Ex-presidente do PT afirma que elites econômicas e mídia brasileira mantêm submissão histórica aos EUA e atuam contra a soberania nacional.
247 – Durante entrevista ao programa Bom Dia 247, o ex-presidente nacional do PT, José Genoino, fez duras críticas à classe dominante brasileira, que, segundo ele, atua em aliança com o imperialismo norte-americano e compromete a autonomia política e econômica do país. As declarações foram feitas em meio à repercussão da visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à Rússia para as celebrações do Dia da Vitória e reuniões bilaterais com o presidente Vladimir Putin.
“A classe dominante brasileira, principalmente a hegemonia financeira, a hegemonia do agronegócio, a hegemonia midiática, ela é entreguista, ela se associa ao imperialismo americano e à concepção ideológica, cultural e política do mundo ocidental”, afirmou Genoino. Para ele, essa elite tenta impor uma narrativa histórica que apaga o protagonismo soviético na derrota do nazismo e alimenta uma visão subordinada da política externa brasileira.
Segundo Genoino, o alinhamento da elite nacional ao imperialismo não é apenas político ou econômico, mas carrega uma carga histórica e ideológica que remonta à Guerra Fria. “Ela associa com esses valores da democracia liberal, do próprio estado liberal em crise. Ela se associa com isso. Portanto, ela tá numa situação de dificuldade”, avaliou.
O ex-presidente do PT observa que o colapso do imperialismo e a ascensão de uma nova ordem mundial, multipolar, colocam a classe dominante brasileira em uma posição de desorientação. “Ela tá perdida, mas ideologicamente, culturalmente, ela tem uma vinculação, uma subordinação, uma submissão a algo que vem historicamente de décadas, de Guerra Fria, de combate à esquerda, de combate a qualquer mudança significativa.”
Genoino considera que essa crise da elite liberal entreguista abre espaço para a ascensão da extrema direita. “É nessa dificuldade da burguesia liberal, vamos chamar assim, entreguista, que nessa esteira surge a posição fascista de extrema direita, representada aqui pelo inelegível Bolsonaro, e se reflete nessa crise institucional para onde nós caminhamos.”
A mídia corporativa, segundo ele, atua como instrumento dessa hegemonia imperialista. “Essa mídia monopolista conservadora, ela é o partido dessa ordem ocidental chefiada pelos instrumentos de dominação do imperialismo. É uma espécie de narrativa que compõe uma hegemonia no plano político, no plano cultural, no plano ideológico, para criar uma subjetividade de corações e mentes atreladas a essa visão do mundo bipolar”, analisou.
Ao comentar as críticas da imprensa à visita de Lula a Moscou, Genoino acusou os meios de comunicação de atuarem com viés negacionista. “Eles estão assumindo até aspecto de uma posição negacionista, porque isso é negar a realidade, negar a verdade, negar o que aconteceu na história. Todo mundo sabe que foi uma participação decisiva [da União Soviética] para derrotar o nazismo na Segunda Guerra Mundial.”
Ele também enfatizou que esse alinhamento da elite nacional às potências ocidentais nunca cessou. “Essa classe dominante, ela se viabilizou economicamente numa aliança dependente com os Estados Unidos, com o imperialismo.” E mesmo setores que hoje mantêm relações comerciais com outras potências, como o agronegócio com a China, segundo Genoino, ainda carregam essa herança ideológica: “Do ponto de vista da concepção, da ideologia, predomina uma visão subalterna”.
Por fim, Genoino defendeu que a superação desse modelo de subordinação passa pela construção de uma contra-hegemonia no Brasil. “Nós temos que criar uma contraposição a esse fato […] mobilizar corações e mentes para criar uma contra-hegemonia no momento em que a hegemonia dominante é do sistema capitalista imperialista. Eu não tenho dúvida sobre isso.”
ASSISTA: https://www.youtube.com/watch?v=Wd0L7ZYTIr0
Foto: ABR
FONTE: https://www.brasil247.com/entrevistas/a-classe-dominante-brasileira-e-entreguista-e-se-associa-ao-imperialismo-diz-genoino