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Unidade humana é chave para sobrevivência

A busca pela unidade humana não é apenas um ideal nobre, mas uma necessidade urgente para a sobrevivência coletiva.

O século XXI é palco de uma paradoxal tensão entre a promessa de um mundo globalizado e a realidade de um planeta profundamente fragmentado. Enquanto a tecnologia e a economia encurtam distâncias e conectam culturas, forças opostas como o ressurgimento de nacionalismos, a escalada de conflitos regionais e a crescente desigualdade social constroem muros invisíveis que dividem a humanidade.

Nesse cenário, a busca pela unidade humana não é apenas um ideal nobre, mas uma necessidade urgente para a sobrevivência coletiva. Dados recentes de fontes confiáveis reforçam a gravidade desses desafios e apontam caminhos para superá-los, exigindo uma transformação profunda em valores, políticas e atitudes.

Sombras da Globalização

A globalização, outrora saudada como solução para a prosperidade global, revela contradições alarmantes. A interdependência econômica, que deveria fomentar cooperação, frequentemente intensifica a competição por recursos e mercados, aprofundando desigualdades.

Segundo o Relatório Mundial da Desigualdade de 2022, coordenado por Thomas Piketty, os 10% mais ricos do mundo detêm 76% da riqueza global, enquanto a metade mais pobre da população possui apenas 2%. No Brasil, a Anistia Internacional reportou em 2024 que o 1% mais rico concentra quase metade da riqueza nacional, enquanto 21,1 milhões de pessoas enfrentaram fome em 2023, equivalente a 10% da população. Essa disparidade alimenta tensões geopolíticas e sociais, minando a coesão global.

A conectividade digital, embora poderosa, também amplifica ameaças. A disseminação de desinformação e discurso de ódio online compromete a confiança nas instituições e polariza sociedades. O Relatório de Riscos Globais de 2025 do Fórum Econômico Mundial identificou a desinformação como o principal risco global de curto prazo, superando até mesmo eventos climáticos extremos.

Um estudo da Universidade de Oxford, citado em 2024, revelou que a desinformação online contribuiu para um aumento de 41% nos crimes de ódio na Europa Ocidental nos últimos cinco anos, evidenciando como narrativas falsas alimentam violência e intolerância.

No Brasil, o Observatório Nacional dos Direitos Humanos registrou 293,2 mil denúncias de crimes de ódio na internet entre 2017 e 2022, com 74 mil casos em 2022, sendo a misoginia a violação que mais cresceu.

Nacionalismo e Polarização

O avanço de lideranças populistas e movimentos extremistas agrava essa fragmentação. A retórica nacionalista, que explora medo e insegurança, ganha força em um mundo marcado por crises.

Em 2023, o Armed Conflict Location & Event Data Project (ACLED) reportou o maior número de protestos e manifestações violentas globais desde o início de seus registros, refletindo a polarização política e social.

No Brasil, a Anistia Internacional destacou em 2024 um aumento de 41% nas denúncias de violações de direitos humanos, como racismo e violência, em comparação com 2022. Essa escalada de intolerância, alimentada por narrativas xenófobas, dificulta o diálogo necessário para enfrentar desafios comuns.

A polarização também é amplificada por algoritmos de redes sociais, que criam bolhas de informação e reforçam divisões. Segundo Taís Seibt, professora da Unisinos, esses algoritmos intensificam a oposição “nós x eles”, favorecendo discursos de ódio e narrativas distorcidas. Nesse contexto, a mensagem do documento “A Prosperidade da Humanidade” ganha relevância: “O alicerce de uma estratégia capaz de levar a população do mundo a assumir responsabilidade por seu destino coletivo deve ser a consciência da unidade da humanidade.” Transcender divisões é, portanto, um imperativo.

