Adiamento da sabatina, porém, cria o temor de contaminação eleitoral da indicação de Jorge Messias para o STF.
247 – O adiamento da sabatina de Jorge Messias, determinado pelo presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), abriu uma janela estratégica para o governo tentar reorganizar sua base. A decisão, segundo o jornal O Globo, trouxe alívio momentâneo ao Palácio do Planalto, mas também destacou o desconforto crescente entre senadores diante da escolha do advogado-geral da União para o Supremo Tribunal Federal (STF).
A suspensão do calendário — antes tratado como definitivo — permitiu ao governo ganhar dias preciosos para buscar votos que ainda não estão garantidos. Nos bastidores, porém, parlamentares avaliam que qualquer postergação que empurre a sabatina para a proximidade das eleições de 2026 tende a elevar o risco de contaminação eleitoral, tornando o processo mais turbulento e imprevisível.
A preocupação ecoa inclusive entre aliados do próprio governo. O relator da indicação, senador Weverton Rocha (PDT-MA), já havia manifestado desejo de que a questão fosse resolvida ainda em 2025, apontando que deixar a votação para o próximo ano aumentaria a nebulosidade política. A proximidade do pleito, somada à disputa pelo comando do Senado — na qual Rodrigo Pacheco (PSD-MG), favorito de boa parte da Casa para o STF, deve desempenhar papel central — tende a intensificar tensões internas.
A percepção dominante entre senadores é de que o Planalto ganhou tempo, mas não necessariamente terreno. Com o avanço do calendário, cada voto se torna mais disputado, sobretudo num ambiente permeado por alianças em mutação e cálculos eleitorais.
Ao justificar o cancelamento, Alcolumbre afirmou que houve “interferência no cronograma” por parte do Executivo, alegando que o Senado foi surpreendido pela ausência da mensagem presidencial que formaliza a indicação de Messias. Para ele, trata-se de um documento indispensável para que a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) possa dar início ao processo. “A omissão, de responsabilidade exclusiva do Poder Executivo, é grave e sem precedentes. É uma interferência no cronograma da sabatina, prerrogativa do Legislativo”, escreveu o presidente do Senado em nota aos parlamentares.
Entre líderes aliados, o adiamento foi interpretado como uma espécie de “freio técnico” com função política: segurar o processo até que Messias tenha tempo de reconstruir pontes e reduzir resistências, especialmente entre os parlamentares ligados a Pacheco. O gesto ficou evidente no momento do anúncio, feito enquanto o AGU visitava o gabinete do senador Omar Aziz (PSD-AM).
Aziz relatou que Messias recebeu a notícia sem reação e lembrou a conversa que ambos tiveram minutos antes: “Eu disse para ele: ‘não tenho nada contra você, Jorge. Acontece que houve uma frustração dos senadores na não indicação do Rodrigo Pacheco, isso aí houve’. Falei para ele e é verdade, havia uma expectativa de que o Rodrigo fosse indicado, agora quem indica é o presidente (Lula). Ele (Messias) falou que não tem nada, que ele não se articulou politicamente para isso”.
O parlamentar relatou também que Alcolumbre havia antecipado a decisão em conversa privada: “O Davi já tinha conversado comigo pela manhã, nós falamos sobre isso, e a decisão estava tomada”. Aziz avalia que o intervalo aberto pelo adiamento pode favorecer um diálogo mais amplo: “O adiamento dá a ele mais tempo para conversar com todos os senadores. A mensagem ainda não chegou, então agora ele tem tempo para fazer essas conversas”.
Foto: Andressa Anholete/Agência Senado
FONTE: https://www.brasil247.com/regionais/brasilia/planalto-e-messias-ganham-tempo-para-reunir-votos-no-senado