Associação Brasileira dos Jornalistas

Seja um associado da ABJ. Há 16 anos lutando pelos jornalistas

Análise: cúpula é vitória clara e decisiva para Putin

Encontro no Alasca reforça peso geopolítico da Rússia e especialistas apontam que Trump precisa compreender a realidade militar ucraniana.

247 – O presidente da Rússia, Vladimir Putin, encontrou nesta sexta-feira (15) o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em uma base aérea no Alasca. O encontro, que não resultou em um esboço de cessar-fogo imediato, teve como pauta central a operação militar russa na Ucrânia e as sanções aplicadas a Moscou. A análise foi destaque no programa Entretanto, da Rádio Sputnik Brasil, que reuniu especialistas para avaliar os desdobramentos da cúpula.

De acordo com os analistas ouvidos pela Sputnik Brasil, a reunião representou uma vitória política para Putin, que buscava há muito tempo o reconhecimento do peso estratégico da Rússia nas negociações internacionais. Ao mesmo tempo, o encontro pode abrir espaço para que Trump compreenda a dimensão das derrotas militares da Ucrânia e reavalie as exigências de Kiev no conflito.

Putin e o reconhecimento geopolítico da Rússia

O cientista político André Lucena destacou que a realização da cúpula, por si só, já marca uma conquista significativa para Moscou.

 “Diria que a simples realização dessa cúpula já mostra que ele [Putin] conseguiu algo que almeja há muito tempo, que é um reconhecimento ocidental do peso geopolítico estratégico da Rússia. Em outros termos, o Putin está sentado na mesa de negociação, colocando a Rússia como um ator político importante”, afirmou Lucena.

Apesar disso, o especialista questiona se Trump pode ser considerado um aliado confiável, lembrando as contradições do presidente norte-americano em relação a líderes estrangeiros:

 “Seria o Trump um aliado confiável? Ele já repreendeu [Vladimir] Zelensky há muito tempo, ele já elogiou e repreendeu Putin. Ou seja, essa contradição do Trump faz com que o interlocutor dele — neste momento a gente está falando do Putin — possa não ter tanta fé na própria palavra que Trump manifesta. E eu acho que isso põe o próprio Putin em posição de poder.”

Ucrânia e as exigências irrealistas no conflito

O analista geopolítico Rafael Machado foi direto ao apontar que as demandas da Ucrânia não condizem com a realidade militar.

 “Quando o Trump entender o que realmente está acontecendo e que, por exemplo, para cada baixa russa há dez baixas ucranianas, só aí que ele vai entender como as demandas ucranianas não são demandas realistas. E que, óbvio, mesmo que ambos os lados tenham que ceder alguma coisa, a Ucrânia vai ter que ceder muito mais do que a Federação da Rússia, porque a Rússia está em plena e ampla vantagem em relação à Ucrânia nesse conflito.”

Segundo Machado, o encontro também deveria incluir discussões sobre as sanções impostas durante o governo do democrata Joe Biden. Ainda que os Estados Unidos possam flexibilizar algumas restrições, a Rússia terá de lidar com a hostilidade da União Europeia.

 “Existe um fator ideológico nessa insistência da União Europeia em uma beligerância em relação à Rússia que vai muito além de meros interesses materiais. […] Ao decidir seguir o próprio caminho e não aceitar esse expansionismo ocidental, esse imperialismo que é também o imperialismo cultural do Ocidente, a Rússia acaba sendo efetivamente odiada.”

Rússia em posição confortável no tabuleiro diplomático

Embora não tenha havido acordo sobre um cessar-fogo, Lucena reforçou que, nesse triângulo entre Estados Unidos, Ucrânia e Rússia, Moscou é o ator que menos precisa se preocupar com o fator tempo.

 “Uma Ucrânia em desespero, um Donald Trump apressado e uma Rússia em uma relativamente confortável posição de espera. E se a gente põe esse triângulo em cima de uma mesa, existe alguém que tem necessidades para ontem e existe um outro lado que não tem uma necessidade tão apressada assim. Isso, qualquer que seja o resultado dessa negociação, de saída, põe uma vantagem sobre quem o cronômetro não gira tão rápido.”

O encontro no Alasca, portanto, pode não ter encerrado o conflito, mas sinalizou uma mudança no equilíbrio diplomático e militar. Para os analistas, a Rússia sai fortalecida ao se afirmar como peça-chave nas negociações, enquanto Trump terá de lidar com pressões para reconhecer a realidade da guerra na Ucrânia.

FOTO: Sputnik / Sergey Bobylev

FONTE

https://www.brasil247.com/mundo/analise-cupula-e-vitoria-clara-e-decisiva-para-putin