O presidente dos EUA avalia riscos de uma intervenção direta, enquanto aliados pressionam por medidas mais duras contra Caracas.
247 – O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, tem manifestado incertezas a seus principais assessores sobre a eficácia de uma operação militar destinada a derrubar o presidente venezuelano, Nicolás Maduro. Segundo revelou o Wall Street Journal, Trump teme que ataques aéreos não sejam suficientes para forçar a renúncia do líder de Caracas, levantando dúvidas dentro do governo americano sobre os rumos da política externa em relação à Venezuela.
De acordo com o jornal americano, que cita autoridades próximas às discussões internas na Casa Branca, o debate sobre uma possível ofensiva militar tem dividido a cúpula do governo. Mesmo após o aumento da presença de tropas norte-americanas no Caribe e as ameaças públicas do presidente, ainda não há consenso sobre se o objetivo deve ser a deposição de Maduro ou a obtenção de concessões políticas e econômicas do governo venezuelano.
Por ora, Trump estaria satisfeito em intensificar gradualmente a presença militar na região, concentrando esforços em operações contra embarcações suspeitas de envolvimento com o tráfico de drogas. O episódio mais recente ocorreu na terça-feira, quando a Marinha dos EUA destruiu uma embarcação no Pacífico Oriental, resultando na morte de dois tripulantes. “Estamos destruindo-os, ligados ao regime de Maduro na Venezuela”, declarou Trump durante discurso em Miami.
Conforme informações do The New York Times, as alternativas apresentadas ao presidente vão desde o endurecimento de sanções econômicas e restrições ao petróleo venezuelano até uma campanha de ataques aéreos contra instalações militares e governamentais. O Wall Street Journal acrescenta que o Departamento de Justiça americano estuda uma justificativa legal para incluir Maduro como alvo direto de uma operação militar.
Apesar de ter classificado o líder venezuelano como “narcoterrorista” e de oferecer uma recompensa de US$ 50 milhões (cerca de R$ 250 milhões) por sua captura, Trump demonstra receio em se envolver diretamente em uma tentativa de mudança de regime — sobretudo após o fracasso da estratégia de apoio à oposição venezuelana em seu primeiro mandato, segundo ex-funcionários citados pelo jornal.
Escalada militar no Caribe
O Pentágono anunciou em 24 de outubro o envio do porta-aviões USS Gerald R. Ford e de seu grupo de ataque ao Caribe, juntando-se a oito navios de guerra americanos. Trata-se da maior mobilização militar dos Estados Unidos na região em décadas. A medida amplia o poder de fogo disponível caso Trump decida autorizar ataques com caças e mísseis de cruzeiro Tomahawk.Analistas militares consultados pelo Wall Street Journal avaliam, entretanto, que o ritmo das manobras e o prolongamento dos exercícios indicam que Washington ainda não decidiu pela intervenção direta. “Quando foram enviados, provavelmente não se prepararam para este cenário”, observou Bryan Clark, pesquisador do Hudson Institute. “Precisam garantir que estão prontos para o tipo de operação que pode ser exigida no Caribe.”
Pressão política e disputa eleitoral
O impasse ocorre em meio a um ambiente de forte pressão interna nos Estados Unidos, intensificado pela disputa eleitoral. Assessores próximos, como o secretário de Estado Marco Rubio, defendem uma postura mais agressiva contra Caracas, enquanto outros aconselham que sanções e diplomacia sejam suficientes para enfraquecer Maduro sem recorrer à força.
Durante evento em Miami, a líder da oposição venezuelana María Corina Machado reforçou o tom de urgência. “Maduro precisa entender que o tempo está se esgotando”, afirmou. “Se ele aceitar uma transição, ela ocorrerá de forma ordenada e mais rápida, mas acontecerá de qualquer maneira.”
Apesar das ameaças e discursos firmes, o próprio Donald Trump negou planos imediatos de bombardeio. Questionado por jornalistas se considerava atacar alvos venezuelanos, respondeu: “Não”. Em entrevista posterior à CBS, reiterou que duvidava de uma guerra entre os dois países, mas deixou no ar a possibilidade de mudança. Ao ser perguntado se os dias de Maduro no poder estavam contados, limitou-se a dizer: “Sim”.
Foto: reprodução / GOP/Fotos Públicas
FONTE: https://www.brasil247.com/americalatina/trump-hesita-sobre-acao-militar-na-venezuela-e-teme-fracasso-em-derrubar-maduro