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“Trump jogou uma bomba atômica no comércio mundial”, diz Breno Altman

Para o jornalista, presidente dos EUA conduz contrarrevolução conservadora e impõe barreiras que abalam ordem neoliberal e abrem oportunidades à China.

247 – Em entrevista ao programa Bom Dia 247, o jornalista Breno Altman analisou os impactos da política econômica adotada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e as consequências geopolíticas de sua ofensiva protecionista. Segundo Altman, o atual mandatário norte-americano promove uma ruptura com a ordem neoliberal e redefine as bases do comércio global. “Trump jogou uma bomba atômica no comércio mundial”, afirmou, ao comentar as mudanças estruturais provocadas pelas tarifas de importação impostas por Washington.

De acordo com Altman, o objetivo central da política de Trump é “fechar o mercado interno norte-americano para permitir que empresas norte-americanas recuperem sua capacidade produtiva dentro dos Estados Unidos”. Essa estratégia, explicou, busca também forçar empresas estrangeiras a se instalarem no território norte-americano, como forma de escapar das barreiras tarifárias. Para que esse plano funcione, Trump pressiona por uma queda nas taxas de juros e cobra investimentos em infraestrutura.

“O financiamento da aquisição de mercadorias dentro dos Estados Unidos, que podem ficar mais caras por conta das tarifas, precisa ser mais barato. Isso tem a ver com a taxa de juros”, destacou Altman. O jornalista lembrou que o Banco Central norte-americano é formalmente independente, mas ressaltou que o presidente pode demitir seu presidente com apoio do Senado, o que estaria no horizonte da atual administração.

O efeito interno das medidas, no entanto, já começa a gerar insatisfação, segundo ele. Altman citou o setor agrícola como um dos mais afetados, com destaque para os produtores de soja, que perderam mercado com a China devido à guerra comercial. “Era um setor que tinha apoiado Donald Trump. E agora estão bravos, estão furiosos”, relatou.

O jornalista avalia que, além das manifestações promovidas pela oposição, Trump pode enfrentar resistência dentro de sua própria base social. “Esse sim é o problema de Trump: se ele tiver desgaste na sua base social”, afirmou, mencionando que alguns parlamentares republicanos, pressionados localmente, podem se afastar do trumpismo diante dos prejuízos econômicos.

Altman argumenta que a atual conjuntura oferece uma oportunidade histórica para países como o Brasil redefinirem sua posição na ordem global, sobretudo em aliança com a China. “A oportunidade existe, mas não acho que a política externa brasileira esteja disposta a aproveitá-la”, ponderou. Segundo ele, a orientação diplomática do governo Lula se caracteriza por “prudência” e por uma tentativa de manter boas relações tanto com os Estados Unidos quanto com a Europa.

“O Brasil está numa política de não alinhamento ativo. Temos relações com os dois blocos e não faremos das questões econômicas motivo de disputa geopolítica”, avaliou. Para Altman, a postura brasileira de evitar o confronto com Washington tem limitado seu protagonismo em fóruns como o BRICS e dificultado o aproveitamento das contradições abertas pelas ações de Trump.

“O assessor internacional do presidente Lula, Celso Amorim, já disse com clareza: o BRICS não é uma articulação contra os Estados Unidos e o G7. É uma articulação para expandir os negócios no Sul Global”, relatou Altman. Para ele, essa posição “rebaixa o papel geopolítico” do grupo e revela o temor do governo brasileiro de provocar retaliações econômicas da Casa Branca.

Apesar disso, Altman vê espaço para mudanças. “A oportunidade está posta, mas ela exige riscos. O problema é saber se o Brasil está disposto a correr esses riscos”, concluiu. Assista:

Foto: Felipe L. Gonçalves/Brasil247

FONTE: https://www.brasil247.com/entrevistas/trump-jogou-uma-bomba-atomica-no-comercio-mundial-diz-breno-altman