A democracia brasileira está sob ataque. A extrema-direita já articula a guerra informacional para 2026. Vamos assistir em silêncio ou reagir com inteligência?.
A democracia brasileira está, mais uma vez, na mira de um ataque coordenado. E desta vez, a ofensiva não se dá apenas nos salões do Congresso ou nos bastidores do Judiciário, mas nos fluxos invisíveis que modulam nossas consciências, nossos desejos, nossas decisões políticas. É nos códigos, nos algoritmos e nos dados que se decide quem somos e quem podemos ser. A recente articulação revelada entre gigantes da tecnologia — Meta e Google — e setores da extrema-direita brasileira não é um boato conspiratório. É um dado concreto, confirmado por reportagens, que escancara a preparação de um novo ciclo de guerra informacional para 2026, mirando, outra vez, a democracia e a soberania do povo brasileiro.
Não se trata de ficção. Trata-se de poder real, operando em tempo real, a partir de plataformas privadas que transformaram a esfera pública em terreno de manipulação em larga escala. O objetivo: minar a autonomia cognitiva da sociedade, manipular percepções, sabotar consensos democráticos e inviabilizar qualquer projeto popular de reconstrução do país.
Diante dessa ameaça, a reação não pode ser protocolar. Não podemos assistir calados ao envenenamento do debate público e à captura do imaginário coletivo por redes antidemocráticas. É preciso agir — com inteligência, estratégia e coragem — para construir uma resposta popular, democrática e soberana.
Nos dias 8 e 9 de julho, Brasília será o ponto de virada. É quando acontece o encontro Soberania Já!, convocado por redes, coletivos, sindicatos, comunicadores populares e movimentos sociais de todo o país. O evento ocupará o Congresso Nacional, o STF, o Palácio do Planalto e, sobretudo, os espaços autônomos, onde a criatividade política pode florescer sem as amarras institucionais. O objetivo é claro: elaborar, de forma plural e coletiva, o Plano Digital da Soberania Brasileira, capaz de proteger a sociedade contra os efeitos corrosivos da guerra algorítmica e do neocolonialismo informacional.
O alerta foi dado. Como denuncia o manifesto do evento, Meta e Google sentaram à mesa com operadores políticos que conspiram contra a democracia. Este pacto sinistro evidencia a urgência de romper a dependência tecnológica que deixa o Brasil refém de interesses privados globais. Não há democracia sólida enquanto nossa comunicação estiver submetida a regras de plataformas estrangeiras. Não há soberania real enquanto nossos dados, nossos fluxos de informação e até nossa memória coletiva estiverem nas mãos de conglomerados que não respondem ao interesse público.
O encontro em Brasília promete mais do que protestos. Ele quer articular soluções concretas: marcos regulatórios democráticos, formação e capacitação da base, fortalecimento das mídias independentes, estímulo à ciência e tecnologia nacional, investimento em plataformas públicas e cooperativas, letramento digital crítico e ações de educação popular que permitam ao povo entender como se constrói a dominação algorítmica — e como quebrar seus grilhões.
É hora de fincar o pé na história. Estamos diante de um dos maiores desafios desde a redemocratização do país: garantir que o debate público não seja sequestrado, que as eleições não sejam fraudadas por campanhas de desinformação industrializadas, que a pluralidade e a dignidade humana possam sobreviver ao bombardeio de narrativas falsas e ódio orquestrado.
O chamado que ecoa em Brasília nestes dias 8 e 9 de julho não é um chamado qualquer. É o grito de quem sabe que a democracia brasileira está em risco, mas também tem consciência de que a única força capaz de defendê-la é o próprio povo organizado.
Não se trata de ingenuidade. A construção de uma soberania informacional brasileira passa por conflitos profundos: enfrentaremos o lobby de gigantes corporativos, a chantagem geopolítica das potências tecnológicas, a cumplicidade de setores reacionários que preferem ver o país ajoelhado a vê-lo soberano. É por isso que o Soberania Já! É mais do que um protesto — é uma trincheira de articulação e construção, que começa agora e precisa se prolongar até consolidar, na prática, um novo modelo democrático de governança digital.
Há quem chame isso de utopia. Mas a utopia, já dizia Galeano, serve para que a gente continue caminhando. Não haverá democracia plena no Brasil sem soberania digital, e não haverá soberania digital sem participação popular massiva, ativa, vigilante e mobilizada.
O encontro de Brasília aponta o caminho: lutar contra o colonialismo algorítmico que transforma pessoas em mercadorias e dados em armas de manipulação. Defender as garantias constitucionais e a soberania nacional diante de um capitalismo de vigilância que se mostra cada vez mais autoritário. Resgatar o sentido público da tecnologia para colocar as redes a serviço da comunidade, e não de tiranias digitais.
Quem puder, compareça. Quem não puder, organize rodas de conversa, debata, denuncie, compartilhe informação qualificada. Não há tempo a perder. As eleições de 2026 já começaram — nos bastidores, nos acordos obscuros, nos algoritmos que modulam nossas emoções e paixões políticas. Se não reagirmos agora, o enredo poderá ser trágico.
Por isso, Soberania Já não é apenas um evento, mas uma convocação histórica. É a chance de provar que o povo brasileiro não se ajoelha perante algoritmos, nem tolera que sua democracia seja rifada em mesas corporativas. Se a liberdade de expressão ainda vale alguma coisa, ela vale para resistir. Se a democracia ainda nos importa, ela nos chama para agir.
Porque, no fim das contas, a democracia — assim como a soberania — não se defende sozinha. É hora de colocar as mãos na massa. É hora de construir o futuro que nos pertence.
Nos vemos em Brasília.
Foto: Tânia Rêgo / Agência Brasil
FONTE: https://www.brasil247.com/blog/soberania-ja-o-levante-democratico-em-defesa-da-autonomia-digital-do-brasil