Em entrevista ao programa New York-Beijing, historiador aponta papel da Rússia como mediadora e destaca impacto da Organização para Cooperação de Xangai.
247 – A visita de quatro dias do presidente russo Vladimir Putin à China, anunciada pelo Kremlin como “sem precedentes”, deve consolidar a reaproximação entre Pequim e Nova Délhi. A avaliação é do professor e pesquisador Eden Pereira, entrevistado nesta quinta-feira (28) pelo programa New York-Beijing, da TV 247.
Segundo Pereira, a Rússia desempenha papel estratégico na mediação das relações sino-indianas, que remontam a disputas fronteiriças herdadas do período colonial e se agravaram em 2020 com confrontos no Himalaia. “A Rússia tem feito uma mediação muito importante entre China e Índia para que elas normalizem suas relações diplomáticas. (…) Putin tem feito essa relação de mediação para dirimir essas relações dentro do quadro geral da Organização para Cooperação de Xangai porque ambas são grandes aliadas históricas da Rússia”, afirmou.
O historiador destacou que a visita de Putin ocorre num momento em que a OCX — que reúne China, Rússia, Índia, países da Ásia Central e parceiros no Oriente Médio — busca ampliar sua relevância como alternativa às alianças ocidentais. Para ele, o encontro em Tianjin, entre 31 de agosto e 1º de setembro, servirá para estruturar um novo modelo de integração regional, em especial diante da política externa adotada pelos Estados Unidos sob Donald Trump.
Segurança e estabilidade regional
Na entrevista, Pereira também ressaltou que a agenda vai além da reaproximação sino-indiana e deve incluir debates sobre segurança. Ele citou pendências que afetam diretamente membros da OCX, como a relação tensa entre Índia e Paquistão, a instabilidade no Afeganistão e até o recente conflito entre Camboja e Tailândia.
“O Putin e o Xi vão tentar, em alguma medida, articular conversas para se achar soluções para todos esses problemas, e eles acabam tendo uma maior capacidade de resolução por esses países do continente asiático — daí a importância da OCX — porque não se tem mais a presença dos EUA na área; não se tem mais a presença dos EUA no Afeganistão”, disse.
Reaproximação acelerada
A análise de Pereira dialoga com os movimentos recentes de Índia e China. Após as tarifas de 50% impostas por Trump a Nova Délhi, o governo de Narendra Modi tem buscado reduzir a dependência dos Estados Unidos e ampliar vínculos com os Brics. O anúncio da retomada de voos diretos entre Índia e China e a expectativa de um encontro histórico entre Modi e Xi Jinping durante a cúpula da OCX, após sete anos da última visita do líder indiano ao país chinês, são vistos como sinais claros de distensão.
Para o professor, o papel da Rússia, aliado de ambos os países, será decisivo para sustentar esse processo. “A visita do Putin à China consolida essa reaproximação entre China e Índia, que é muito importante também para o BRICS hoje”, concluiu. Assista à fala completa do professor no vídeo abaixo:
FOTO: Sputnik / Aleksandr Kryazhev/Photo agência anfitriã brics-russia2024.ru
FONTE: https://www.brasil247.com/entrevistas/visita-sem-precedentes-de-putin-consolidara-reaproximacao-china-india-diz-professor-eden-pereira