Agências de inteligência foram orientadas a identificar dinamarqueses e groenlandeses alinhados com objetivos dos EUA.
247 – O governo dos Estados Unidos reforçou suas atividades de inteligência na Groenlândia, território autônomo da Dinamarca, à medida que o presidente Donald Trump reafirma seu interesse em assumir o controle da ilha. Segundo o The Wall Street Journal (WSJ), as agências de inteligência estadunidenses receberam ordens para identificar moradores da Groenlândia e da Dinamarca que possam apoiar os objetivos dos EUA. A embaixada dinamarquesa em Washington se recusou a comentar sobre o assunto, e o primeiro-ministro da Groenlândia não forneceu uma resposta imediata a pedidos de declaração.
Esse movimento é uma das primeiras ações concretas do governo Trump para concretizar sua intenção declarada de tomar posse da Groenlândia, um interesse que o presidente justifica com questões de segurança nacional. A base militar dos EUA em Pituffik, localizada no norte da ilha, é considerada uma das mais estratégicas do planeta.
Na semana passada, vários altos funcionários sob a liderança da Diretora de Inteligência Nacional, Tulsi Gabbard, enviaram uma “mensagem de ênfase de coleta” aos chefes das agências de inteligência, orientando-os a investigar tanto o movimento de independência da Groenlândia quanto a questão da extração de recursos naturais na ilha.
A “mensagem de ênfase de coleta” é um documento que orienta as prioridades das agências de inteligência, destinando recursos e atenção a áreas consideradas de alto interesse. A ordem, que envolveu agências como a CIA, a DIA e a NSA, sublinha o compromisso do governo dos EUA com o controle da Groenlândia, que, embora seja uma região autônoma, faz parte do Reino da Dinamarca, membro da OTAN e aliado histórico dos Estados Unidos.
James Hewitt, porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, declarou que a Casa Branca não comenta assuntos de inteligência, mas enfatizou que “o presidente foi muito claro ao afirmar que os EUA estão preocupados com a segurança da Groenlândia e do Ártico”.
Em resposta à divulgação das ações de inteligência pelo WSJ, Tulsi Gabbard criticou o jornal, afirmando que a publicação deveria “se envergonhar de ajudar agentes do Estado profundo que buscam minar o presidente politizando e vazando informações confidenciais. Eles estão violando a lei e minando a segurança e a democracia da nossa nação”.
Conforme um ex-oficial de inteligência dos EUA e um ex-alto funcionário com foco na Europa ouvidos pela reportagem, a Groenlândia historicamente não era uma prioridade na coleta de informações de inteligência. “Os recursos de coleta de inteligência são limitados”, comentou o ex-funcionário, explicando que, normalmente, eles são direcionados para “ameaças percebidas, e não para países aliados”.
Desde seu primeiro mandato, Trump tem demonstrado interesse em comprar ou conquistar os 2,1 milhões de quilômetros quadrados da Groenlândia, que possui grandes depósitos de minerais essenciais, como as “terras raras”, utilizadas na fabricação de veículos elétricos, turbinas eólicas, entre outros produtos. Além disso, a ilha guarda reservas inexploradas de petróleo e gás natural. A maior parte das empresas de mineração que operam na Groenlândia são australianas, canadenses ou britânicas, com poucas iniciativas dos EUA no setor.
A visita de uma delegação dos EUA à Groenlândia, composta pelo vice-presidente J.D. Vance, o então conselheiro de segurança nacional Mike Waltz e o secretário de Energia Chris Wright, em março, gerou indignação tanto entre líderes dinamarqueses quanto entre os residentes da ilha. A primeira-ministra dinamarquesa, Mette Frederiksen, declarou à televisão local antes da chegada da delegação que a visita impunha “pressão completamente inaceitável sobre a Groenlândia, os políticos groenlandeses e a população local”, além de pressionar a Dinamarca. O novo primeiro-ministro da Groenlândia, Jens-Frederik Nielsen, descreveu a visita como um sinal de “falta de respeito” e pediu que a ilha se unisse diante da “pressão externa”.
Diante das ameaças de anexação por Trump, tanto a Groenlândia quanto a Dinamarca buscaram estreitar laços. O novo primeiro-ministro groenlandês se encontrou com a primeira-ministra dinamarquesa em Copenhague em abril para discutir o futuro da ilha. Ambos os líderes afirmaram que apenas os groenlandeses devem decidir o destino do território.
A relação foi ainda mais fortalecida após o ex-primeiro-ministro groenlandês, em dezembro, culpar a Dinamarca pelo que chamou de genocídio histórico na ilha ártica, intensificando a movimentação por sua independência.
FONTE: https://www.brasil247.com/mundo/trump-amplia-ofensiva-pelo-controle-da-groenlandia-diz-wsj