços produzidos pelo país asiático é gigantesco. Ou seja, mesmo que o PIB chinês nominal ainda seja menor, seu tamanho ajustado pela PPC é superior.
No entanto, essa métrica revela apenas o tamanho bruto da economia, e não sua qualidade. A PPC não distingue se o PIB é composto por produtos de alta ou baixa sofisticação tecnológica, se o país é capaz de inovar, gerar conhecimento e ocupar nichos lucrativos no comércio global. Por isso, para avaliar a qualidade do PIB e o grau de desenvolvimento econômico real, é necessário ir além da PPC e adotar indicadores como o Índice de Complexidade Econômica (ICE).
O ICE, desenvolvido por pesquisadores do MIT e da Universidade de Harvard, mede a diversidade e sofisticação dos produtos que um país é capaz de exportar. Economias com alto grau de complexidade — como Alemanha, Japão ou Coreia do Sul — produzem e vendem ao mundo bens que exigem muito conhecimento, engenharia e cadeias produtivas sofisticadas. Já países com baixa complexidade tendem a exportar commodities ou produtos simples, mesmo que tenham um PIB elevado em PPC.
Esse contraste é visível quando comparamos China e Estados Unidos. A China tem um PIB em PPC maior, mas ainda está atrás dos EUA em termos de complexidade. Por isso, mesmo com grande volume de produção, sua renda per capita é bem mais baixa e seu padrão de vida médio inferior. Isso evidencia que o tamanho do PIB não traduz automaticamente desenvolvimento.
Em resumo, a PPC é uma ferramenta útil para ajustar comparações internacionais e entender o volume real de produção. No entanto, não basta olhar para o “quanto” uma economia produz. É preciso olhar também para o “o quê” ela produz. A verdadeira qualidade de uma economia — sua capacidade de gerar valor, inovação e renda sustentável — está refletida em sua complexidade produtiva.
Com base nos dados de PIB em Paridade de Poder de Compra (PPP) e população estimada para 2024, temos os seguintes valores aproximados de PIB per capita PPP para os 10 maiores países:
Estados Unidos: US$ 87.074 Japão: US$ 52.984 Alemanha: US$ 71.667 Reino Unido: US$ 63.235 França: US$ 66.061 Rússia: US$ 47.986 China: US$ 26.291 Brasil: US$ 21.759 Indonésia: US$ 16.643 Índia: US$ 11.322
Esses dados mostram que, apesar de a China e a Índia estarem entre as maiores economias em tamanho total pelo critério de PPP, seus PIBs per capita ainda são significativamente mais baixos do que os dos países desenvolvidos, refletindo suas grandes populações e nível médio de renda mais baixo. Já os países como EUA, Japão e Alemanha, embora menores em população, têm níveis de produtividade e renda per capita muito superiores.
FONTE: https://www.paulogala.com.br/pib-em-paridade-de-poder-de-compra-china-ja-e-a-maior-economia-do-mundo/