Os bolsonaristas vão começar a enfrentar alguma dificuldade em repetir que a “liderança da oposição”, o “mito”, está à frente nas pesquisas do Brasil.
Os bolsonaristas vão começar a enfrentar alguma dificuldade em repetir que a “liderança da oposição”, o “mito”, está à frente nas pesquisas do Brasil. A mais recente da Genial Quaest, publicada hoje, 21 de agosto de 2025, mostra que essa afirmação definitivamente não corresponde à realidade. Ela traz Bolsonaro e seus eventuais substitutos em queda, enquanto o presidente Luiz Inácio Lula da Silva segue em trajetória ascendente, confirmando o que a melhora nas sondagens de aprovação, inclusive da própria Quaest, já sinalizava.
Publicado originalmente em O Cafezinho
O levantamento apresenta cinco cenários distintos para o primeiro turno, e em todos eles Lula aparece isolado na liderança, mantendo uma estabilidade entre 34% e 35% das intenções de voto. Com exceção de Bolsonaro, que também está em queda mas é mais conhecido, seus principais adversários permanecem cerca de 15 pontos percentuais atrás de Lula ainda no primeiro turno.
No cenário de primeiro turno que inclui Jair Bolsonaro – hoje inelegível, mas teoricamente o mais competitivo para a oposição –, Lula marca 34% contra 28% do ex-presidente, uma diferença de 6 pontos. Quando testado com Michelle Bolsonaro no primeiro turno, a vantagem se amplia: Lula alcança 35% contra 21% da ex-primeira-dama. No confronto com Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo e considerado o nome mais viável da direita, Lula mantém os mesmos 35%, enquanto Tarcísio fica com apenas 17%.
Segundo o diretor da Quaest, Felipe Nunes, a oposição ficou “intoxicada” pelo tarifaço, episódio que elevou a percepção negativa sobre políticos alinhados a Bolsonaro. Essa contaminação atingiu praticamente todos os nomes da direita, incluindo aqueles que tentaram se manter distantes da polêmica.
No segundo turno, onde tradicionalmente as disputas se acirram, Lula demonstra força ainda mais impressionante. Contra Tarcísio de Freitas, considerado seu adversário mais competitivo, o presidente abriu uma vantagem de 8 pontos percentuais – o dobro dos 4 pontos registrados na pesquisa anterior, de julho. Trata-se de uma “boca de jacaré” que Lula vem abrindo sistematicamente desde maio, consolidando uma tendência de crescimento que desafia as expectativas da oposição.
A análise regional revela um mapa eleitoral complexo, mas favorável a Lula nacionalmente. Tarcísio mantém força em seu reduto paulista, onde venceria por 17 pontos, e também levaria Goiás (15 pontos), Paraná (14 pontos) e Rio Grande do Sul (5 pontos). Contudo, seria derrotado de forma contundente na Bahia, onde Lula abriria 42 pontos de diferença, e em Pernambuco, com vantagem de 39 pontos para o petista. Essa distribuição geográfica sugere que, mesmo com penetração regional, Tarcísio enfrentaria dificuldades para construir uma coalizão nacional vitoriosa.
Contra outros adversários no segundo turno, a vantagem de Lula se mostra ainda mais robusta. Flávio Bolsonaro, testado pela primeira vez, aparece 16 pontos atrás do presidente. Jair Bolsonaro, que já havia perdido terreno, viu sua desvantagem dobrar de 6 para 12 pontos entre julho e agosto. Michelle Bolsonaro também recuou, passando de 7 para 13 pontos de diferença.
Em todos os cenários de segundo turno, Lula mantém uma consistência em torno de 47% das intenções de voto, o que, considerando a margem dos adversários, projetaria uma vitória para o petista com quase 60% dos votos válidos.
O declínio de Bolsonaro fica ainda mais evidente quando analisado historicamente, especialmente em São Paulo, estado que foi decisivo em suas vitórias anteriores. Em 2018, o então candidato abriu 30 pontos de vantagem sobre Fernando Haddad no estado paulista. Em 2022, superou Lula por 10 pontos na mesma região. Agora, em 2025, os dois aparecem tecnicamente empatados em São Paulo – uma mudança que simboliza a erosão da força eleitoral bolsonarista.
Na pesquisa espontânea, indicador importante quando se está distante da eleição, apenas Lula e Bolsonaro registram pontuação relevante. O presidente marca 16%, um crescimento de 1 ponto em relação a julho, enquanto Bolsonaro oscila dois pontos para baixo e pontua 9%. A tendência é clara: Lula em ascensão, Bolsonaro em declínio. Paralelamente, 65% dos entrevistados defendem que Bolsonaro desista de disputar 2026, um indicativo de que sua inelegibilidade encontra respaldo na opinião pública.
O caso de Ciro Gomes merece análise à parte, pois ilustra as contradições enormes de suas movimentações políticas. O ex-ministro apresenta índices de rejeição impressionantes, especialmente entre os segmentos em que ele vem buscando se aproximar. Na direita não-bolsonarista, 65% afirmam que o conhecem e não votariam nele. Entre os bolsonaristas, esse percentual sobe para 66%. Curiosamente, sua menor rejeição está na esquerda lulista e não-lulista, onde marca 42% – ainda assim, um patamar elevado.
Esses números revelam a magnitude do equívoco de Ciro ao focar seu discurso em ataques ao lulismo. A direita vê Ciro como um “palhaço útil”, compartilhando suas críticas contra Lula e o PT por acreditar que uma “voz da esquerda” teria mais credibilidade para atacar o petista. No entanto, quando perguntados sobre quem deveria ser o candidato da direita caso Bolsonaro não concorra em 2026, Ciro obtém zero pontos – o único nome com essa marca, enquanto todos os demais registram ao menos 2 pontos ou mais. Michelle Bolsonaro lidera com 16%, seguida por Tarcísio com 14%.
O dilema de Ciro é evidente: seu único espaço político real está na esquerda, mas essa esquerda encontra-se totalmente ocupada pelo lulismo. As pesquisas mostram que Lula mantém aprovação muito alta tanto no eleitorado de esquerda quanto entre seus eleitores de 2022, consolidando uma hegemonia que não deixa brechas significativas para alternativas internas ao campo progressista.
A melhora de Lula não se limita às intenções de voto. Pela primeira vez no ano, sua rejeição caiu, passando de 57% em maio para 51% em agosto, movimento acompanhado pelo crescimento de seu potencial de voto. Entre os opositores, ocorre o fenômeno inverso: a rejeição aumentou enquanto o potencial de voto permaneceu estável. Tarcísio, por exemplo, viu sua rejeição saltar de 33% para 39% no mesmo período.
Os dados da Genial Quaest, coletados entre 13 e 17 de agosto com 12.150 entrevistados, mostram que se as eleições fossem realizadas hoje, Lula teria uma vitória maiúscula, com quase 60% dos votos válidos no segundo turno.
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Foto: Ricardo Stuckert/PR
FONTE: https://www.brasil247.com/blog/quaest-lula-abre-15-pontos-de-vantagem-no-primeiro-turno