Valorização da moeda chinesa influencia diretamente moedas da Ásia e da América Latina, como o real brasileiro.
247 – A recente mudança na política cambial da China, com maior tolerância à valorização do yuan, deve dar novo fôlego às moedas de mercados emergentes. A informação foi publicada neste domingo (14) pela Bloomberg, que analisou a correlação entre os movimentos da moeda chinesa e o desempenho de divisas como o real brasileiro, o peso mexicano e o baht tailandês.
Nos últimos 12 meses, para cada 1% de variação do yuan, moedas emergentes como o ringgit malaio, o peso chileno e o peso mexicano apresentaram movimentos bastante próximos. O índice MSCI de moedas de países emergentes, por exemplo, registrou uma correlação de 0,59 com a taxa de referência do dólar-yuan no fim de agosto, o maior nível desde maio de 2024.
Yuan como referência regional e global
Por ser a principal moeda de referência para as economias asiáticas, o yuan funciona como um “lastro” para a região. Mas sua influência vai além da Ásia, impactando também países da América Latina e exportadores de commodities. Neste trimestre, o índice MSCI de moedas emergentes recuou 0,3%, depois de duas altas consecutivas, acompanhando a oscilação do dólar em meio às mudanças na política monetária do Federal Reserve. No acumulado do ano, porém, o indicador ainda sobe 6,8%.
Analistas destacam que há espaço para retomada da valorização das divisas emergentes, já que o Banco Popular da China (PBOC) tem dado sinais de maior flexibilidade, abandonando a política anterior de manter a moeda estável em meio às tensões comerciais.
Sinais de confiança do mercado
Eric Fine, gestor de portfólio da VanEck Associates, ressaltou que a moeda chinesa exerce papel central nos mercados emergentes. “O yuan é a moeda de cruzamento chave para a maioria dos emergentes; eles negociam mais com a China do que com os Estados Unidos. Os vencedores são todos os emergentes”, afirmou.
No dia 9 de setembro, o PBOC fixou a taxa de referência do yuan frente ao dólar no nível mais forte desde novembro, em contraste com a estratégia de meses anteriores, quando buscava conter a volatilidade gerada pela moeda norte-americana. O yuan onshore, limitado a uma banda diária de 2% em torno dessa referência, acumula alta de mais de 2% contra o dólar em 2025, após três anos consecutivos de desvalorização.
Esse movimento atraiu a confiança de investidores: fundos de hedge aumentaram apostas otimistas na moeda, projetando que ela pode encerrar o ano em torno de 7 por dólar — frente ao patamar de 7,12 registrado na última sexta-feira.
Impacto nas relações comerciais e financeiras
Brad Bechtel, chefe global de câmbio da Jefferies, avalia que a valorização gradual pode estar ligada às negociações comerciais entre Pequim e Washington. “Permitir que o renminbi se fortaleça pode ser parte das conversas entre China e Estados Unidos e da pressão internacional para deixar a moeda apreciar. Isso permitirá que as moedas asiáticas também valorizem em conjunto, facilitando a política monetária dos bancos centrais”, disse.
A China respondeu por 9% do comércio total das economias em desenvolvimento da Ásia no ano passado, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI). Além disso, o governo chinês vem intensificando esforços para ampliar o papel global de sua moeda, em meio a dúvidas crescentes sobre a força do dólar.
Para Christopher Hamilton, diretor de soluções de investimento da Invesco na Ásia-Pacífico (excluindo o Japão), o fortalecimento do yuan é estratégico: “Quando o yuan se valoriza, as moedas da Ásia emergente e as dívidas locais ganham fôlego. Uma valorização estrutural da moeda chinesa reforçará a tendência de desdolarização na região”.
Com esse reposicionamento, o yuan se consolida como vetor de estabilidade e crescimento para moedas emergentes, ao mesmo tempo em que fortalece a ambição da China de expandir sua influência financeira global.
Foto: Gerada por IA/DALL-E
FONTE: https://www.brasil247.com/economia/yuan-ganha-forca-e-deve-impulsionar-moedas-emergentes