Justiça e Solidariedade

A unidade humana vai além da coexistência pacífica; exige um compromisso ativo com justiça social, igualdade e sustentabilidade. A desigualdade econômica, por exemplo, é uma barreira crítica. A Oxfam revelou em janeiro de 2024 que a riqueza dos cinco homens mais ricos do mundo mais que dobrou desde 2020, enquanto 4,8 bilhões de pessoas ficaram mais pobres. No Brasil, o Observatório Brasileiro das Desigualdades apontou em 2024 que famílias negras são desproporcionalmente afetadas pela fome, com 22% dos domicílios chefiados por mulheres negras em insegurança alimentar grave.

A crise humanitária também reflete a urgência da solidariedade global. Em 2024, o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) registrou um recorde de 120 milhões de pessoas deslocadas à força, impulsionadas por conflitos, mudanças climáticas e perseguições. Esses números sublinham a necessidade de ações coletivas para proteger os mais vulneráveis e promover a inclusão.

Organizações não-governamentais e movimentos sociais são agentes cruciais nesse processo. Em 2024, ONGs como a Anistia Internacional documentaram retrocessos em direitos humanos, mas também avanços, como a redução de 40% na extrema pobreza no Brasil em 2023, impulsionada por políticas públicas como o Bolsa Família.

Educação e Diálogo

A educação é um fundamento essencial para construir a unidade humana. Ao fomentar o entendimento intercultural e o pensamento crítico, ela combate preconceitos e desinformação. Contudo, a UNESCO alerta que 250 milhões de crianças e jovens permanecem fora da escola em 2024, um obstáculo para alcançar o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 4, que visa educação inclusiva e equitativa. No Brasil, o IBGE revelou em 2023 que a taxa de analfabetismo entre pretos e pardos com 15 anos ou mais é de 8,2%, contra 3,3% entre brancos, evidenciando desigualdades raciais no acesso à educação.

O diálogo intercultural complementa a educação ao promover laços de confiança e valorizar a diversidade. Iniciativas como o evento do G20 no Brasil em 2024, que reuniu especialistas para discutir integridade da informação e regulação de plataformas digitais, ilustram o potencial do diálogo multilateral para enfrentar desafios globais como a desinformação. Como destaca A Prosperidade da Humanidade, o florescimento de movimentos de mudança social reflete a resposta global à fragmentação, reforçando a ideia de que a diversidade cultural é uma riqueza, não uma ameaça.

Compromisso Pessoal com a Unidade

Desde os 16 anos, há décadas, venho participando de manifestações, eventos, simpósios e assinando cartas em defesa da paz mundial, contra os perigos de uma guerra nuclear, pela eliminação de toda forma de racismo e em prol dos direitos das mulheres.

Essas ações refletem um compromisso profundo com a unidade humana, um ideal que transcende fronteiras e diferenças.

Cada passo dado nesses movimentos reforça a convicção de que a justiça, a igualdade e a solidariedade não são apenas aspirações, mas alicerces indispensáveis para um futuro compartilhado, onde a humanidade possa superar suas divisões e construir uma sociedade mais harmoniosa.

Um Futuro Compartilhado

A unidade humana não é uma utopia, mas um objetivo alcançável por meio de empatia, solidariedade e ação coletiva. Abandonar o individualismo e abraçar a interdependência é essencial para enfrentar crises globais, da desigualdade à desinformação.

Como alerta o Relatório do Desenvolvimento Humano 2023/2024 do PNUD, a polarização e a desigualdade ameaçam o progresso, exigindo cooperação internacional para criar bens públicos globais, como sistemas digitais éticos e políticas climáticas justas.

Ao reconhecermos que somos uma única família humana, podemos construir um futuro onde a paz, a justiça e a prosperidade sejam realidade para todos. Esse futuro exige que cada um de nós – indivíduos, comunidades e nações – assuma a responsabilidade de transcender divisões e valorizar a diversidade.

O mundo está à beira do abismo, mas a unidade humana é a ponte para um horizonte de esperança e transformação.

Foto: Divulgação/ Gofa Zone Government Communication Affairs Departmen

FONTE: https://www.brasil247.com/blog/unidade-humana-e-chave-para-sobrevivencia