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Por que Chicago nunca ensina o segredo chinês?

As 10 heresias econômicas que fizeram uma ditadura destruir 50 anos de teoria do livre mercado.

Por que a Escola de Chicago jamais ensinará sobre o milagre econômico chinês?

Durante décadas, Chicago exportou suas teorias de livre mercado para o mundo. Milton Friedman pessoalmente visitou a China em 1988 defendendo a terapia de choque.

Gary Becker, Jacob Mincer e Theodore Schultz pregavam que o mercado se encarregaria de tudo. Seus alunos se espalharam pelo mundo aplicando privatização massiva, abertura comercial abrupta e ajuste fiscal ortodoxo.

Mas um país comunista de 1,4 bilhão de pessoas simplesmente ignorou Chicago, rejeitou suas receitas e multiplicou sua economia por 15 vezes em 40 anos. De US$ 45 bilhões em exportações em 1990 para US$ 3,6 trilhões em 2021.

Hoje a China registra mais patentes que EUA, Japão e Coreia do Sul combinados, produz mais de 50% do aço mundial e acumulou US$ 4 trilhões em reservas.

Agora vou revelar as 10 heresias econômicas que Chicago prefere esquecer – e que fizeram da China a maior economia do mundo.

Prepare-se para descobrir por que cinquenta anos de teoria neoliberal desabaram diante do pragmatismo chinês.

Heresia #1: A China rejeitou Milton Friedman na sua cara e prosperou.

Em 1988, Milton Friedman visitou pessoalmente a China defendendo terapia de choque. Queria que os chineses liberalizassem todos os preços de uma vez, privatizassem empresas estatais e abrissem a economia imediatamente. Deng Xiaoping até tentou implementar uma versão suave dessas ideias – o resultado foi desastroso. A inflação explodiu para 25% ao ano, contribuindo para os protestos da Praça da Paz Celestial. Em poucos meses, a China reverteu completamente as políticas e voltou ao controle estatal. Enquanto isso, a Rússia seguiu Chicago à risca e viu seu PIB despencar 50% nos anos 90. A China escolheu o gradualismo e se tornou superpotência. Chicago nunca ensina essa parte da história.

Heresia #2: Empresas estatais chinesas destroem multinacionais privadas americanas.

Chicago prega que empresas estatais são ineficientes por definição. A China mantém 95-100 gigantescas empresas estatais controlando setores estratégicos – energia, telecomunicações, bancos, petróleo. O resultado? A chinesa SAIC vende mais carros que a General Motors. O ICBC é o maior banco do mundo. A State Grid é a maior empresa de energia. A China State Construction constrói mais que qualquer empresa americana. Essas “ineficientes” estatais chinesas dominam rankings globais e financiam o desenvolvimento tecnológico do país. Enquanto Chicago insiste que “governo não funciona”, empresas estatais chinesas estão conquistando o mundo.

Heresia #3: Protecionismo seletivo criou campeões tecnológicos globais.

Imagem mostrando gráfico vendas carros elétricos BYD chinesa superando Tesla globalmente 2021-2023

A teoria de Chicago diz que protecionismo sempre prejudica a economia. A China fez exatamente o oposto: aplicou protecionismo cirúrgico em setores estratégicos. Bloqueou Google, Facebook e Twitter para proteger Baidu, WeChat e Weibo. Restringiu PayPal para desenvolver Alipay e WeChat Pay. Limitou acesso de montadoras estrangeiras para fortalecer BYD e geração própria de carros elétricos. Exigiu transferência tecnológica obrigatória em troca de acesso ao mercado. O protecionismo “cientificamente comprovado” como prejudicial gerou os grandes sucessos tecnológicos do século XXI.

Heresia #4: Subsídios estatais massivos criam vantagem competitiva sustentável.

Chicago ensina que subsídios distorcem o mercado e geram ineficiência. A China subsidiou sistematicamente setores estratégicos por décadas. Investiu mais de US$ 30 bilhões em desenvolvimento de chips após sanções americanas. Subsidiou energia solar até dominar 80% da produção mundial. Financiou ferrovias de alta velocidade até ter a maior rede do planeta (40 mil km). Bancou 5G até liderar globalmente com Huawei e ZTE. Esses “ineficientes” subsídios transformaram a China no maior produtor mundial de energia renovável, uma das líderes em inteligência artificial e potência espacial que chegou à Lua. Chicago chama de “distorção” – a China chama de estratégia.

Heresia #5: Planejamento econômico de longo prazo supera a “mão invisível” do mercado.

A escola de Chicago venera a “mão invisível” de Adam Smith – deixa o mercado decidir tudo. A China faz o oposto: planeja sistematicamente em horizontes de 10-30 anos. O plano “Made in China 2025” visa dominar 10 setores tecnológicos estratégicos. O plano anterior focou em infraestrutura e resultou na maior rede de ferrovias de alta velocidade do mundo. Investe há décadas em educação técnica, hoje formando mais engenheiros que EUA e Europa combinados.

Imagem mostrando infográfico plano Made in China 2025 com 10 setores estratégicos tecnológicos chineses

O plano “Made in China 2025” visa dominar 10 setores tecnológicos estratégicos

analisarmos os planos quinquenais chineses em nosso curso sobre o modelo de desenvolvimento da China, fica evidente como cada ciclo de planejamento construiu sobre o anterior, criando uma trajetória coerente de desenvolvimento que seria impossível de alcançar através de decisões de mercado fragmentadas.

Heresia #6: Controle cambial estratégico destrói teorias de câmbio flexível.

