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Trump amplia controle sobre a mídia dos EUA

Magnatas próximos ao presidente fortalecem o controle sobre veículos e plataformas estratégicas nos Estados Unidos.

247 – A ofensiva do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para consolidar influência sobre o sistema de comunicação do país, ganha novos capítulos. Uma série de aquisições e parcerias tem aproximado algumas das principais empresas de mídia e tecnologia da órbita política trumpista, desenhando um cenário de concentração sem precedentes.

Segundo reportagem publicada pela Folha de S.Paulo, o avanço ocorre em ritmo acelerado: plataformas e redes de TV que moldam a opinião pública americana estão sendo absorvidas por empresários alinhados ao movimento Maga — sigla de Make America Great Again (“faça a América grandiosa novamente”). Já fazem parte dessa rede a Fox News, a tradicional CBS, agora comandada por David Ellison, e o X (antigo Twitter), sob controle de Elon Musk.

O império dos Ellisons e o novo eixo da mídia conservadora

David Ellison, de 42 anos, herdeiro do fundador da Oracle, Larry Ellison, desponta como o novo magnata da comunicação. O bilionário e seu pai integram o grupo de empresários escolhidos por Trump para liderar a compra do TikTok nos Estados Unidos, após um acordo com Pequim. O preço sugerido — cerca de US$ 14 bilhões — é considerado uma barganha frente ao valor real do aplicativo. A Oracle, por sua vez, ficaria encarregada de reconfigurar o algoritmo da rede com dados de usuários americanos.

O mais recente movimento dos Ellisons foi uma proposta de compra da Warner Bros. Discovery (WBD), controladora da CNN e da HBO. Embora o presidente da WBD, David Zaslav, tenha rejeitado a oferta inicial, a pressão dos acionistas pode mudar o rumo da negociação.

Larry Ellison mantém relação próxima com Trump. Ele estava na Casa Branca quando o presidente anunciou o projeto Stargate, uma parceria trilionária entre a Oracle, a OpenAI e o SoftBank para a criação de datacenters de inteligência artificial nos EUA.

CBS sob nova direção e a “deswokização” da imprensa

Após comprar a Paramount e fundi-la à Skydance, David Ellison assumiu também o controle da CBS. Para a chefia da emissora, nomeou a jornalista Bari Weiss, que iniciou o processo de “deswokização” — ou seja, o afastamento de pautas ligadas à diversidade e à equidade racial. Weiss ganhou notoriedade ao deixar o The New York Times alegando perseguição por suas opiniões de centro-direita.

Trump celebrou publicamente a parceria dos Ellisons com a CBS. “Larry Ellison é ótimo, e seu filho, David, é ótimo. São meus amigos e grandes apoiadores. Eles farão a coisa certa”, afirmou o presidente.

Especialistas alertam para “golpe midiático”

Para Jeffrey Chester, diretor do Centro para Democracia Digital, “está em curso um golpe na mídia. Vão silenciar quem não apoia a agenda Maga”. Segundo ele, o cenário representa uma “mudança radical no sistema de comunicação” que tende a fortalecer o campo conservador.

A professora Emily Bell, da Universidade Columbia, expressou preocupação semelhante em artigo na Columbia Journalism Review. “A concentração de veículos sob David Ellison é um exemplo preocupante de integração vertical na era da inteligência artificial”, afirmou. “A Oracle é uma empresa de tecnologia, não de mídia, mas agora se insere profundamente na cadeia de produção da informação.”

O cerco à imprensa independente

A investida sobre as empresas de mídia é a segunda etapa do plano de Trump para controlar o ecossistema informativo. A primeira foi a normalização de influenciadores de extrema direita na cobertura da Casa Branca, ao mesmo tempo em que veículos independentes, como a Associated Press, perderam acesso direto ao governo.

Recentemente, o Pentágono impôs uma diretriz exigindo que jornalistas se comprometam a publicar apenas informações aprovadas pelo secretário Pete Hegseth. Em protesto, diversos repórteres abandonaram a cobertura do órgão.

Enquanto isso, conglomerados como o The Washington Post, a ABC e a Meta buscam manter boas relações com o presidente para proteger seus interesses comerciais. Analistas veem no movimento de Trump uma estratégia inspirada no modelo húngaro do premiê Viktor Orbán, cuja política de controle da mídia transformou 80% dos veículos do país em aliados do governo, segundo a Repórteres sem Fronteiras.

FCC sob comando aliado e censura velada

Para consolidar o domínio sobre a comunicação, Trump depende da Comissão Federal de Comunicações (FCC), responsável por aprovar fusões e concessões. O órgão é hoje liderado por Brendan Carr, definido por Trump como “guerreiro da liberdade de expressão”.

Carr já acusou a CBS de manipular uma entrevista com Kamala Harris, o que, segundo ele, poderia afetar a avaliação da fusão entre a Paramount e a Skydance. Após uma ação judicial movida por Trump, a Paramount pagou US$ 15 milhões em acordo.

No mês passado, Carr ameaçou retaliar emissoras que exibissem o programa do comediante Jimmy Kimmel, após ele ironizar o assassinato de um ativista conservador. Poucas horas depois, redes como a Nexstar Media e a Sinclair, ambas avaliadas pela FCC, suspenderam a atração.

Foto: RS/Fotos Públicas

FONTE: https://www.brasil247.com/mundo/trump-amplia-controle-sobre-a-midia-dos-eua