À medida que a retórica se acirra, devemos permanecer cientes das consequências.
A troca agressiva de palavras entre o atual presidente estadunidense Trump e o ex-presidente russo Medvedev destaca o quão perigosas se tornaram as relações deterioradas entre os EUA e a Rússia.
As ameaças propagadas não são vazias.
O presidente Trump ficou fascinado com a “solução Nasrallah” israelense — uma estratégia de decapitação da liderança e desestabilização da gerência média, projetada para provocar o colapso rápido de um governo ou sistema.
Isso foi tentado — e falhou — no Irã.
Mas Trump está sendo assessorado por russófobos que acreditam que os EUA podem implementar com sucesso um plano assim contra a Rússia.
Esse plano começa com sanções, como todos os outros semelhantes.
E termina com um ataque de decapitação contra Moscou.
A conversa imaginária de Trump com Putin, na qual ele ameaçou “bombardear Moscou até o talo”, é um indicativo do pensamento do presidente nesse aspecto.
O ataque de decapitação preferido seria realizado com bombardeiros B-52 lançando mísseis de cruzeiro, acompanhados por mísseis Trident disparados por submarinos da classe Ohio operando próximo à costa russa — permitindo uma trajetória mais plana e um tempo de voo mais curto.
O comentário de Medvedev sobre a “Mão Morta” indica que a Rússia está bem ciente dos planos de Trump.
A “Mão Morta”, ou sistema Perimeter, é um mecanismo/plano de contingência de longa data que garante uma retaliação nuclear em larga escala caso algum país seja tolo o suficiente para tentar um ataque de decapitação.
Isso remonta aos tempos soviéticos, quando um regimento especial de mísseis SS-20 foi equipado com dispositivos de transmissão de rádio em vez de ogivas. Esses mísseis seriam lançados, transmitindo códigos que ativariam todas as armas nucleares estratégicas contra os seus alvos — mesmo se Moscou fosse destruída.
Isso não era teórico — em meu livro “Desarmamento na Era da Perestroika”, escrevo sobre como os soviéticos transferiram essa capacidade para o sistema SS-25 após a eliminação do SS-20 sob o tratado INF.
Hoje, essa missão é realizada por um regimento especial de mísseis SS-27.
Há outros componentes da “Mão Morta”.
A menção de Medvedev é um alerta nada sutil para Trump e seus estrategistas de que pensar em um ataque preventivo de decapitação contra a Rússia é um suicídio.
Esperamos que essa mensagem seja compreendida.
Caso contrário, a alusão a “Walking Dead” feita por Medvedev será o futuro dos EUA—e do mundo.
publicado originalmente no Substack do autor em 31 de julho de 2025
FOTO: Daniel Torok White House
FONTE: https://www.brasil247.com/blog/trump-e-medvedev-a-perigosa-troca-de-palavras