Chicago prega câmbio flexível como panaceia. A China controlou rigidamente sua moeda por décadas. Em 1994, desvalorizou brutalmente o yuan de 5-6 para 8-9 por dólar, tornando produtos chineses ultracompetitivos. Manteve câmbio artificialmente desvalorizado por anos, acumulando trilhões em reservas. Resistiu a pressões americanas por valorização até estar pronta. Usou política cambial como arma de guerra comercial. Resultado: explosão nas exportações que durou 30 anos e transformou a China em “fábrica do mundo”. A “distorção” cambial chinesa foi mais eficaz que qualquer “ajuste de mercado” ensinado em Chicago.

Heresia #7: Transferência tecnológica forçada acelerou o desenvolvimento mais que qualquer política de livre comércio.

Chicago defende livre comércio irrestrito e direitos de propriedade intelectual absolutos. A China forçou transferência tecnológica como condição para acesso ao seu mercado. Exigiu joint ventures obrigatórias entre empresas estrangeiras e chinesas. Aplicou engenharia reversa sistematicamente. Enviou milhões de estudantes para absorver conhecimento no exterior. “Copiou” tecnologias até dominar processos produtivos. Em 2021, a China registrou 607 mil patentes – 38% do total mundial (46.6% das aplicações, mas 38% das concessões). O país que “roubava” tecnologia agora lidera em inteligência artificial, 5G e energia renovável. A violação de patents chicago defendida gerou mais inovação que décadas de livre comércio.

Imagem mostrando China lidera 46.6% aplicações patentes mundiais superando EUA Japão Coreia

China lidera aplicações de patentes mundiais com 46,6% do total global

Heresia #8: Investimento estatal massivo em P&D supera venture capital privado.

Chicago acredita que investimento privado aloca recursos melhor que governos. A China investe mais em P&D que qualquer país – principalmente via recursos estatais. Financia universidades, laboratórios e centros de pesquisa através de bancos públicos. Criou ecossistemas de inovação coordenados pelo Estado. Shenzhen passou de vila de pescadores para Vale do Silício chinês através de planejamento estatal. Investiu pesadamente em inteligência artificial, computação quântica e biotecnologia. Resultado: a China superou os EUA em número de papers científicos publicados e lidera em várias tecnologias emergentes. O “ineficiente” investimento estatal gerou mais inovação que o “eficiente” capital privado.

Heresia #9: Desvalorização cambial sustentada por décadas gera prosperidade, não pobreza.

A teoria de Chicago diz que desvalorização cambial empobrece países. A China manteve yuan artificialmente desvalorizado por 30 anos. Acumulou mais de US$ 4 trilhões em reservas internacionais. Multiplicou exportações por 80 vezes (de US$ 45 bi para US$ 3,6 trilhões). Criou superávits comerciais gigantescos com o mundo inteiro. Financiou desenvolvimento interno através de poupança forçada. Resultado: maior transformação econômica da história humana. O país que “manipulava” sua moeda se tornou a maior economia em paridade de poder de compra. Chicago chama de empobrecimento – a China chama de enriquecimento estratégico.

Heresia #10: Autoritarismo econômico executou o maior programa anti-pobreza da história.

Chicago vincula livre mercado à liberdade política. A China, regime autoritário, tirou 800 milhões de pessoas da pobreza extrema – maior programa social da história humana. Multiplicou renda per capita por 15 vezes em 40 anos. Criou a maior classe média do mundo (400 milhões de pessoas). Construiu infraestrutura que conectou 1,4 bilhão de pessoas. Universalizou educação básica e expandiu ensino superior massivamente. O “autoritarismo econômico” chinês gerou mais prosperidade material que décadas de “liberdade econômica” em países que seguiram Chicago. Democracias liberais seguindo receitas neoliberais assistem aumento da desigualdade enquanto a “ditadura” chinesa reduz pobreza sistematicamente.

Imagem mostrando gráfico redução pobreza extrema China 90% para 0% entre 1981-2019

China reduziu pobreza extrema de 90% para praticamente zero em 40 anos

A experiência chinesa expôs a maior mentira da economia moderna: não existe caminho único para o desenvolvimento.

Enquanto Chicago exportava dogmas sobre privatização, abertura abrupta e Estado mínimo, um país comunista de 1,4 bilhão de pessoas simplesmente ignorou essas receitas e construiu a maior economia do mundo.

A China provou que gradualismo supera terapia de choque, que empresas estatais podem ser eficientes, que protecionismo seletivo funciona, que planejamento de longo prazo vence mercados míopes e que transferência tecnológica forçada acelera desenvolvimento.

Por isso Chicago nunca ensinará sobre o milagre chinês. Porque admitir o sucesso da China significa reconhecer que cinquenta anos de teoria neoliberal foram um experimento fracassado que empobreceu países e enriqueceu apenas elites financeiras.

Profissionais que compreendem profundamente as diferenças entre o modelo asiático de desenvolvimento e as estratégias neoliberais ocidentais encontram-se cada vez mais requisitados por organismos multilaterais, consultorias em política econômica e think tanks internacionais, à medida que governos e instituições buscam alternativas ao consenso de Washington.

A capacidade de analisar criticamente tanto os sucessos quanto as limitações de modelos contrastantes como o chinês versus as receitas da Escola de Chicago tem se tornado uma competência diferenciadora crucial para quem deseja atuar na formulação de políticas de desenvolvimento e assessoria estratégica em economia política internacional.

A lição mais perturbadora para Chicago: o maior sucesso econômico da história moderna foi construído rejeitando sistematicamente tudo que a escola de Chicago prega.

Talvez seja hora de questionar por que continuamos seguindo teorias que funcionam apenas nos livros de Chicago – mas nunca na vida real.

Por Paulo Gala

FONTE: https://paulogala.substack.com/p/china-destroi-teoria-escola-chicago-neoliberal