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Trump empurra Lula para a esquerda

A ofensiva de Trump contra Lula revela o desespero dos EUA diante da perda de hegemonia global e da ascensão do BRICS como nova força multilateral.

O imperador Trump resolveu engatilhar suas armas contra o Brasil, contra Lula, contra o BRICS, contra o Sul Global.

Está desesperado porque o dólar não é mais a moeda hegemônica mundial.

Lula é quem tem expressado essa opinião com maior força, como, recentemente, durante reunião dos BRICS no Brasil, irritando, consequentemente, Washington.

A força dos BRICS — puxada pela China, como nova hegemonia comercial; pela Rússia, potência nuclear com suas ogivas hipersônicas; pela Índia, que ganha cores nacionalistas cada vez mais destacadas; pelo Brasil, potência mineral, energética e dotado de biodiversidade infinita, sem falar dos novos sócios como Indonésia, Arábia Saudita, Nigéria e outros — deixa os americanos intranquilos.

Por isso, Trump se mostra cada vez mais agressivo. Quer apertar a garganta de Lula, a quem considera um traidor do poder ocidental liderado pelos Estados Unidos, por se alinhar com a China.

Está, portanto, predisposto à guerra para sustentar o dólar, já mal absorvido pelo mercado, devido à excessiva dívida pública americana, bombeada pela financeirização especulativa global.

Contradição imperialista – Os Estados Unidos, sob Trump, vivem sua maior contradição.

O presidente quer combater o déficit comercial desindustrializante, que expande incontrolavelmente a financeirização, mas, ao mesmo tempo, precisa puxar o PIB nacional por meio da economia de guerra.

Essa é a prática imperialista, desde o pós-Segunda Guerra Mundial, como determinante do tamanho da renda nacional.

Sem guerra, o império não é império — pode virar colônia.

Roma de antigamente e a Itália/Europa de hoje são o exemplo do materialismo histórico dialético, que avança contraditoriamente em processo de negação.

Credibilidade cadente – Trump quer guerra contra seu maior inimigo, mas está inseguro para sustentá-la, porque a moeda americana está perdendo credibilidade e competitividade.

O BRICS é fator de desestabilização do dólar. O bloco, puxado pela demanda global chinesa, em forma de nova hegemonia, aposta no multilateralismo e já ultrapassa o G7 — grupo dos ricos — em crise por conta da guerra protecionista.

Sem o dólar, diminui a capacidade financeira americana para tocar guerras expansionistas.

É perder a guerra monetária, a guerra mundial — como Trump já caracteriza o panorama de eventual desastre financeiro para os Estados Unidos.

Puxada pela especulação, arma insegura que depende da capacidade do governo de consumir/financiar guerras para sustentar a demanda global imperialista, a fragilidade monetária leva o mercado a apostar contra, cobrando mais para girar a dívida de guerra.

Trump teve, recentemente, que conseguir aprovação do Congresso para um empréstimo emergencial de 3,5 trilhões de dólares, a fim de financiar a fabricação de armas, junto com redução de impostos para os ricos e cortes orçamentários para os pobres.

O Banco Central americano — o FED — necessita enxugar a liquidez que a expansão monetária de guerra produz, por meio de taxas de juros proporcionalmente mais altas, para garantir a venda de títulos do Tesouro americano.

A dívida cresce dialeticamente para esconder a hiperinflação que se expande na sua própria barriga, explosivamente, aumentando o risco de caos financeiro.

A dívida ainda cresce, desvalorizando a moeda, se o mercado perde confiança — exige mais juros para continuar financiando.

Esse é o medo e a revolta de Trump em relação ao BRICS, cujo discurso propõe uma relação de trocas globais em moeda local, como nova ordem entre os povos no cenário multilateral.

Lula vira inimigo de morte para as pretensões imperialistas globais de Trump.

Instabilidade financeira – O ataque já está em curso — e ele pode vir no campo financeiro, visto que a economia está completamente financeirizada, sob controle global do Banco Central americano, que Trump quer comandar imperialmente.

O próximo presidente do BC americano será agente de Trump para comandar as finanças globais e tentar fortalecer a estratégia de industrialização americana por meio de guerra tarifária.

Sem poder vender para seu maior cliente de manufaturados, como o Brasil pagará as dívidas dos fornecedores?

Calote à vista – Entra no horizonte do mercado dominado pela financeirização o perigo de calote: mais uma razão para a instabilidade dos juros, a inviabilizar os investimentos, o emprego, a renda, a produção e o consumo.

O perigo é — ou não — eventual golpe financeiro, como o que aconteceu com a reação do mercado, na semana passada, nos Estados Unidos, ao golpe de Trump, com trocas monetárias especulativas momentâneas que desestabilizam a política econômica controlada pelo mercado financeiro.

A taxa de juro, no cenário especulativo, sobe porque, como ensina Keynes na Teoria Geral, vira, especialmente na crise, “preço pago pela renúncia à conservação em forma líquida”, sobretudo no ambiente dominado pela preferência pela liquidez.

Desindustrialização americana – Se a preferência pela liquidez mantém o juro elevado nas crises capitalistas, torna-se inevitável a fragilização da indústria americana, que perdeu a corrida competitiva para a China.

O BRICS, puxado pela China, virou, portanto, o alvo central do imperador da Casa Branca.

A preferência pela liquidez, na crise da financeirização, inviabiliza a industrialização e o comércio internacional.

Ataque ao Brasil – Washington se volta contra o Brasil, na tentativa de sufocá-lo, financiando a direita e a ultradireita fascista, para derrubar o presidente Lula — obstáculo, na avaliação de Washington, à guerra comercial, por se voltar para os BRICS e se alinhar à China.

Só a capacidade política de mobilização popular de Lula poderia, no limite, impedir a cruzada imperialista, porque os capitalistas americanos possuem grande patrimônio econômico no Brasil.

Isso aumentaria, brutalmente, as incertezas deles, porque a guerra monetária trumpista os condena à crise — especialmente no cenário neoliberal dominado pela financeirização especulativa.

Lula, soberanamente, diante da guerra trumpista, deve, é claro, estar preparado para o que der e vier, confiante em sua capacidade política de mobilização popular para defender o Brasil na guerra híbrida tarifária imperialista.

Não dá para tapar o sol com a peneira: o Brasil está sob ataque do império depois da reunião dos BRICS.

Tudo se precipita, incontrolavelmente.

Não seria a hora de suspender o recesso parlamentar, como sinal de alerta, para fortalecer o governo e mobilizar a população em favor da soberania ameaçada?

O cenário força ou não o presidente a enfrentar o desafio do déficit fiscal, manipulado pelo mercado junto com o Banco Central dominado pela Faria Lima?

O que resta a Lula, minoritário no Legislativo, dominado por seus adversários semipresidencialistas — violadores da Constituição — senão convocar os trabalhadores para fortalecer os sindicatos e mudar a política sindical neoliberal?

O presidente, nascido no sindicalismo que o levou à Presidência, sabe que sua força, em última instância, está nas ruas — sua arma democrática legitimadora.

Lula, indiscutivelmente, está sendo empurrado para a esquerda por Trump, que arregimenta a direita e a ultradireita para tentar dar mais um golpe político no Brasil, como fizeram no passado contra Getúlio e Jango, para destruir a soberania nacional.

Lula entra na fila dos condenados pelo império americano: Getúlio e Jango.

Aliás, Jango antecipou a aproximação do Brasil com a China e, por isso, foi golpeado.

FOTO: Wikimedia Commons

FONTE: https://www.brasil247.com/blog/trump-empurra-lula-para-a-esquerda