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Prefeitos ampliam atuação na segurança pública, mas especialistas alertam para riscos de militarização e populismo

A participação dos municípios no financiamento da segurança pública saltou de 8% para 11% entre 2019 e 2023, segundo dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Esse aumento reflete uma tendência crescente: prefeitos estão assumindo um papel mais ativo na segurança, tradicionalmente responsabilidade de estados e União. No entanto, a expansão das guardas municipais armadas, muitas vezes com fuzis, viaturas blindadas e táticas militares, tem gerado críticas de especialistas e do próprio governo federal. O secretário nacional de Segurança Pública, Mário Sarrubbo, alertou para o “populismo” na gestão municipal da segurança:
“Que os nossos prefeitos parem de fazer populismo, parem de usar a segurança pública como plataforma política e parem de dizer que só eles vão resolver a segurança pública.”

A militarização das guardas municipais

Muitas cidades estão adotando modelos semelhantes ao da Polícia Militar, com:
  • Armamento pesado (fuzis, carabinas)
  • Táticas de patrulhamento ostensivo
  • Nomenclaturas militares (como “Ronda Ostensiva Municipal” e “Inspetoria de Operações Especiais”)
Exemplos recentes:
  • Maricá (RJ): O prefeito Washington Quaquá (PT) anunciou o armamento da Guarda Municipal com um vídeo usando a trilha sonora de “Tropa de Elite”.
  • São José (SC): O prefeito Orvino Coelho (PSD) posou com um fuzil antes da eleição, prometendo combate ao crime.
  • Vargem Grande Paulista (SP): Adquiriu quatro fuzis para sua guarda.
  • São Paulo (SP): A gestão de Ricardo Nunes (MDB) comprou 80 fuzis e quer transformar a Guarda Municipal em “Polícia Municipal”.

Críticas: Segurança virou marketing político?

Especialistas apontam que:
  1. Muitas cidades não têm criminalidade alta para justificar armamento pesado. Exemplo: Águas de São Pedro (SP), com 2.780 habitantes, não registra homicídios desde 2001, mas gastou R$ 300 mil em um estande de tiro digital.
  2. Falta transparência: Guardas não têm o mesmo treinamento que policiais, mas ganham poder de abordagem e prisão.
  3. Desvio de recursos: Dinheiro que poderia ir para iluminação, câmeras e fiscalização é usado em armas e equipamentos militares.
Carolina Ricardo, do Instituto Sou da Paz, afirma:
“Tem muitas outras coisas para um município investir, como zeladoria urbana. Se for para enfrentar o crime, não é só com a guarda. Fiscalização e políticas sociais são mais eficientes, mas não dão visibilidade.”

O que diz a lei?

  • A PEC da Segurança, proposta pelo governo Lula, pode oficializar o policiamento ostensivo pelas guardas municipais.
  • O STF já decidiu que guardas têm “poder de polícia”, mas não podem substituir a PM.
  • Ricardo Lewandowski, ministro da Justiça, ressalva:
“Polícia investiga, executa mandados. Guarda Municipal não é polícia.”

Conclusão: Efeito real ou palanque?

Enquanto prefeitos vendem a imagem de “mão dura”, especialistas questionam se:
  • efetividade no combate ao crime.
  • O dinheiro público está sendo bem investido.
  • A militarização não aumenta a violência.
A pergunta que fica: Estamos vendo uma evolução O prefeito de São José, Orvino Coelho (PSD) — Foto: Reprodução FONTE: Agência de Notícias ABJ – Associação Brasileira dos Jornalistas ( Reprodução autorizada mediante citação da fonte: Agência de Notícias ABJ – Associação Brasileira dos Jornalistas )